Portugal subiu oito lugares em relação a 2019 no Índice de Desempenho das Alterações Climáticas e foi o terceiro país com maior subida em políticas climáticas, atrás da Suécia e da Nova Zelândia, foi esta segunda-feira divulgado.

O Índice de Desempenho em Alterações Climáticas 2021 (“Climate Change Performance Índex”, CCPI na sigla original) é uma análise comparada da proteção do clima em 57 países (mais a União Europeia), que representam 90% das emissões globais de gases com efeito de estufa, e é da responsabilidade de duas organizações internacionais, “Germanwatch” e “NewClimate Institute”.

Na lista deste ano, esta segunda-feira divulgada, que não reflete dados deste ano nem as consequências da pandemia de Covid-19, as duas organizações notam que nenhum dos países está num caminho compatível com os objetivos do Acordo de Paris, o acordo sobre o clima assinado por praticamente todos os países do mundo em dezembro de 2015.

No entanto salientam que as emissões de gases com efeito de estufa estão a diminuir em mais de metade dos países analisados. A União Europeia recebe uma classificação “alta” para a proteção climática, e dentro desta há sete países que também se destacam pela positiva, um deles Portugal, com outros cinco na categoria “muito baixa”, entre os quais a Hungria, a Polónia e a República Checa). Os Estados Unidos ficam no fim da lista dos países, atrás da Arábia Saudita.

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Na lista (que deixa vazios os três primeiros lugares), liderada pela Suécia, seguida pelo Reino Unido e pela Dinamarca, o bloco União Europeia passou de 22.º lugar no ano passado para 16.º este ano, e Portugal está no 17.º lugar (que é de facto o 14.º por não serem atribuídos os três primeiros lugares).

Há dois anos Portugal ocupou a mesma posição, mas no ano passado tinha subido, em parte pela seca, produção de eletricidade em centrais térmicas e incêndios, em 2017.

Na análise à classificação portuguesa, a associação ambientalista Zero, que faz parte da Rede Internacional de Ação Climática (que coopera na publicação do Índice), salienta a subida expressiva de Portugal mas avisa que as emissões per capita de gases com efeito de estufa “ainda estão a aumentar”, não havendo em contrapartida um grande aumento no uso de energias renováveis.

A Lei do Clima, incluindo uma proposta para acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis, bem como uma meta de redução de emissões em pelo menos 55% para 2030 em relação a 2005, que vai entrar em discussão e deverá ser votada durante 2021 vai ser um instrumento decisivo de ação climática para Portugal”, diz em comunicado o presidente da Zero, Francisco Ferreira.

No documento das organizações internacionais destaca-se também como positivo em Portugal as medidas fiscais verdes nas áreas das energias renováveis e transportes, políticas de eficiência energética no setor da indústria e a nova legislação no setor das florestas. Portugal é destacado também pela positiva quanto às relações internacionais, pelo compromisso em ser neutro em emissões de gases com efeito de estufa em 2050.

Em relação a Espanha, na classificação geral do Índice, Portugal está 24 lugares acima.

No grupo do G20 (19 maiores economias do mundo e a União Europeia) destacam-se pela positiva o Reino Unido, a Índia (em 10.º lugar) e o bloco da União Europeia, mas são mais os países com classificação muito baixa, como a Rússia (lugar 52), Coreia do Sul (53), Austrália (54), Canadá (58), Arábia Saudita (60) e Estados Unidos (61).

Do documento salienta-se também as grandes descidas no Índice de Espanha, Bélgica ou Grécia, e a presença nos 10 primeiros lugares de Marrocos, Chile e Índia, três países em desenvolvimento.

E o facto de nenhuma das grandes economias como Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita e Austrália, das que mais poluem, ter políticas climáticas úteis em vigor para reduzir a poluição por carbono.

Quando se completam cinco anos no próximo sábado sobre o Acordo de Paris os responsáveis pelo documento salientam que nenhum país (nem sequer a Suécia, que lidera a lista) tem metas compatíveis e que em termos mundiais as emissões de gases com efeito de estufa até aumentaram, embora tenham baixado em mais de metade dos países analisados.

Este foi o segundo ano consecutivo em que os Estados Unidos surgiram em último lugar.

O Índice, publicado anualmente desde 2005, avalia as emissões de gases com efeito de estufa, a energia renovável, o uso de energia e a política climática, e tem por base as estatísticas mais recentes da Agência Internacional de Energia, relativas a 2018 (último ano disponível) e uma avaliação de peritos.

Pretende pressionar política e socialmente os países que até agora não tomaram medidas ambiciosas de proteção climática.

Quercus realça subida de Portugal no Índice de Desempenho das Alterações Climáticas

A Quercus considerou positiva a subida de Portugal no índice de Desempenho das Alterações Climáticas esta segunda-feira divulgada, mas aponta a necessidade de implementação de medidas que têm sido escassas em alguns setores.

Em comunicado, a propósito da subida de oito lugares de Portugal em relação a 2019 no Índice de Desempenho das Alterações Climáticas divulgado esta segunda-feira, a Quercus considerou a subida positiva, mas chama a atenção para o que ainda precisa ser feito.

O Índice de Desempenho em Alterações Climáticas 2021 (“Climate Change Performance Índex”, CCPI na sigla original) é uma análise comparada da proteção do clima em 57 países (mais a União Europeia), que representam 90% das emissões globais de gases com efeito de estufa, e é da responsabilidade de duas organizações internacionais, “Germanwatch” e “NewClimate Institute”.

Esta segunda-feira, em comunicado, a Quercus refere a “política climática continua a ser o ponto forte” de Portugal, “enquanto do lado negativo pesam as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) ainda acima dos objetivos e o elevado consumo de energia”.

De acordo com a Quercus, o relatório esta segunda-feira publicado ilustra um cenário diversificado no que diz respeito à ação climática dos países europeus.

“Enquanto os países escandinavos, Portugal e a UE como um todo surgem bem classificados e com bons indicadores, três países – Hungria, Polónia e República Checa – destacam-se negativamente pelo seu “muito baixo” desempenho”, salienta a Quercus.

A associação observa que “o desempenho relativo à política climática de Portugal é amplamente notado e continua com um nível “elevado” (ocupa o 6.º lugar), mas nas outras categorias, a nota atribuída fica pelo “médio”, tendo-se registado poucas alterações relativamente ao ano anterior, das quais se destaca ainda assim a redução das emissões de GEE”.

A Quercus considera que “o Governo português mantém o empenho de tornar Portugal neutro em carbono até 2050 e as diretrizes e metas dos diversos planos nacionais apresentados à EU, mas sublinha que a implementação efetiva das medidas e os incentivos continuam a ser escassos, nomeadamente no setor residencial e no público.

“A recuperação económica e social que a presente crise exige constitui uma oportunidade de criar condições de resiliência e adaptabilidade futura às alterações climáticas, desde que seja corretamente orientada, monitorizada e sempre que possível com a participação ativa dos cidadãos”, é referido.

A Quercus considera ainda que com a presidência do Conselho da UE no início de 2021, e com as suas habilidades diplomáticas, Portugal pode fortalecer o seu papel de impulsionador da neutralidade de carbono.