O ministro-presidente da Baviera, Markus Söder, admitiu esta segunda-feira temer que o jogo da Supertaça europeia de futebol, entre Bayern Munique e Sevilha, marcado para quinta-feira, em Budapeste, se torne uma fonte de contaminação de Covid-19. Críticas que surgiram no mesmo dia em que Rui Moreira ameaçou recorrer à justiça para reclamar os prejuízos causados pela decisão da UEFA de não realizar a final da Supertaça europeia de futebol no Porto — decisão justificada com a pandemia.
“Temos que ter muito cuidado para não correr o risco de ser uma espécie de Ischgl do futebol”, lançou o político alemão em entrevista a uma rádio da Baviera (B5), referindo-se à estância de esqui austríaca que se tornou, no último inverno, um grande foco europeu de contaminação do novo coronavírus.
A partida que opõe o vencedor da Liga dos Campeões, Bayern Munique, e o vencedor da Liga Europa, Sevilha, vai decorrer no estádio Puskas, com capacidade para 67.000 espetadores, e está a autorizada a presença de cerca de 20.000 fãs nas bancadas.
Markus Söder informou que os adeptos que quiserem seguir o colosso bávaro até Budapeste, que está classificada pelas autoridades germânicas como “zona de risco” por causa da pandemia, vão ter de ficar em quarentena quando regressarem à Alemanha.
Câmara do Porto ameaça UEFA com tribunal após cancelamento da Supertaça europeia na Invicta
Ao início do dia, o presidente da Câmara do Porto já havia reagido à realização do evento em Budapeste, ameaçando recorrer à justiça para reclamar os prejuízos causados pela decisão da UEFA de não disputar a final da Supertaça europeia de futebol na Invicta, acusando aquela instituição de “mentir”.
“Não podemos aceitar não haver contacto com a autarquia e depois que publicitem, no site deles, mentiras”, afirmou o independente na reunião do executivo desta segunda-feira, onde foi entregue aos vereadores da oposição uma missiva dirigida à UEFA.
O autarca explicou que a UEFA alegou que a final da Supertaça foi transferida para Budapeste por causa da pandemia, argumento que não o município não pode aceitar.
“Não nos dizem nada, romperam um acordo pré-contratual de um contrato que está em vigor e pior dizem que é por causa da pandemia. (…) Não me consta que em Budapeste não haja pandemia”, disse, lamentando “o desrespeito” com o que o processo foi conduzido.
Moreira recorda que o Porto não concorreu para receber a final da Volta a Portugal deste ano, por estar comprometido com as duas candidaturas que foram aceites pela UEFA: a final da Liga das Nações, realizada no ano passado, juntamente com a cidade de Guimarães, e a supertaça europeia deste ano.
E avisou: “em Géneve [na Suíça, país em que está a sede da UEFA] há tribunais”.
Na carta enviada à UEFA, distribuída aos vereadores, Moreira manifesta “surpresa e consternação” pelo facto de a câmara ter tomado conhecimento através da comunicação social de que o Comité Executivo da UEFA decidiu que o Porto já não seria o local de realização da Supertaça Europeia, agendada para o passado mês de agosto e que o jogo teria lugar na Hungria, devido à pandemia de covid-19.
Na missiva, a autarquia assinala que à data da decisão — 17 de junho — o Porto já não registava nenhum teste positivo desde 05 de junho, ou seja, cerca de 12 dias, situação que manteve durante mais de um mês.
“Julgamos assim incompreensível a decisão (…) nem admitimos que nos seja invocado ‘force majeure [força maior]’”, porque na verdade o evento irá decorrer numa outra cidade europeia, e porque um evento da UEFA, a fase final da Champions League, foi organizada em Portugal, numa cidade onde a incidência da covid-19 era maior que no Porto”, lê-se na carta esta segunda-feira conhecida.
Melhor seria, entende a autarquia, que a UEFA, tendo atribuído a fase final da Liga dos Campeões a Lisboa, dissesse que, por causa disso, optou por não realizar a final da Supertaça europeia no Porto.
Na missiva enviada a 16 de setembro, realça-se ainda que, além dos prejuízos decorrentes da alteração do evento ao nível da logística e infraestrutura já executadas para a realização do evento no Porto, resultam ainda prejuízos de imagem e reputação para a cidade e para o seu município, “na medida em que os adeptos, toda a comunidade futebolista, e também potenciais visitantes e organizadores de eventos presumirão que o Porto não é seguro por causa da pandemia de Covid-19”.
A autarquia salienta que não deixará de reclamar a reparação dos prejuízos causados por esta decisão, contudo, diz estar disponível para alcançar uma solução favorável a todos.
Os vereadores da CDU, PS e do PSD mostraram-se solidários com a posição assumida por Rui Moreira, tendo lamentado que a autarquia não tenha sido ouvida sobre esta matéria.
Ilda Figueiredo, vereadora da CDU, que levantou o tema, lamentou que tanto o Primeiro-Ministro e Presidente da República, que apoiaram a realização em Lisboa da Liga dos Campeões, não tenham tido a mesma atenção com o Porto, que foi vítima de uma “discriminação clara”.
Também o vereador do PSD, Álvaro Almeida, criticou a postura do poder central, que se repete “sobretudo quando está em causa algo em Lisboa”.
Pelo PS, Maria João Castro disse estar solidária com a decisão tomada pelo presidente da Câmara do Porto, considerando que “a cidade foi muito maltratada”.