O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou quinta-feira, num evento em Brasília, que os esquerdistas não merecem ser tratados como “pessoas normais”, e pediu “a Deus” que “abra a mente de quem” apoia a esquerda política.

“Quis o povo me eleger para governar aqueles que no passado colocaram o país na dificuldade que se encontra. (…) Peço a Deus que continue a abençoar o nosso Brasil, abra a mente de quem está do lado da esquerda. Essa maldita esquerda que não deu certo em lugar nenhum, e que alguns teimam que volte ao poder. Agradeço a Deus pelo milagre da eleição”, disse o chefe de Estado.

No seu discurso numa cerimónia sobre a mudança no comando da Operação Acolhida, programa do Governo do Brasil destinado ao apoio a migrantes venezuelanos, Bolsonaro apelou a que os brasileiros não voltem a colocar partidos de esquerda no poder.

“Não dê oportunidade para essa esquerda. Eles não merecem ser tratados como se fossem pessoas normais, como se quisessem o bem do Brasil, isso é mentira. Não podemos em 2022 [ano das próximas eleições presidenciais] chegar na situação a que chegou a Argentina no corrente ano, ou como está o Chile, que está a caminhar para o caos, o socialismo”, acrescentou Bolsonaro.

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Para uma plateia composta por militares, membros do Governo e migrantes venezuelanos, o mandatário declarou aos cidadãos do país vizinho que se fosse Fernando Haddad, o seu concorrente às presidenciais de 2018 pelo Partidos dos Trabalhadores (esquerda), a estar no poder, que eles não teriam apoio garantido no Brasil, como acontece agora, através da Operação Acolhida.

“Se o Haddad estivesse aqui, vocês [venezuelanos] não estariam aqui. Ele estaria lá com o [Nicolás] Maduro. Então, o que mais temos de sagrado é a nossa liberdade, a democracia, temos que zelar e lutar por ela todos os dias. Caso contrário, podemos entrar na situação da Venezuela”, advertiu Jair Bolsonaro.

Durante o discurso, o Presidente aproveitou ainda para se dirigir aos jornalistas presentes na cerimónia para criticar a cobertura que a imprensa faz do atual Executivo.

“Ganhem vergonha na cara (…) A nossa imprensa tem medo da verdade, deturpa o tempo todo. Quando não conseguem deturpar, mentem descaradamente. (…) Deixem o nosso Governo em paz para poder levar paz, tranquilidade e harmonia ao nosso povo”, criticou mais uma vez Bolsonaro, que frequentemente lança ataques aos profissionais do jornalismo.

Na cerimónia, além de ter sido transferido o comando da Operação Acolhida para o general de brigada Antônio Manoel de Barros, em substituição do general Eduardo Pazuello, que assume agora o Comando Militar da Amazónia, o Governo brasileiro anunciou ainda o lançamento de uma plataforma ‘online’ para receber doações privadas destinadas ao acolhimento de venezuelanos.

O fundo, que será gerido pela Fundação Banco do Brasil, receberá doações que terão como destino prioritário a “assistência de emergência”.

Para garantir o atendimento humanitário aos migrantes venezuelanos em Roraima, principal porta de entrada da Venezuela no Brasil, o Governo federal criou, em 2018, a Operação Acolhida, com o apoio de agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e de mais de 100 entidades da sociedade civil.

Desde o início da crise migratória, o executivo brasileiro estima que mais de 264 mil venezuelanos entraram e permaneceram no Brasil.

A Operação Acolhida está organizada em três eixos, sendo eles o ordenamento da fronteira, em que é efetuada a documentação, vacinação e a operação de controlo por parte do Exército brasileiro; o acolhimento, com oferta de abrigo, alimentação e cuidados de saúde.

Por último, a interiorização, que consiste no deslocamento voluntário de venezuelanos de Roraima para outros estados, com objetivo de inclusão socioeconómica, de acordo com o Governo.

Mais de quatro mil militares participaram na missão, desde o seu início.

Segundo dados da operação, mais de 889 mil atendimentos foram realizados na fronteira brasileira, cerca de 27 mil venezuelanos passaram pelo processo de interiorização e mais de 388 mil doses de vacinas foram administradas.

Mais de quatro milhões de venezuelanos deixaram a Venezuela devido à crise económica, política e social nos últimos anos, sendo a Colômbia, onde se refugiaram mais de 1,4 milhões de migrantes, o principal destino deste êxodo.

A chegada em massa de venezuelanos ao Brasil começou no final de 2017, sendo um dos cinco países mais procurados por aqueles migrantes.