Desde que Erich von Däniken publicou Chariots of the Gods?, muita coisa mudou. A teoria que apresentou pela primeira vez no livro de 1968 — que os extraterrestres visitaram a Terra há milhares de anos e que influenciaram as civilizações antigas –, é hoje largamente conhecida, em grande parte devido ao programa “Alienígenas”, que a deu a conhecer a milhares de espectadores no mundo inteiro. A produção do canal História deu os primeiros passos há nove anos, conta já com dois mil episódios e nenhuma intenção de acabar. Da mesma forma, von Däniken, que há mais de 50 anos trabalha no sentido de divulgar a sua teoria dos “antigos astronautas”, não pretende desistir.
Esta semana vai estar pela primeira vez em Lisboa para uma conferência no Cinema São Jorge que diz que será focada no profeta Ezequiel, um dos humanos que acredita ter tido contacto com seres extraterrestres. Se encontrar vozes críticas, não irá fugir delas, pois sabe que terá sempre melhores argumentos. “Adoro discutir com os críticos, porque perdem sempre”, garantiu ao Observador.
Erich von Däniken defende que foi o contacto com os extraterrestres que deu origem às diferentes religiões e que os resquícios desse encontro podem ser encontrados nos textos sagrados e nos sítios arqueológicos — uma teoria que começou a explorar quando frequentava uma escola de jesuítas no norte da Suíça, onde nasceu, em 1935, e que abordou nos seus livros, nomeadamente em Os Deus Eram Astronautas. Evidências das verdadeiras identidades dos velhos “deuses” (publicado pela editora brasileira Madras e comercializado em Portugal pela Zéfiro), que assinará durante a sessão deste sábado, organizada pela produtora Zerkalo Pictures, que incluirá também a exibição, pela segunda vez em Portugal, do documentário “Chariots of the Gods”.
Apesar disso, o suíço nunca deixou de acreditar em Deus ou até mesmo de rezar. Na sua opinião, não existe qualquer incompatibilidade entre uma e outra coisa, porque são diferentes. “Quando lidamos com extraterrestres, não perdemos o Deus todo poderoso da criação. Não perdemos isso”, afirmou durante a entrevista concedida esta semana por telefone ao Observador. “Não sei o que é Deus é, não tenho uma definição, mas sei, humildemente, que Deus existe.”
É também humildemente que von Däniken aguarda o regresso dos “velhos ‘deuses’”, que prometeram que um dia voltariam e que, de acordo com o suíço, estão neste momento a observar-nos. O regresso só acontecerá quando os humanos estiverem preparados para os receberem: “Pensamos que somos os maiores, que não existe nada maior do que nós próprios. Isso tem de mudar. Temos de nos tornar mais humildes e aprender que somos apenas uma entre muitas formas de inteligência neste universo”.
[O teaser do evento com Erich von Däniken, no Cinema São Jorge, em Lisboa:]
Num dos seus livros, Os Deus Eram Astronautas, que está disponível em Portugal, começa por contar um episódio que aconteceu quando estava na escola, na aula de educação religiosa. O seu professor contou a história da queda de Lúcifer, que lhe levantou algumas dúvidas. Foi nesta altura que começou a questionar o que lhe tinha sido ensinado sobre a Bíblia e sobre Deus?
Sim. Tinha seis anos quando entrei para uma escola católica dirigida por jesuítas, [em Schaffhausen,] na Suíça. Claro que, quando era pequeno, acreditava em Deus. Agora, que estou velho, continuo a acreditar piamente. Mas [para mim,] Deus tinha de ter algumas características. Por exemplo, Deus não pode cometer erros, sabe o futuro, não conhece o tempo, não precisa de um veículo para se mover do ponto A para o ponto B, está em todo o lado. Ao traduzir [nas aulas], [passagens da] Bíblia do latim para o alemão, percebi que o Deus da Bíblia não tem estas qualidades. O Deus da Bíblia desce dos céus entre fogo e fumo, de forma barulhenta, para a Montanha Sagrada, onde o profeta Ezequiel o descreve com asas, rodas, peças metálicas, etc. Fiquei com dúvidas em relação à minha educação religiosa e quis descobrir se todas as comunidades da antiguidade tinham histórias semelhantes às que nós [cristãos] tínhamos. Foi esse o início de Chariots of the Gods?.
Portanto, acredita em Deus, mas não no da Bíblia.
Sim. Veja uma coisa: os extraterrestres estiveram aqui há milhares de anos. Os nossos antepassados eram homens da Idade da Pedra, não conseguiam entender nada. Erradamente, acreditaram que eram deuses. Podemos perguntar: de onde vieram? De que planeta? Qual era o seu estado evolutivo? Quem é que os criou? [Independentemente das perguntas ou da linha de pensamento,] no final, vamos chegar à conclusão de que, no que diz respeito a qualquer religião, no início houve a criação, houve Deus. Nunca perdi o meu Deus.
Publicou Chariots of the Gods?, onde apresentou pela primeira vez esta teoria, há 52 anos. O livro foi recebido com duras críticas.
Claro, é normal. Não apresentei estas ideias de uma forma científica, mas a pensar no grande público. [Quando isso acontece,] não podemos esperar ser abraçados, elogiados. As críticas são normais na nossa sociedade, vivemos numa democracia. É assim que tem de ser.
O que é que costuma responder àqueles que criticam o seu trabalho?
Adoro discutir com os críticos, porque perdem sempre. Todos temos uma profissão, e eu sou muito bom na minha. Não sei nada sobre as profissões dos outros e tenho de aprender e ouvir [sobre elas], mas em relação à minha sei o que preciso de saber. Tenho 85 anos e, quando discuto com os críticos, sei sempre mais, tenho argumentos melhores. Quando alguém fala publicamente, um político ou um escritor, tem de aceitar que vai ser criticado. Há sempre um grupo de pessoas que o acha incrível, mas há outro que pensa “vá, ele é estúpido”. Isso é normal.
Sente que a forma como as suas teorias são recebidas mudou com o tempo? Agora é conhecido, sobretudo por causa do programa do canal História, “Alienígenas”. Quando lançou Chariots of the Gods?, as coisas eram muito diferentes.
Sim, claro. Desde então, publiquei 42 livros sobre o tema, que já venderam mais de 75 milhões de cópias. Muitas estações de televisão estão a produzir programas sobre o assunto.O programa “Alienígenas” já tem nove anos. Acabaram de produzir o episódio dois mil. Há uns anos, tínhamos os “Ficheiros Secretos”, agora temos os “Alienígenas na televisão”. E vai continuar.
Acha que as pessoas estão mais recetivas?
Não apenas as pessoas, mas também a comunidade científica. Há mais ou menos 50 anos, a CIA emitiu uma ordem mundial que dizia que tudo o que tinha a ver com extraterrestres, OVNIs, grupos de OVNIs ou pessoas que os tinham visto, tinha de ser ridicularizado. Os nossos jornalistas e cientistas costumam ser razoáveis, mas ninguém quer ser ridicularizado. Não é que não compreendessem o fenómeno, simplesmente tinham medo de escrever sobre ele porque temiam ser descredibilizados. A situação mudou. Muitos cientistas, no mundo inteiro, publicaram livros que são semelhantes aos meus e que apoiam as minhas ideias.
“Estou convencido que, em Fátima, não foi a Virgem Maria que se apresentou, mas extraterrestres”
Os Deuses Eram Astronautas é dedicado sobretudo à religião cristã, que já abordou noutras obras. No primeiro capítulo, fala sobre o sentido original das palavras da Bíblia e de como este foi alterado.
Nos textos antigos, encontramos palavras como “anjo”. Ensinaram-me que os anjos eram bons, que eram maravilhosos, que nos ajudavam, que ajudavam os humanos, etc. Mas, quando conhecemos os textos antigos, chegamos à conclusão de que alguns destes anjos não eram bons, que matavam pessoas, que destruam. Podemos ler isso no segundo “Livro dos Reis”, na Bíblia. [Aí] aprendemos que os anjos tiveram sexo com os humanos — são os chamados anjos caídos. Se mudarmos a palavra “anjo” para “extraterrestres” [então tudo faz sentido]. Aprendemos que alguns humanos foram levados para o Céu, que foram introduzidos a diversos saberes e que depois voltaram para a terra. Na Terra, estas pessoas, chamadas profetas, ensinaram os humanos. Não era o Céu [o lugar para onde foram levados], era uma nave espacial. Basta mudarmos a palavra “Céu” para “nave-mãe”. Muda completamente a leitura dos textos antigos.
Faz mais sentido assim?
Faz muito mais sentido. No passado, traduzimos todos estes textos de forma religiosa e psicológica. Isso era normal, não tínhamos outra alternativa. Os professores que traduziram estes textos antigos não sabiam nada sobre voar, naves espaciais e o espaço. A situação mudou, sabemos como as coisas aconteceram e temos uma perspetiva diferente.
Um outro capítulo de Os Deuses Eram Astronautas é dedicado às Aparições de Fátima, que diz ter sido um fenómeno extraterrestre.
Estudei aprofundadamente o caso, estudei o que todos os papas disseram sobre Fátima e nenhum papa disse o mesmo, todos disseram coisas diferentes. [Quando falaram sobre o que aconteceu,] não estavam a dizer a verdade. Estou convencido que, em Fátima, em 1917, não foi a Virgem Maria que se apresentou durante o chamado milagre do sol, foram extraterrestres.
Acha que continuam a tentar omitir o que verdadeiramente aconteceu em Fátima?
Não dizem a verdade, mistificam. Tenho a certeza que o Papa sabe que foram extraterrestres.
Alguma vez visitou o local das aparições? Sei que costuma viajar até aos lugares sobre os quais fala ou escreve.
Sim. Nunca estive em Lisboa, esta vai ser a primeira vez, mas estive no aeroporto e depois fui a Fátima. Foi há muito tempo. Tirei fotografias, rezei. Tive uma educação católica. Tinha uma catedral magnífica. Também estive em Lourdes, em França. Fiquei profundamente impressionado, era magnífica a fé das pessoas que lá estavam.
Acha que existe alguma uma incompatibilidade entre religião e teorias extraterrestres, como aquela que defende?
Não, acho que são absolutamente compatíveis. Quando lidamos com extraterrestres, não perdemos o Deus todo poderoso da criação. Não perdemos isso. Não sei o que é Deus é, não tenho uma definição, mas sei, humildemente, que Deus existe, o universo existe, nós existimos. Temos de ser humildes e aceitar que existe alguma coisa incrível que não conseguimos explicar e que chamamos Deus.
“Alguém nos está a ver, a aprender as nossas línguas, o nosso sistema político, religioso. Alguém nos está estudar”
Esta semana vai estar pela primeira vez em Lisboa, onde vai dar uma conferência no sábado, no Cinema São Jorge. O que é que podemos esperar desta sessão?
Vou dar a conferência e fazer uma sessão de autógrafos [do livro Os Deuses Eram Astronautas]. Durante a conferência, vou explicar a história do profeta Ezequiel. Vou mostrar imagens, animações feitas em computador e falar sobre o que sabemos sobre Ezequiel no passado, no presente e no futuro. É absolutamente fascinante. No final das minhas conferências, digo sempre ao público: “Senhores e senhoras, o que faço não tem nada a ver com uma nova religião ou seita. Não acreditem nessa história. Vou dar voltas na tumba se algum idiota pegar nisto e formar uma seita a partir daquilo que penso”. Então, costumam perguntar-me: “Porque é que faz aquilo que faz?”. Faço-o porque tenho a certeza que temos de repensar todas estas coisas. A nossa interpretação do passado está errada. Precisamos de uma nova interpretação no futuro.
Quando estes extraterrestres, há milhares de anos, deixaram o nosso planeta, prometeram a alguns humanos que haveriam de voltar no futuro. Esta promessa de regresso tornou-se parte integrante de qualquer cultura do mundo. Quando [o explorador espanhol] Francisco Pizarro foi pela primeira vez à América do Sul, ao atual Peru, os nativos acreditaram que era o deus há muito aguardado. Hernán Cortés, quando chegou à América Central, os nativos, incluindo Moctezuma [II, rei de Tenochtitlan, no atual México], acreditaram que era o deus há muito aguardado. Ou no Hawai. O explorador britânico James Cook esteve lá e os nativos acreditaram que era o deus há muito aguardado. Isso aconteceu com todas as culturas do mundo. Até hoje. Nós, os cristãos, acreditamos que, um dia, Jesus vai regressar. Os muçulmanos não acreditam que seja Jesus, mas sim Mahdi. Os judeus não acreditam em Jesus ou Mahdi, mas no Messias, que um dia vai regressar. Não interessa se olhamos para o passado ou para o presente — todas as culturas, todas as religiões, até aos dias de hoje, aguardam o regresso de alguém.
Do meu ponto de vista, são os extraterrestres que vão regressar, e é por isso que faço o trabalho que faço. Não devemos ficar chocados se os extraterrestres voltarem, devemos estar preparados. Eles não nos matar, não nos vão fazer mal. Devemos estar preparados para abrir as nossas mentes e dizer “ok, não estamos sozinhos no universo, existem outras formas de vida inteligente”.
Neste momento?
Sim, neste momento. No que diz respeito aos OVNIs, que eram ridicularizados quando se começou a falar neles, a situação mudou. Os pilotos dos caças norte-americanos filmaram OVNIs a 10 e 11 mil de metros de altitude e todas as filmagens são verdadeiras. Pouco a pouco, as coisas estão a mudar. Mas, se agora aparecessem OVNIs num grande estádio em Lisboa, a humanidade ficaria completamente chocada. Não estamos preparados para os extraterrestres.
Sabe, neste planeta, existem, basicamente, dois grupos de pessoas: um é composto por pessoas religiosas — não interessa de que religião –, às quais foi dito que Deus fez tudo, o universo, os planetas, as plantas, as árvores, mas que a coroa da sua criação fomos nós, os humanos; o outro grupo é composto por pessoas que acreditam na ciência, que explicam tudo com a evolução, a seleção, mas nós estamos no topo da cadeia evolutiva. Em ambos os casos, quer olhemos para os humanos como a coroa da criação ou como o topo da cadeia evolutiva, pensamos que somos os maiores, que não existe nada maior do que nós próprios. Isso tem de mudar. Temos de nos tornar mais humildes e aprender que somos apenas uma entre muitas formas de inteligência neste universo.
O evento “Eram os Deuses Astronautas?” acontece este sábado, 22 de fevereiro, no Cinema São Jorge. Os bilhetes custam dez euros e já estão à venda na bilheteira do cinema. Além da sessão de autógrafos, será ainda exibido o documentário “Chariots of the Gods”, baseado no livro homónimo de Erich von Däniken. Mais informações aqui