Com um blazer, chapéu e gravata, Diane construiu um visual icónico. E já lá vão 50 anos desde que a jovem atriz fez dos palcos da Broadway a sua via de acesso à sétima arte. A perspicácia e o sarcasmo conquistaram Woody Allen. Contracenaram, namoraram e, por fim, o realizador desenhou uma protagonista à sua imagem e semelhança. “Annie Hall” abriu-lhe a porta ao primeiro e único Óscar, em 1978, e anunciava ao mundo o nascimento de uma musa. Allen soma hoje uma lista extensa, mas nenhuma como a primeira.

As escolhas de guarda-roupa ressaltam por entre as tendências dos anos 70. Em vez dos brilhos que povoaram as pistas de dança, apropriou-se de peças tradicionalmente masculinas e cunhou uma nova ideia de glamour. As tiradas de humor e os apontamentos de ironia formaram o pendant perfeito. Soma exatamente cinco décadas de carreira, quase sempre de olhos postos na comédia.

American Actress and Director Diane Keaton

Em 1987, no festival de Cannes, para apresentar “Heaven”, o seu primeiro filme como realizadora © Getty Images

Curiosamente, foi sempre nos estúdios de Hollywood que se apaixonou. Primeiro, Woody Allen. Mais tarde, Al Pacino. Já nos anos 80, Warren Beatty. Nunca casou, o que não a impediu de ser mãe. Em 1996, adotou Dexter, atualmente com 26 anos. Em 2001, a família cresceu com a adoção de Duke, hoje com 21 anos.

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Nos últimos anos, Keaton ganhou popularidade no Instagram. A rede social tornou-se uma extensão de informalidade que a caracteriza e, por isso, uma montra de variedades. Das dicas de styling às habilidades caninas, das recordações de infâncias a obras de arte, esta incursão pelas redes sociais depois dos 70 já lhe valeu mais de 1,8 milhões de seguidores e uma mão cheia de ótimas selfies.

A eterna Annie Hall

Diane Hall, nasceu a 5 de janeiro de 1946, em Los Angeles. Inspirada pelo ídolo Katharine Hepburn, começou a envolver-se em atividades de música e representação, ainda na escola. Terminados os estudos elementares, trocou a Costa Oeste por Manhattan em meados da década de 60. Os primeiros anos em Nova Iorque foram passados entre aulas de teatro e modestos números musicais em clubes noturnos. É quando muda o seu nome artístico para Diane Keaton, adotando um dos sobrenomes da mãe.

Der Pate

Com Al Pacino, no primeiro filme de “O Padrinho”, em 1972 © Getty Images

Em 1968, integra pela primeira vez um elenco da Broadway. “Hair” antecedeu “Play It Again, Sam”, espetáculo escrito, produzido e coprotagonizado por Woody Allen. A aventura valeu-lhe uma nomeação para o Tony. Em 1970, estreava-se estreava-se no cinema com a comédia romântica “Lovers and Other Strangers”. Mas a relação com Allen estava longe de se resumir ao espetáculo da Broadway. A atriz em iniciação (que chegou também a ser estrela de um anúncio a desodorizantes, na altura) e o realizador tornaram-se namorados, embora a tão almejada química tenha perdurado muito mais do que o título de casal, que não ficou pelo início dos anos 70. Durante cerca de dez anos, trabalharam frequentemente juntos, além de terem continuado amigos.

Em 1972, veste a pele de Kay Adams em “O Padrinho”, de Francis Ford Coppola. O papel transbordou para a sequela, dois anos depois, e atirou-a para os braços do seu par romântico, Al Pacino. Keaton partilhou mais tarde a vontade que tinha de dar o nó, mas o casamento não fazia parte dos planos do galã e a relação terminou.

Annie Hall

Com Woodie Allen, no filme de 1977 “Annie Hall” © Getty Images

Em 1977, “Annie Hall”, realizado por Woody Allen, eleva a fasquia para Keaton com uma protagonista inspirada na própria atriz que lhe deu vida, dos trejeitos ao nome, passando pelo guarda-roupa da personagem, do qual fizeram parte algumas peças de Diane. O filme teve reconhecimento imediato com quatro Óscares, o de Melhor Filme, o de Melhor Realizador, o de Melhor Argumento Original e o de Melhor Atriz, que a protagonista acumulou, nesse ano, com o Globo de Ouro e com o BAFTA.

O estilo de Diane Keaton

A imagem da atriz abriu-lhe caminho. Logo no início dos anos 70, Diane destacou-se entre as demais estrelas de Hollywood por roubar alguns dos clássicos masculinos. Camisas, fatos, blazers, gravatas, boinas e chapéus — tudo isto colado com um styling que inspirava liberdade e descontração. Em 1978, foi a primeira atriz a vestir uma criação de Giorgio Armani na passadeira vermelha dos Óscares. E a silhueta esteve longe das finas cinturas, dos brilhos ou das tonalidades noturnas que hoje se reconhecem à distância. Em vez disso, Keaton usou um casaco de corte masculino sobre uma camisa branca e com uma saia acima do tornozelo. Acessórios? Uma flor de tecido na lapela e um lenço.

50th Annual Academy Awards

Em 1978, quando ganhou o Óscar de Melhor Atriz © Getty Images

Diane atravessou as décadas a protagonizar escolhas surpreendentes como esta. O tuxedo acompanhou-a sempre, mas também o uso inesperado de pérolas, o chapéu de coco, as meias brancas conjugadas com sapatos de salto alto e as pequenas lentes. O gosto pela moda acompanha-a desde a infância. Numa das suas partilhas no Instagram, recordou os tempos em que escolhia tecidos de diferentes padrões para que fosse a mãe a costurar-lhe a roupa, bem como o velho hábito de acumular recortes de desfiles e produções numa espécie de moodboard pessoal.

Na prática, o resultado é um álbum coerente, apenas levemente tocado pelas tendências mais passageiras. Um estilo à prova de idade, que acentua a ideia de uma jovialidade espontânea, mesmo aos 75 anos (e sem cirurgia plástica). Na fotogaleria, reunimos algumas das imagens que mostram a evolução do estilo de Diane Keaton, ao longo dos últimos 50 anos.