A fabricante de jóias De Grisogono, detida parcialmente por Sindika Dokolo, marido da empresária Isabel dos Santos, anunciou esta quarta-feira que entrou em falência, depois de não ter conseguido encontrar um comprador e perante a acumulação de dívidas.
De acordo com a imprensa suíça, a decisão será anunciada hoje aos 65 trabalhadores na fábrica de Plan-les-Ouates, na Suíça, e surge na sequência da divulgação, por um consórcio internacional de jornalistas, da utilização de dinheiro público angolano nesta joalharia.
Na semana passada, em entrevista à agência Lusa, o Procurador-Geral de Angola, Hélder Pitta Grós, admitiu que entre os processos em investigação está o financiamento com dinheiros públicos da empresa pública de diamantes, Sodiam (200 milhões de dólares, 180 milhões de euros] para a compra da joalharia De Grisogono.
No despacho-sentença que determinou o arresto de bens de Isabel dos Santos, divulgado no final do ano passado, é dito que em audiência de produção de prova, ouvidas as testemunhas, resultou provado, entre outros factos, que, em agosto de 2010, o executivo angolano, chefiado então por José Eduardo dos Santos, decidiu comercializar diamantes angolanos no exterior do país.
Ficou também provado que “o antigo Presidente da República decidiu investir numa empresa suíça — De Grisogono/Joalharia de Luxo — que se encontrava em falência técnica em virtude de uma dívida para com os bancos UBS-Banco Cantonale de Genebra e BCV”.
Segundo a providência cautelar de arresto, ficou igualmente provado que José Eduardo dos Santos decidiu comprar a dívida da sociedade De Grisogono/Joalharia de Luxo junto dos bancos e “oferecer o negócio a Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, sua filha e genro”.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no dia de 19 de janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de Luanda Leaks, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
Na passada quarta-feira, a Procuradoria-Geral da República angolana anunciou que Isabel dos Santos tinha sido constituída arguida num processo em que é acusada de má gestão e desvio de fundos da companhia petrolífera estatal Sonangol e que visa também portugueses alegadamente facilitadores dos negócios da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
De acordo com a investigação do consórcio, do qual fazem parte o Expresso e a SIC, Isabel dos Santos terá montado um esquema de ocultação que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para uma empresa sediada no Dubai e que tinha como única acionista declarada Paula Oliveira.
A investigação revela ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no EuroBic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera angolana.
O EuroBic já anunciou que a empresária vai abandonar a estrutura acionista, o mesmo acontecendo na Efacec e já depois de os três membros não executivos do conselho de administração da NOS ligados a Isabel dos Santos terem anunciado a sua saída da operadora de telecomunicações.
Há uma semana, a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) anunciou o corte de relações com as empresas controladas por Isabel dos Santos, enquanto a Sonae disse estar a acompanhar a situação com preocupação, devido à alusão à NOS, controlada pela ZOPT, da qual é acionista, tal como Isabel dos Santos.
A empresária angolana já refutou o que descreveu como “alegações infundadas e falsas afirmações” e anunciou que vai avançar com ações em tribunal contra o consórcio de jornalistas que divulgou a investigação Luanda Leaks. Além disso, Isabel dos Santos reafirmou que os investimentos que fez em Portugal tiveram uma origem lícita.
EuroBic emprestou nove milhões de euros à empresa de diamantes
Segundo a edição desta quarta-feira do Correio da Manhã, o banco EuroBic — do qual Isabel dos Santos já anunciou a saída — emprestou à Euro Atlantic Asset Management, empresa do marido da empresária, nove milhões de euros, em 2013. O dinheiro tinha como objetivo desenvolver a atividade da empresa em França, como distribuidora das joias de luxo da De Grisogono. O crédito estará em cumprimento e foi aprovado pela administração do então BIC, em 2013.
O jornal indica mesmo que a sentença de arresto dos bens a Isabel dos Santos em Angola refere que a empresa de diamantes é, aliás, controlada por Isabel dos Santos e Sindika Dokolo.