Teria existido Michael Jordan sem Scottie Pippen? Teria mas não era a mesma coisa. Vá, de forma menos positiva e romântica, podia não ter sido a mesma coisa. Porque se é verdade que o primeiro foi um dos melhores jogadores de sempre da NBA, o segundo esteve a seu lado em todos os seis anéis de campeão conquistados. E até o ultrapassou em algumas marcas. Exemplos? É considerado um dos melhores defesas de sempre da NBA, foi o único jogador a ser campeão americano e olímpico em duas ocasiões (1992 e 1996), chegou de forma consecutiva 16 vezes ao playoff e tem o recorde de mais vitórias conseguidas nos primeiros 1.000 jogos realizados (715).

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Ainda assim, e numa frase retirada já do aguardado documentário “Last Dance” que chegará nos próximos dias à Netflix, que conta em dez episódios a carreira dessa mítica equipa dos Chicago Bulls na década de 90 com imagens inéditas do último título conquistado em 1998, Scottie Pippen não tem dúvidas: “Fomos a maior equipa de sempre. Era a equipa dele”. E o ele, claro, é Michael Jordan. Mas a equipa era mais do que isso, também por Pippen. Produto ou resultado, causa ou consequência, o extremo de “pernas fininhas” ajudou e muito a marcar uma era.

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Oitava escolha do draft de 1987 pelos Chicago Bulls, Pippen foi um dos principais elementos na célebre formação dos Bulls comandada por Phil Jackson, não só pela impressionante capacidade defensiva que dava consistência à equipa mas também pelas médias de 20 pontos, sete ressaltos e seis assistências que teve nos seis anos de título. Em 1998, num ano marcado pelo lockdown que encurtou a temporada, foi trocado para os Houston Rockets, passou no ano seguinte para os Portland Trail Blazers e acabou a carreira na NBA de novo nos Bulls, em 2003/04. Na NBA mas não no basquetebol porque mais tarde, e de acordo com algumas pessoas próximas por motivações financeiras, ainda jogou nos finlandeses do Torpan Pojat e nos suecos do Sundsvall Dragons em 2008.

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Michael Jordan e Phil Jackson foram dois dos pilares fundamentais para o êxito dos Chicago Bulls, a par de Scottie Pippen (Foto: Getty Images)

Esse acabou por ser um dos grandes problemas do extremo após o final da carreira: os investimentos financeiros. Ou melhor, os maus investimentos financeiros. Exemplo prático: chegou a comprar um pequeno avião por quatro milhões de dólares mas teve de investir mais um milhão porque não funcionava e o número de viagens que fez com o mesmo nunca compensou. A isso juntou-se ainda um “golpe” do então responsável financeiro do jogador, Robert Lunn, que começou a ser investigado e foi mais tarde condenado, como contou o Washington Post, por lavagem de dinheiro e falsificação de documentos – e só aí perdeu cerca de 20 milhões de dólares pelo meio.

Ainda assim, e ao contrário do que chegou a ser veiculado por alguma imprensa, nunca chegou à bancarrota como aconteceu com outros companheiros de equipa como o também campeão olímpico Christian Laettner, que teve de assinar um acordo com garantias após vários investimentos falhados. No entanto, aquele que foi alvo de diversas homenagens em Chicago pelo Bulls, fosse pela retirada do seu antigo número 33, fosse pela estátua de bronze junto ao pavilhão, Pippen está hoje sem um dos trabalhos que tinha na sua vida. E sem um dos trabalhos porque foi despedido… pelos Chicago Bulls, que tinha sido contratado em 2012 como conselheiro do dono da equipa.

Depois de mais uma época com jovens com grande potencial mas sem resultados práticos para conduzir a equipa a outros, os responsáveis dos Bulls (que nunca mais voltaram sequer a estar perto de lutar pelo título após o final da geração de ouro de Jordan, Pippen e companhia) começaram uma verdadeira reconstrução de toda a estrutura diretiva. Arturas Karnisovas, ex-jogador lituano que passou por Vilnius, Barcelona, Olympiacos e Bolonha mas que nunca chegou à NBA, foi contratado como vice-presidente executivo das operações. Primeira surpresa. Passo seguinte? Despedir Pippen de consultor e conselheiro externo da equipa. Que, afinal, foi o primeiro passo.

A revelação foi feita pelo próprio de forma quase inadvertida no podcast “Thuzio Live & Unfiltered”. “Portanto, foste seis vezes campeão da NBA, sete vezes All-Star, oito vezes eleito para a melhor defesa, nomeado um dos 50 melhores jogadores da NBA de todos os tempos, a tua camisola foi retirada e ainda és embaixador dos Bulls, certo?”, atiraram logo na abertura. “Era”, disse Pippen. “Não queria que isto se tornasse público mas sim, fui demitido este ano”, acrescentou o jogador que faz comentários na ESPN e que entra ainda num programa, “The Jump”. Até a data escolhida deixou o antigo jogador visivelmente amargurado, por ter acontecido no fim de semana do All-Star Game, este ano marcado pela homenagem a Kobe Bryant e em Chicago. “Mas se calhar até é uma coisa boa, não? Gosto que me associem sempre aos vencedores”, atirou.

E projetando já uma semana em que essa geração de ouro dos Chicago Bulls será muito falada, o que aconteceu com os outros membros dessas equipas campeãs? Alguns exemplos entre os mais conhecidos:

  • A grande estrela Michael Jordan, que ainda teria um último regresso em 2001 quando já era o diretor de operações dos Washington Wizards, é hoje o principal proprietário dos Charlotte Hornets e tem uma série de investimentos que lhe rendem milhões e milhões por ano, incluindo a sua própria marca;

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  • O extremo/poste Dennis Rodman, a versão mais rebelde dessa equipa dos Bulls, acabou a carreira entre México, Suécia e China, entrou em alguns filmes, foi lutador de luta livre, teve vários problemas com justiça, romances mediáticos com atrizes de Holywood mas acabou por destacar-se nos últimos tempos pela ligação privilegiada com o líder norte-coreano Kim Jong-un e com o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, tendo mesmo oferecido os seus serviços para mediar o conflito entre os países no ano passado;
  • O base Steve Kerr, que ainda juntou mais títulos nos San Antonio Spurs, foi comentador, ocupou o cargo de diretor de operações dos Phoenix Suns e é treinador dos Golden State Warriors desde 2014, tendo ganho mais três títulos de campeão entre uma participação cada vez mais ativa na vida cívica americana;
  • O base B.J. Armstrong chegou a fazer parte da estrutura diretiva dos Chicago Bulls, tornou-se depois comentador e hoje é representante de alguns jogadores como Derrick Rose;
  • O poste Stacey King, um dos nomes menos conhecidos da equipa, acabou por ficar mais conhecido como comentador televisivo, ganhando uma legião de tal formas grande que abriu com sucesso uma linha de roupa chamada 21King que explora os principais chavões e frases que criou enquanto comentador;
  • O extremo/poste Toni Kukoc, que ainda recentemente “reclamou” um lugar de maior destaque na história da NBA, deixou o basquetebol mas chegou a ser campeão nacional amador na Croácia;
  • O base John Paxson iria tornar-se adjunto de Phil Jackson no ano após deixar de jogar mas destacou-se sobretudo como dirigente nos Chicago Bulls, primeiro como diretor geral da equipa entre 2003 e 2009 e depois como vice-presidente das operações de basquetebol daí até este ano;

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  • O poste Luc Longley regressou à Austrália, onde é ainda hoje treinador adjunto da seleção. Viu a sua casa consumida por um fogo na totalidade, apesar de garantir que em termos de objetivos valiosos a única coisa que perdeu foi uma fotografia da equipa de 1996, e ajuda na luta pela conservação marinha;
  • O extremo/poste John Salley, também conhecido como “A Aranha”, tornou-se vegetariano, entrou em várias ações de associações pelos direitos dos animais, teve pequenos papéis em filmes e séries (como o “Bad Boys”) mas tem como principal negócio a indústria da marijuana, onde ganhou uma papel de destaque;
  • O poste Bill Cartwright foi treinador adjunto e principal dos Chicago Bulls, passou como adjunto por outras equipas da NBA, foi técnico da seleção mexicana mas afastou-se dos pavilhões há cinco anos;
  • O segundo base Craig Hodges fez também carreira com adjunto de algumas equipas incluindo os Lakers mas ficou sobretudo conhecido pelas suas posições políticas e pela defesa dos direitos dos afro-americanos como fez questão de manifestar numa visita à Casa Branca com George Bush pai;
  • O base Ron Harper, que seria ainda depois campeão pelos Lakers, chegou a ser treinador dos Detroit Pistons mas manteve sobretudo a sua luta pelos gagos através do apoio à Associação Nacional de Gagos;
  • O extremo/poste Horace Grant, que na altura tinha o irmão gémeo Harvey também a jogar da NBA, tem vários elementos da família ligados ao basquetebol, incluindo três sobrinhos (um na NBA, dois fora dos EUA);
  • O também extremo/poste Mark Randall foi olheiro dos Denver Nuggets durante três anos, tornou-se técnico adjunto numa temporada, passou a embaixador da equipa para a comunidade e ocupa hoje o cargo de Diretor Desportivo do distrito de Denver para as escolas públicas;
  • O segundo base Trent Tucker foi comentador, passou por uma rádio, criou uma Fundação e foi durante cinco anos Diretor Desportivo do distrito de Minneapolis para as escolas públicas;
  • O poste Jack Haley, que morreu em 2015 com 51 anos vítima de problemas cardíacos, foi treinador adjunto dos New Jersey Nets, comentados e também ator, tendo entrado num vídeoclip dos Aerosmith;