O ex-presidente executivo (CEO) da TAP recebeu os salários devidos até ao final deste ano após ter abandonado as funções em setembro. Antonoaldo Neves deixou o cargo depois de o Estado ter tomado o controlo acionista da companhia, mas foram-lhe pagos valores correspondentes aos vencimentos de outubro, novembro e dezembro, ao abrigo do acordo por ter cessado funções antes do termo do mandato, esclareceu ao Observador fonte oficial do conselho de administração da TAP.

No entanto, acrescenta a mesma fonte, o acordo celebrado com o antigo CEO que tinha sido escolhido por David Neeleman implicou que Antonoaldo Neves “tenha abdicado de qualquer indemnização fruto da cessação unilateral de funções antes do termo do referido contrato. Essa indemnização seria sempre superior ao valor destes três vencimentos”.

De acordo com informação pública, o gestor tinha um vencimento fixo de 45 mil euros brutos mensais, a que a acresciam 14 mil euros para cobrir despesas com habitação e com a educação dos filhos em Portugal (Antonoaldo Neves veio do Brasil). O total eram 59 mil euros brutos por mês. O Observador não conseguiu confirmar se o valor devido ao antigo gestor incluiu todas as rubricas, mas as remuneração referentes a outubro, novembro e dezembro foram entregues isentas dos cortes aplicados aos administradores da TAP durante o lay-off (30%) e que agora estão em vigor (5%). Até setembro – e enquanto esteve em funções –, a remuneração de Antonoaldo Neves foi sujeita aos cortes aplicados a toda a administração da TAP, acrescenta a mesma fonte.

O mandato de Antonoaldo Neves terminava no final deste ano e o gestor ter-se-á mostrado disponível para ficar nas funções durante esse período em que foi preparado o plano de reestruturação da TAP. Contudo, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, tornou logo claro que era sua intenção substituir o presidente executivo da empresa depois da saída do acionista David Neeleman. “Uma das condições [do acordo entre Estado e privados] é a substituição imediata do CEO. No imediato, o CEO terá de ser substituído”, afirmou depois do acordo que tornou o Estado o maior acionista da TAP ao pagar 55 milhões de euros pela saída do empresário americano.

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As relações entre os gestores privados da TAP e o Estado já eram tensas desde a polémica sobre os prémios pagos em 2019 a alguns colaboradores da empresa. E Pedro Nuno Santos nunca foi brando nas críticas à forma como a transportadora era gerida e aos maus resultados (prejuízos). A situação tornou-se ainda mais aguda com a ajuda à TAP depois de o Governo a recusar a proposta apresentada pela gestão e apresentar um pedido na Comissão Europeia ao abrigo do programa de resgate e reestruturação que, do ponto de vista dos privados, poderia ter sido evitado. O ponto de não retorno foi a ameaça de nacionalização da TAP que resultou na saída de David Neeleman do capital da empresa anunciada em julho.

Antonoaldo Neves saiu em setembro, e com o ministro a indicar que já deveria ter saído mais cedo. Na altura, foram noticiadas divergências sobre o montante que o gestor estava a reclamar e que corresponderia aos vencimentos até ao primeiro trimestre de 2021, período em que as empresas substituem as administrações em assembleia geral.

Administrador financeiro escolhido por Neeleman sai no final do ano

Já o administrador financeiro indicado por David Neeleman, Raffael Alves (que tinha vindo da Azul, companhia aérea de Neeleman), ficou até dezembro em funções, mas irá abandonar o cargo, confirmou ainda ao Observador fonte oficial do conselho de administração da TAP.

O Governo deu luz verde a um processo de consulta para recrutar o futuro presidente executivo da TAP no setor da aviação, sendo a direção da empresa assegurada por uma equipa de transição. Ramiro Sequeira foi o escolhido para liderar essa equipa executiva, o que correspondeu a um aumento do salário que recebia, e que ainda assim, garante o Executivo, ficou abaixo do montante pago a Antonoaldo Neves.

Governo diz que TAP não está a pagar mais aos seus gestores. Frasquilho abdicou do aumento salarial

Os aumentos salariais aplicados a dois gestores que entraram para a administração executiva da TAP, no contexto de um plano que prevê cortes salariais generalizados na empresa, foram noticiados esta semana, tendo dado origem a pedidos de explicação por parte dos partidos da oposição e a um esclarecimento do Executivo. O Ministério das Infraestruturas nega que a empresa esteja a pagar mais aos seus administradores e justifica os reforços com o aumento de responsabilidades associado aos novos cargos e acumulação das novas funções com as que já eram exercidas.

Já o presidente do conselho de administração, Miguel Frasquilho, comunicou ter abdicado da atualização salarial que foi aplicada pela acumulação dos cargos de presidente da TAP e da Portugália a partir de outubro.

Sobre a escolha da nova equipa da TAP, não há ainda nomes apontados. O único que foi referido na comunicação deu origem a um desmentido por parte do Ministério das Infraestruturas. Fontes do setor admitem que será um desafio encontrar profissionais qualificados para implementar um difícil plano de reestruturação, sobretudo quando existe um grande ruído à volta das remunerações da gestão da TAP.

É quase certo que o novo CEO irá ganhar mais do que Ramiro Sequeira, que recebe um valor bruto de 35 mil euros mensais, mais despesas para habitação. Quando Fernando Pinto foi escolhido para presidir à TAP no final do século passado, e também com recurso a uma empresa de recrutamento, passou a ser o gestor público mais bem remunerado em Portugal, tendo o seu salário sido alvo de várias polémicas ao longo dos anos.