O presidente executivo dos CTT considera que a queda do correio endereçado é um desafio de “todo o país”, já que a forma de financiamento público pelo preço “começa a ficar ameaçada”, defendendo a reinvenção da sua “própria natureza”.

Em declarações à Lusa, no âmbito do Dia Mundial dos Correios, que esta sexta-feira se comemora, João Bento apontou a queda do correio endereçado como um desafio não apenas da empresa, “mas de todo o país, pois a forma de financiamento do serviço público por via do preço começa a ficar ameaçada pela escassez da procura”.

Há, por isso, que reinventar a própria natureza do serviço público não só por essa razão, mas também porque as próprias falhas de mercado que ele visa suprir estão em mutação, por via da aceleração da digitalização”, prosseguiu o gestor.

Para João Bento “estes desafios não são de hoje e não podem deixar de estar presentes na aproximação da conclusão do contrato de concessão do Serviço Postal Universal [SPU]”. O contrato de prestação do Serviço Postal Universal dos CTT termina no final deste ano.

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O gestor recordou que a empresa pretende continuar a prestar o Serviço Postal Universal, “desde que se configure de forma sustentável, ou seja, desde de que as condições relativas aos níveis de serviço e à formação do preço possam ser revistas de forma a assegurar a sua sustentabilidade”.

Ora, alertou, isto “deixou de acontecer no atual contrato de concessão tornou-se insuportável com a queda abrupta do correio por força da pandemia”, afirmou, deixando críticas à posição do regulador Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom).

Todas as indicações que temos recebido e observado por parte do Governo apontam num sentido que parece genericamente convergente com as nossas expectativas mas, infelizmente, o mesmo não se observa quanto ao posicionamento da Anacom, que contraria a praxis europeia e se posiciona em oposição ao que se tem observado em todos os países com os quais nos deveríamos comparar, nomeadamente, por já terem atravessado processos de digitalização da economia há mais tempo”, explicou João Bento.

“Se o contrato tiver condições de sustentabilidade, se os níveis de qualidade exigidos forem exequíveis (por mais exigentes que sejam), algo que agora não acontece, se os mecanismos de formação dos preços assegurarem a sustentabilidade do serviço e estiverem protegidos de modificação discricionária, os CTT querem ser essa entidade e acreditamos que o seremos”, asseverou.

A resposta à aceleração da queda do correio é “um desafio de transformação do portefólio de negócios”, assumindo uma posição de liderança na transformação digital, em particular, por via do comércio eletrónico e do papel que os novos e mais ágeis modelos de logística, distribuição, pagamentos, impõem”, adiantou.

De facto, queremos transformar esse desafio numa oportunidade, pois a nossa vocação de entregar ‘coisas físicas’ complementa de forma única tudo o que está a acontecer em ternos de ‘coisas e serviços digitais'”, acrescentou.

Questionado sobre como vê o futuro das empresas do setor a médio prazo, João Bento salientou que “o arrefecimento da economia e o período de estado de emergência […] impôs a todos os operadores postais a necessidade de acelerar a transformação do seu modelo de negócio”.

As empresas de correio, apontou, “são mais do que empresas de correio, são cada vez mais operadores que diversificam o negócio, que cresceram para áreas adjacentes ou mesmo complementares, quer seja, por exemplo, o mercado de encomendas ou a banca de retalho”. Para João Bento, “é expectável” que as empresas de correios se tornem “diferentes, como os CTT têm vindo a tornar-se”.

Nos países em que a digitalização teve início mais cedo, verifica-se que “os operadores postais já dependem menos do que os CTT dos proveitos de correio” e “também já beneficiam mais do que os CTT do crescimento das suas linhas de negócio de ‘expresso e encomendas’, por via da explosão do comércio eletrónico”.

Resultará daqui que, para os poucos operadores globais existentes, haverá oportunidades de consolidação mas também se manterá inabalável a transformação e reforço da presença local dos operadores postais que, se se modernizarem e transformarem a tempo, mantendo-se com níveis de eficiência na distribuição last mile difíceis de bater”, considerou.

Para o presidente executivo dos CTT, a dinâmica de evolução do mercado “poderá ditar alguma consolidação regional, mas a tónica será a de manutenção e crescimento dos operadores globais, acompanhando o crescimento do mercado de ‘expresso e encomendas’, ao mesmo tempo que se assistirá ao reforço da importância dos operadores postais para distribuição local, exceto nas grandes economias em que poderá haver escala suficiente para consolidação por via de operadores globais”.

Já sobre qual a expectativa sobre a atividade do setor nos próximos seis meses, João Bento disse que “é a de uma recuperação gradual do correio, à boleia de alguma recuperação da economia”.

Espera também “um continuado crescimento do expresso”, impulsionado pelas iniciativas dos CTT de promoção do comércio eletrónico, como também “da continuada afirmação do banco CTT, enquanto banco preferido dos jovens e dos portugueses que mudam de banco”.