O setor dos esports agrega vários videojogos e, com ele, muito mais do que apenas jogadores, com cargos como treinadores, analistas, comunicadores e outras funções a apresentarem oportunidades para jovens portugueses num mercado em crescimento.
Com o setor competitivo a crescer e profissionalizar-se em todo o mundo, e a crescer cerca de 24% por ano na Europa desde há quatro anos, segundo um estudo da consultora Deloitte, apresentando, no continente europeu, receitas estimadas de 240 milhões de euros, a oferta de trabalho expande e diversifica-se.
Se na Europa já é comum os principais clubes terem centros desportivos com todo o tipo de profissionais de apoio, como um clube de futebol, em Portugal o caminho é mais lento, ainda que já exista uma ‘legião’ de profissionais, entre contratados, ‘freelancers’ ou voluntários, desdobrados em profissões que vão de treinadores a comunicadores, analistas ou produtores de eventos, entre outros cargos.
Para Pedro Andrade, um aveirense de 19 anos, a via competitiva não lhe passou sequer pela cabeça, entrando no setor há quatro anos, tempo em que já fez de tudo, de organização de torneios ao trabalho que faz hoje, na Offset, com “redes sociais, design e vídeo, criação de conteúdos e também na produção do ‘streaming'”.
O fascínio pelo design começou cedo, conta à Lusa, e também cumpriu um curso profissional de programação, trabalhando, no setor, com os Galactics ou a produtora Inygon, assumindo desde fevereiro funções nos Offset, sediados em Braga, com a pandemia de covid-19 a mudar-lhe os planos de uma mudança para a cidade, uma das ‘capitais’ dos desportos eletrónicos em Portugal.
Ainda assim, a “adaptação” chegou e os conteúdos têm sido produzidos ‘online’, até porque o trabalho de comunicação, defende, “tem de ser valorizado, e cada vez mais pessoas conseguem trabalhar neste setor”.
“Precisas de alguém por detrás para fazer de um jogador uma estrela. No futebol, há uma equipa de ‘marketing’, de fotografia, de vídeo, e aqui, numa escala muito mais reduzida, já começa a aparecer”, reforça.
Este trabalho permite “elevar o patamar das competições” e continuará a expandir-se “enquanto a área também crescer”, e embora atualmente em Portugal exista ainda “muito trabalho voluntário”, algumas organizações “vão tendo algumas pessoas a ‘part time’ ou ‘full time'”.
“Até onde der quero continuar a trabalhar nesta área. Não sei o futuro, mas enquanto me meter a comida na mesa, seja muito ou pouco, tenciono ficar aqui. (…) Prefiro trabalhar dentro deste meio, mesmo tendo uma ou outra dor de cabeça, é melhor do que estar inserido num meio comum”, atira.
Aos 26 anos, Sofia Andrade trabalha numa clínica em Lisboa, depois de ter estudado enfermagem em Castelo Branco, de onde é natural, mas está envolvida, em regime de voluntariado, com organizações de esports “desde os 12 ou 13 anos”, chegando ao que faz hoje em dia, como árbitra na Liga Portuguesa de League of Legends (LPLOL).
Trabalhou como administradora em League of Legends, Counter Strike ou FIFA, ingressando, depois, na Inygon, uma produtora de competições e eventos que lhe deu a oportunidade de trabalhar em regime ‘freelance’, antes de entrar na LPLOL onde já fez “várias coisas”, das redes sociais à criação de conteúdos.
Já se está “muito habituado em desportos normais” ao papel de um árbitro, embora aqui Sofia tenha também responsabilidades relacionadas com a “gestão do jogo ao vivo”, da emissão a um papel regulamentar e de logística.
Por seu lado, Ana Martins descobriu o League of Legends há mais de seis anos, quando começou a “vibrar muito” com o Europeu do videojogo, e foi acompanhando “o que se passava na Europa, mais do que em Portugal”.
Atualmente, além de dinamizar o ‘podcast’ Call of Legends, “uma série de entrevistas para perceber os vários pontos de vista sobre o cenário português”, trabalha como ‘manager’ de uma equipa britânica.
“Candidatei-me a uma vaga para ser ‘manager’ dos Enclave, uma organização que neste momento está na segunda divisão inglesa. Acabei por ficar”, conta a licenciada em Som e Imagem, na Universidade Católica do Porto, e funcionária de uma loja e editora de banda desenhada, em Lisboa, cidade em que também fez “uma pós-graduação em escrita e edição de texto”.
Também a trabalhar com uma equipa estrangeira está Simão Oliveira, de 23 anos, atualmente treinador adjunto na BIG, equipa de Berlim, para quem trabalha a ‘full time’ após vários anos de ‘saltos’ entre formações internacionais, do Schalke 04 ao Paris Saint-Germain ou os SuperMassive.
“Como já estou nos esports há cerca de cinco anos, tenho visto que as coisas têm evoluído bastante, não tanto a nível nacional, mas lá fora. Neste momento, ganho o mesmo salário que um treinador principal ganhava há dois ou três anos atrás. Tem havido uma evolução das condições e uma profissionalização, sobretudo em mercados fortes, como a Alemanha e Espanha. Em Portugal menos, e sobretudo no League of Legends”, considera o também analista.
As funções que ocupa na área, que também incluem a de treinador principal, são comparáveis “com o futebol”, como o analista que se foca “mais em procurar detalhes do adversário e da própria equipa” ou um assistente que “dá uma segunda opinião na estratégia e serve de mediador”, reforça Oliveira, que estudou ‘marketing’ na Universidade do Minho.
Fora das equipas, há todo um ‘pelotão’ de trabalhadores do lado das produtoras e organizadoras de eventos e competições, de apresentadores, analistas, comentadores e outras funções habituais na área, ainda assim pouco associadas aos desportos eletrónicos.
Um desses exemplos é Marta Casaca, uma fisioterapeuta que, nos esports portugueses, trabalha como apresentadora em eventos gestora de análise em transmissões de jogos.
À Lusa, afirma que apesar de os eventos terem “uma progressão, sobretudo a nível de mais competições”, ainda há recursos que surgem de forma “muito esporádica para o ‘staff'”, muitas vezes a trabalhar em regime de ‘freelance’.