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O mágico deixou cair a máscara e a equipa fez o truque do desaparecimento (a crónica do Sporting-Rio Ave)

Este artigo tem mais de 3 anos

Sporting foi para o intervalo a ganhar mas, como que por magia, não chegou a aparecer para a segunda parte. Rio Ave empatou em Alvalade no primeiro jogo em que Amorim foi treinador principal (1-1).

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O técnico leonino não contou com Nuno Mendes, Sporar, Luís Neto e Feddal

AFP via Getty Images

O técnico leonino não contou com Nuno Mendes, Sporar, Luís Neto e Feddal

AFP via Getty Images

A primeira vez que se ouviu falar do Rúben Amorim treinador, num capítulo posterior ao do Rúben Amorim jogador, foi no início de 2019. Ao comando do Casa Pia, ainda sem a formação necessária para poder dar indicações durante um jogo, fez exatamente isso durante uma partida: foi suspenso de toda a atividade durante um ano e o clube lisboeta perdeu seis pontos na classificação do Campeonato de Portugal. Recorreu e viu o Tribunal Arbitral do Desporto anular as duas penalizações. A decisão de se demitir, porém, já estava tomada.

Seguiu-se o Sp. Braga: primeiro os Sub-23, depois a equipa principal, na sequência do despedimento de Ricardo Sá Pinto. Nessa altura, quando se estreou na Primeira Liga, a discussão sobre o nível IV do curso de treinador que ainda não tinha voltou à ribalta. Desta vez, não por ter dado indicações durante o jogo, mas simplesmente por ser o técnico de um clube do principal escalão do futebol português que não podia falar nas flash interviews nem estar em pé durante uma partida.

Ficha de jogo

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Sporting-Rio Ave, 1-1

14.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Sporting: Adán, Eduardo Quaresma (Bruno Tabata, 73′), Coates, Borja, Pedro Porro, João Palhinha, João Mário, Gonzalo Plata (Jovane Cabral, 78′), Pedro Gonçalves, Nuno Santos, Tiago Tomás

Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, João Silva, Gonçalo Inácio, Antunes, Matheus Nunes, Daniel Bragança, Pedro Marques

Treinador: Rúben Amorim

Rio Ave: Kieszek, Ivo Pinto, Borevkovic, Aderllan Santos, Pedro Amaral (Gabrielzinho, 45′), Tarantini, Guga, Carlos Mané (Manuel Namora, 90+1′), Francisco Geraldes (Meshino, 71′), Fábio Coentrão, Gelson Dala (André Pereira, 90+3′)

Suplentes não utilizados: Magrão, Costinha, Pijnaker, Diogo Teixeira, Leandro

Treinador: Pedro Cunha

Golos: Pedro Gonçalves (42′), Gelson Dala (61′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gonzalo Plata (7′), a Pedro Amaral (15′), a João Mário (24′), a Fábio Coentrão (25′), a Gabrielzinho (69′), a Tarantini (69′), a Guga (83′), a Bruno Tabata (87′), a André Pereira (90+7′)

A polémica voltou a aparecer, novamente com uma subida de tom, quando Rúben Amorim assinou pelo Sporting, em março do ano passado. Não só por continuar ser ter o nível necessário para ser treinador principal de uma equipa, não só por estar agora ao leme de um “grande” do futebol português, mas também porque o Sp. Braga escolheu um nome que estava exatamente nas mesmas condições. Custódio, que só durou até ao início de julho, também não tinha as qualificações necessárias e tinha de ser representado pelo adjunto Micael Sequeira.

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Até esta sexta-feira. Esta semana, foi revelado que Rúben Amorim já está inscrito no nível IV do curso de treinadores da Federação Portuguesa de Futebol e que, por isso mesmo, já pode ser formalmente o técnico principal do Sporting, já pode dar indicações sem máscara durante os jogos e já não precisa de ser representado pelo adjunto Emanuel Ferro nas entrevistas rápidas. Algo que, segundo Amorim, não mudava “muito” a rotina. “Só muda é para o Emanuel, que muitas das vezes tem de fazer o transporte da mensagem. Agora, claro que prefiro ser eu a dar a cara. E não é justo quando somos eliminados de uma competição ser o Emanuel a dar a cara e não eu”, explicou o treinador na antevisão da receção ao Rio Ave em Alvalade, onde relativizou ainda as declarações do presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, que disse que Amorim devia continuar sem dar indicações porque “quem anda a tirar a carta de conduções não está apto para conduzir”.

“O Miguel Oliveira também não tem carta de condução e safa-se muito bem na sua vida. Eu só quero mesmo é ganhar ao Rio Ave”, atirou o treinador, recordando o exemplo do piloto de Moto GP, que compete profissionalmente e não tem a carta de condução. Ora, em dia de “estreia”, Rúben Amorim e o Sporting recebiam o Rio Ave numa sexta-feira em que, no melhor dos cenários, podiam ver os adversários diretos ficarem a seis pontos de distância. No Dragão, duas horas e meia depois do apito inicial em Alvalade, o FC Porto recebia o Benfica e os leões, em caso de vitória contra os vilacondenses, já sabiam que pelo menos um dos principais rivais iria perder pontos.

Antes, porém, era preciso vencer o Rio Ave. Um Rio Ave que tem vindo a fazer uma temporada abaixo do esperado, estando no início do jogo no 10.º lugar, mas contra quem o Sporting iria jogar sem Nuno Mendes, Luís Neto e Sporar, todos infetados com a Covid-19, e ainda Feddal, que viu o quinto amarelo na partida anterior. Assim, e tal como antecipou desde logo na conferência de imprensa, Rúben Amorim lançava Eduardo Quaresma (que se estreava na Liga esta época) e Borja ao lado de Coates no trio defensivo — e em detrimento de Gonçalo Inácio. Gonzalo Plata era o responsável pelo corredor esquerdo, tal como aconteceu contra o Marítimo para a Taça de Portugal, e Tiago Tomás era previsivelmente o elemento mais adiantado. Sem Sporar, o treinador leonino chamava ainda Pedro Marques, o avançado de 22 anos da formação, para a convocatória. E, numa pequena nota de reportagem, deixava o fato de treino de adjunto e assumia a roupa de civil de um técnico principal.

Em Alvalade, o onze vilacondense contava com quatro jogadores que já passaram pelos leões: Fábio Coentrão, Gelson Dala, Carlos Mané e Francisco Geraldes. O primeiro quarto de hora, que terminou sem qualquer oportunidade de golo, permitiu desde logo perceber o que Rúben Amorim tinha pedido a Pedro Gonçalves e Nuno Santos, os dois elementos que atuam no apoio mais direto ao avançado. Os dois jogadores partiam do corredor central, muito mais próximos de Tiago Tomás do que o habitual, e deixavam as alas completamente à disposição de Porro e Plata, alargando o jogo apenas para se aproximarem dos dois laterais e procurar combinações. Contudo, os leões mostravam algumas dificuldades na hora de entrar no último terço adversário, tanto pela elevada previsibilidade como pelos passes errados na construção.

O Rio Ave apresentava-se muito compacto, com os setores muito próximos e uma linha de três médios que ficava imediatamente à frente da defesa quando a equipa não tinha a bola, e era muito eficaz e organizado a estagnar as tentativas de desequilíbrio no meio-campo e nos corredores. Com o avançar do relógio, a equipa de Pedro Cunha ficava confortável na partida, ciente de que a estratégia estava a funcionar, e o Sporting precisava de serenar, ter paciência e assentar processos, de forma encontrar caminhos para a baliza de Kieszek. O primeiro lance mais perigoso surgiu já depois de estarem cumpridos 20 minutos, com um livre batido por Plata em que o guarda-redes vilacondense ficou a meio da saída dos postes, mas Coentrão afastou de cabeça quando Quaresma já aparecia para desviar (24′).

E se era certo que o Rio Ave estava a defender bem e a afastar o perigo, também era claro que os vilcondenses não tinham capacidade para atacar. À exceção de um período de dois minutos logo nos instantes iniciais em que fez um remate, a equipa de Vila do Conde raramente conseguia entrar com a bola controlada no meio-campo adversário, perdia a bola frequentemente na saída a jogar e estava totalmente encerrada na própria metade do relvado. Do outro lado, o Sporting só soube romper a muralha do Rio Ave à chegada à meia-hora, quando Pedro Gonçalves combinou com João Mário na direita cruzou para o primeiro poste, onde Tiago Tomás não conseguiu antecipar-se (30′).

O lance acabou por servir de ensaio a um movimento que os leões repetiram: a aproximação de João Mário ao corredor direito, levando um elemento do Rio Ave consigo e deixando Pedro Gonçalves mais livre de marcação para aparecer entre linhas. O primeiro remate enquadrado da partida apareceu já na ponta final da primeira parte, por intermédio de Palhinha e para defesa fácil de Kieszek (38′), mas acabou por dar o mote para o único golo até ao intervalo. Pedro Porro rasgou a defesa adversária com um passe que virou o flanco da direita para a esquerda, Plata cruzou de primeira e beneficiou de um desvio num defesa para conseguir assistir Pedro Gonçalves, que rematou ao primeiro poste e abriu o marcador(42′), chegando aos 12 golos no Campeonato. Os leões chegaram ao intervalo em claro ascendente e poderiam até ter aumentado a vantagem, com oportunidades de Tiago Tomás (45′) e Nuno Santos (45+2′).

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Sporting-Rio Ave:]

No início da segunda parte, Pedro Cunha mexeu desde logo e trocou Pedro Amaral, o lateral esquerdo, por Gabrielzinho, com Fábio Coentrão a recuar para a lateral defensiva e o brasileiro recém-entrado a pisar terrenos mais adiantados. O jogo ainda pareceu recomeçar tal como tinha parado mas depressa o Rio Ave mostrou que tinha regressado do balneário com outra intensidade — aproveitando, principalmente, a quebra que o Sporting tinha sofrido na capacidade de pressionar o adversário quando perdia a bola.

O empate apareceu numa fase em que os vilacondenses estavam a crescer claramente na partida e foi inteiramente desenhado por três jogadores que completaram a formação nos leões: Geraldes, no corredor central, abriu nas costas de Borja e em Mané na direita, que cruzou para a grande área, onde Dala só precisou de encostar (61′). O jogador ex-Sporting não festejou o golo que surgiu da melhor jogada do Rio Ave desde o início do jogo mas a verdade é que, a meia-hora do final, a equipa de Rúben Amorim tinha perdido a dianteira do marcador e precisava de regressar aos níveis de competitividade da primeira parte.

A 20 minutos do fim, Pedro Cunha tirou Geraldes para lançar Meshino e Rúben Amorim respondeu com uma alteração que mexeu na disposição tática da equipa: Eduardo Quaresma saiu, Porro (que esteve alguns furos abaixo do habitual) passou a ser o terceiro central e Bruno Tabata entrou para assumir o corredor direito. O avançado ex-Portimonense agitou a partida, principalmente pela frescura e criatividade que trouxe às movimentações ofensivas, e Amorim procurou fazer o mesmo do lado contrário. Jovane entrou, passando para o lado esquerdo do ataque, e Nuno Santos recuou para ocupar os terrenos que tinham sido de Plata, que saiu.

O jogo partiu no último quarto de hora, com o Sporting a ter mais presença no meio-campo adversário mas o Rio Ave a assustar sempre que se lançava no contra-ataque, e a melhor oportunidade até ao fim pertenceu mesmo a Tiago Tomás, que viu Aderllan intercetar um remate depois de um passe de Jovane (85′). Os leões não conseguiram garantir a vitória, somaram o segundo jogo consecutivo sem ganhar pela primeira vez esta temporada, desperdiçaram a oportunidade de alargar a vantagem para FC Porto, Benfica ou ambos e podem ver a distância na liderança reduzida para apenas dois pontos. Na primeira partida em que foi treinador principal, em que foi autorizado a dar indicações livremente, em que não teve de estar de máscara na linha técnica, Rúben Amorim não conseguiu vencer — até porque a equipa fez o truque do desaparecimento na segunda parte.

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