Com mais de nove horas de conferências a decorrer nos vários palcos, fazer uma lista dos nomes que se pretende ouvir na Web Summit é uma tarefa que exige tempo, concentração e muita pesquisa. Esta quinta-feira, o segundo dia do evento, não foi exceção. Apesar das muitas conferências a que assistimos, houve sete nomes que se destacaram.

Serena Williams mostrou outra faceta além do ténis, Blake Chandlee esclareceu algumas dúvidas sobre o TikTok nos Estados Unidos, Eric Yuan descreveu as dores e o crescimento do Zoom, Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, teve algo a dizer sobre o futuro (apesar de não gostar de demasiadas previsões), Nick Clegg falou sobre o Facebook, Aileen Lee trouxe unicórnios à conversa e Pedro Sanchez revelou os planos para uma Espanha empreendedora. Veja os nomes que marcaram o segundo dia da Web Summit.

Serena Williams abriu a porta à sua vida familiar: “São momentos que não vou recuperar”

Serena Williams não é só uma das maiores tenistas da atualidade. Na Web Summit mostrou outras facetas: a de mãe e a de empreendedora. Williams juntou forças com Jen Rubio, cofundadora e presidente da Away, para uma colaboração com a marca de acessórios de viagem. “Foi óbvio que a Serena era muito mais [do que uma tenista]. A Serena que conheci foi uma Serena que é mãe, empreendedora, investidora, etc. Todas estas camadas multifacetadas tornaram claro que queríamos trabalhar com ela”, explica Rubio.

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Antes da pandemia, Serena raramente parava em casa — afinal, “jogar ténis é viajar”. E que tipo de viajante é? Faz as malas cedo e tem um truque: “Tenho uma mala que mantenho sempre com roupa, com as coisas do ténis e tenho sempre essa mala preparada”, revela. Até porque gosta de organização.

A pandemia veio mudar essa dinâmica. “É a primeira vez que todo o mundo está a passar pelo mesmo problema ao mesmo tempo”, resume. Serena tem passado “muito tempo em casa”. E isso permitiu-lhe estar mais tempo com a família — em particular com a filha Alexis, nascida em 2017. “São momentos que não vou recuperar”. Quando a pandemia terminar já tem os planos mais ou menos traçados: sabe que quer ir para um “sítio perto” — provavelmente uma ilha na Florida.

Serena Lewis falou de como é ser mãe, empreendedora e investidora (além de um ícone do ténis)

Blake Chandlee, do TikTok, revelou que a “discussão diária” com os EUA ainda vai continuar

A pergunta foi direta e veio logo no início da conversa. Afinal, o que se passa com o TikTok nos Estados Unidos? Vai ser banido? “Temos sido muito claros que discordamos de algumas coisas que têm sido ditas sobre nós”, respondeu Blake Chandlee, vice-presidente do TikTok, acrescentando que há a vontade em “trabalhar com a administração [de Donald Trump]”. A mesma administração que quis proibir a aplicação por considerar que estava a ser usada para espiar e recolher dados dos utilizadores norte-americanos. A discussão com a presidência dos EUA tem sido “diária” e, garante, “vai continuar”.

A proteção dos dados dos utilizadores é uma das questões levantadas na discussão sobre a aplicação. Chandlee considera que a empresa tem “uma obrigação de proteger a comunidade”, o que implica “proteger os seus dados”. “E acho que estamos a fazer um ótimo trabalho”. Aliás, o vice do TikTok diz mesmo que quer que o TikTok seja “a empresa mais transparente dos EUA”.

7 respostas para entender a guerra de Trump ao TikTok (e o namoro milionário da Microsoft)

Para se reinventar e manter relevante, Blake Chandlee considera que o TikTok tem de ser “disruptivo todos os dias” — como era o Facebook de 2007. Sobre o Reels, considerado uma espécie de TikTok do Instagram, reconhece que tem “potencial de concorrência com o TikTok”, mas “vamos ver como corre”. “O Google+ fez o mesmo ao Facebook e não captou a mesma magia porque não percebia a parte social“.

Chandlee esteve acompanhado pelo fundador e presidente da VaynerMedia, Gary Vaynerchuk (a chinesa ByteDance, que desenvolveu o TikTok, contratou a VaynerMedia para reforçar o marketing nas redes sociais nos EUA). Vaynerchuk diz que “as redes sociais é onde está a atenção das pessoas”, daí que esteja “obcecado com a comunicação no TikTok“.

Chandlee é vice-presidente do TikTok

Como Eric Yuan explicou as dores e o crescimento do Zoom

Se há negócio que a pandemia de Covid-19 veio potenciar foram as famosas videochamadas através do Zoom — seja para o trabalho, para aulas ou para falar com amigos e família. E se no ano passado quase ninguém sabia que plataforma era esta, 2020 veio mudar tudo. Foi desta experiência que Eric Yuan, presidente do Zoom, falou esta quinta-feira no palco principal da Web Summit. A expectativa no início do ano era simples: “2020 ia ser muito semelhante a 2019”. Mas, com a pandemia, o uso da plataforma disparou. “Nunca imaginamos este tipo de crescimento”, confessa.

O crescimento quase de um dia para o outro deixou a equipa do Zoom “muito entusiasmada, porque foram muitos anos de trabalho árduo e o sonho estava a tornar-se realidade”, depois de “muitas rejeições” do projeto no início. “Tive de passar muito tempo a falar com clientes” e de conhecer o mercado porque “ninguém gosta de um produto que já existe”, refere.

Mas houve também o outro lado da moeda: a necessidade de “aprender e reagir muito rápido” ao que estava a acontecer e a importância de se adaptar. “Questionamos muito como é que se aguenta e se lida com este crescimento”, confessa Eric Yuan, que se mudou aos 27 anos para Silicon Valley — que prefere chamar de “Startup Valley” — para realizar o sonho de criar a sua própria empresa.

Todos os dias falamos sobre como é que os novos funcionários estão totalmente integrados. Também estamos a aprender, não é assim tão fácil”, acrescentou o diretor do Zoom.

A filosofia no Zoom, revela, é pensar diariamente sobre o que se pode fazer diferente no dia a seguir. Para quem está a pensar em criar um negócio, Eric Yuan tem um conselho: “Sejam pacientes e não pensem logo no sucesso. Construir um negócio sustentável é uma jornada longa. Aproveitem cada momento”.

Eric Yuan é cofundador e presidente do Zoom, plataforma que cresceu bastante com a pandemia

O cofundador do LinkedIn olhou para a bola de cristal e diz que o futuro vai ser assim

O mundo será diferente”. Com esta frase, Reid Hoffman não está a vaticinar a existência de carros voadores em 2030 ou do teletransporte em 2050. Mas antes a prever como será o planeta num mundo pós-Trump, com Biden na Casa Branca. A nova administração, considera o cofundador do LinkedIn, vai estar mais focada nos desenvolvimentos tecnológicos do que a anterior, assim como na resolução de problemas — nas vacinas, nos testes, no rastreio de contactos, nas terapêuticas. Também haverá, acredita, uma luta maior contra a desinformação.

A administração Biden vai voltar à ideia do sonho americano (…) E os empreendedores fazem parte do sonho americano”. Além disso, “também está interessada em curar as fraturas na sociedade norte-americana”.

Mas há previsões que Reid Hoffman não quer fazer — porque são “um erro”. O empresário argumenta que as startups devem “focar-se no que estão a construir”, por muito incerto que seja o futuro. “A vacina da Pfizer, por exemplo, vai exigir um transporte limitado e numa determinada escala. Prever em excesso que a 1 de março de 2021, por exemplo, todos vão estar vacinados e voltar à vida normal é um erro”, sublinha. “Não podemos prever, é incerto, temos de nos adaptar.”

Olhando para o presente, do mundo em pandemia, considera que há negócios para os quais a Covid-19 foi “uma oportunidade”. Como as empresas de “telesaúde” que se dedicam, por exemplo, a consultas online. “Não tenho de esperar na fila. É um exemplo de oportunidades que estão a surgir”.

Reid Hoffman diz que demasiadas previsões são “um erro

Nick Clegg, do Facebook, admitiu que “é preciso atualizar as regras da internet”

A versão curta da conversa com Nick Clegg? O vice-presidente do Facebook a discutir como é que os governos devem tratar empresas como o Facebook. Mas vamos à versão mais longa. Nick Clegg defendeu na Web Summit que “há um debate legítimo” em curso sobre a quantidade de informação que empresas como o Facebook podem deter e que controlo devem dar aos seus utilizadores. “No fundo, como é que se pode fazer mais com menos dados, que detêm por um período curto de tempo?”

Mas do debate deve passar-se à ação. E para Clegg essa ação deve passar por uma revisão da “Section 230” — ao abrigo da qual as grandes empresas tecnológicas não têm responsabilidade legal em relação ao que os utilizadores escrevem nas plataformas. “Temos de evoluir e a Section 230 tem de ser revisitada e adaptada. É preciso atualizar as regras da internet”.

Na visão de Nick Clegg, “o governo não deve legislar qual é o discurso legal que deve ser feito”, mas sim “dizer às empresas como o Facebook que têm o dever de mostrar que têm regras para garantir que os utilizadores estão seguros na plataforma, que têm de mostrar esses sistemas, que são transparentes e que podem ser escrutinados e que se eles falharem vai haver penalizações”.

Numa outra sessão, de perguntas e respostas com os espectadores, Nick Clegg focou-se mais no trabalho do Facebook em combater o discurso de ódio — um desafio, porque “não há um consenso global do discurso de ódio e é muito complicado fazer essa seleção”. Para resolver esse problema, referiu, o Facebook criou um conjunto de padrões e regras para esclarecer o discurso que não permite na plataforma. Atualmente, disse, a rede social, através da tecnologia, consegue detetar cerca de 95% do conteúdo ofensivo. Mas “nunca vamos chegar aos 100%”. No segundo trimestre do ano, o Facebook removeu 22,5 milhões de publicações de discurso de ódio e bloqueoumilhões de contas falsas”.

Nick Clegg, antigo vice-primeiro-ministro do Reino Unido e atual vice-presidente do Facebook para as relações públicas e comunicação

Aileen Lee explicou como porque escolheu unicórnios para ilustrar as empresas de mil milhões

Aileen Lee é fundadora e parceira da Cowboy Ventures e é também a investidora que deu o nome de “unicórnio” às empresas avaliadas em mais de mil milhões de dólares, um termo que nos dias de hoje o mundo do empreendedorismo tem lido várias vezes. Mas não se enganem, avisa-nos Aileen Lee: hoje em dia não é mais fácil uma empresa tornar-se num unicórnio. “Ainda é muito difícil, talvez até seja mais difícil”, destaca.

O termo criado pela investidora surgiu em 2013, com uma publicação no seu blog que partilhava algumas experiências e conhecimentos. Para se referir a este tipo de empresas, Aileen Lee sentia sempre a necessidade de utilizar frases muito longas. Até que um dia decidiu simplificar: “Tentei usar várias palavras para me referir a isto, até godzilla. Quando meti unicórnio achei tão mais fácil de ler”, revelou. Unicórnio porque, explica, é uma palavra “especial e mágica que torna tudo mais fácil”.

Questionada sobre o desafio da representatividade na tecnologia, Aileen Lee considera que, em termos de igualdade de género, há ainda “muito trabalho a fazer”. “Espero que a nova geração de empreendedores em vez de juntar um grupo de amigos da faculdade, tenha um grupo diverso”, reforçou. Para isso, acrescenta, deve haver um esforço para integrar minorias subrepresentadas”, como as mulheres. Mas não é só preciso contratá-las. “É preciso reter e motivar” esses trabalhadores.

Aileen Lee criou o termo unicórnio em 2013

Pedro Sanchez revelou que quer uma Espanha “totalmente empreendedora em 2030”

Ao final da tarde, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, trouxe uma mensagem para partilhar com os visitantes da Web Summit: “O objetivo do governo é transformar Espanha numa nação totalmente empreendedora em 2030“. O empreendedorismo, nas suas palavras, é um motor importante na criação de emprego.

Sanchez refere que há um princípio unânime necessário para que o objetivo de uma Espanha empreendedora seja possível: “Não deixar ninguém para trás”. “Foi por isso que nomeamos um alto comissário para a Nação Empreendedora Espanhola. Esta é uma posição inteiramente nova, cuja estratégia apresenta 50 iniciativas específicas destinadas a quatro objetivos principais”, revela o primeiro-ministro espanhol, enumerando de seguida os quatro objetivos: acelerar o crescimento dos investimentos em startups; fazer de Espanha um paraíso para talentos; promover a escalabilidade das empresas e investir num setor público empreendedor.

“Cada país está a lutar crises económicas e sociais por causa da Covid-19. Mais do que nunca, é necessário melhorar e consolidar as nossas infraestruturas”, refere Sanchez. Espanha é “um país que tem tanto de desafios como de potencial”.

Pedro Sanchez, primeiro-ministro de Espanha, também falou à Web Summit