O antigo ministro da Educação e Ciência Nuno Crato criticou esta terça-feira “as acusações irresponsáveis e falsas” do atual secretário de Estado da Educação, João Costa, que lhe atribuiu responsabilidades pelos maus resultados obtidos pelos alunos do 4.º ano a Matemática.

“Nunca, na história da nossa democracia, se assistira a um passa-culpas deste nível”, lamentou o ex-governante, que é também professor catedrático de Matemática, citado pela agência Lusa.

A reação de Nuno Crato surge na sequência de uma declaração do atual secretário de Estado Adjunto da Educação, que associou as políticas do Governo de PSD e CDS (2011-2015) à queda recente no desempenho dos alunos portugueses do 4º ano a matemática — revelada pelo estudo “Tendências Internacionais de Matemática e Ciência”, de 2019 e da Internacional Association for the Evaluation of Educational Achievement, dado a conhecer esta terça-feira.

“É esta equipa que tem conduzido a educação. Deveria refletir”

Nuno Crato considerou que “depois de quase uma década de melhorias contínuas que nos levaram, em 2015, aos melhores resultados internacionais de sempre, tanto no PISA como no TIMSS, esta é uma descida que exige ser muito seriamente analisada”.

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É lamentável que essa análise seja evitada e substituída por acusações irresponsáveis e falsas por parte desta equipa ministerial”, afirma Nuno Crato, numa declaração enviada à Lusa.

O antigo ministro da Educação defendeu ainda que “é esta equipa que tem conduzido desde 2016 a educação em Portugal e deveria refletir sobre as suas responsabilidades”.

Nuno Crato defende ainda: “A reversão do progresso comprovado em 2015 é, certamente, resultado de uma série de medidas entretanto adotadas. A avaliação externa no 4.º ano, que vinha desde 2001 com provas de aferição e depois com provas finais em 2014, foi abolida e não foi substituída por nenhuma forma de avaliação externa. A obrigatoriedade de mais horas em Matemática e em Português e da frequência do apoio ao estudo também foi eliminada”.

Crato critica falta de avaliação e ‘flexibilidade curricular’: “É preciso tirar ilações”

O secretário de Estado Adjunto da Educação do atual Governo, João Costa, dissera numa primeira reação aos resultados do estudo: “Não temos [neste estudo] alunos globalmente afetados pela política educativa que temos vindo a desenvolver. Esta é uma geração inteiramente de metas curriculares.”

As metas curriculares foram introduzidas em 2012 pelo então ministro da Educação Nuno Crato e foram muito contestadas dentro e fora das salas de aula pela sua extensão e inadequação à idade das crianças, segundo os críticos. Viriam a ser revogadas e substituídas pelas chamadas aprendizagens essenciais, criadas pelo Governo de António Costa, na anterior legislatura.

João Costa elogiara também, no entanto, os resultados genericamente obtidos pelas políticas educativas ao longo dos últimos anos: “Apesar de algumas oscilações, temos razões para dizer, independentemente dos governos, que as coisas têm corrido bem”.

Sobre as metas curriculares que o atual secretário de Estado associou aos maus resultados, apontou Nuno Crato: “As metas curriculares, que estavam em vigor em 2015 e pelas quais foram preparados os alunos então avaliados, não sofreram alterações. O que mudou foi a avaliação, ou a falta dela, e foi a ‘flexibilidade curricular’ e a natureza vaga das ‘aprendizagens essenciais’ que aboliram as prioridades curriculares e geraram um discurso e prática de menor ambição, menosprezando as metas e reduzindo em muito o seu impacto positivo”, considera.

Os estudantes do 4.º que nos encheram de orgulho tinham feito todo o seu percurso escolar entre 2011 e 2015, numa cultura de exigência, de avaliação e de valorização do conhecimento. Os alunos avaliados pelo TIMSS em 2019 não tiveram esse percurso. É sobre isto que é preciso tirar lições“, apontou ainda Crato.

O ex-ministro da Educação disse ainda ter ficado “profundamente preocupado com a descida significativa a Matemática dos alunos de 4.º ano, nas avaliações do TIMSS de 2019. Não só com a descida, como também com o perverso aumento das desigualdades revelado”.