Campeão olímpico, lenda do boxe e para a eternidade o nome que  em 1978, aos 24 anos, chegou ao auge e surpreendeu o mundo ao derrotar Muhammad Ali numa renhida decisão que lhe valeu o conquistar o título mundial. Leon Spinks, o pugilista que enfrentava uma longa batalha contra o cancro de próstata, morreu esta sexta-feira aos 67 anos.

A notícia foi confirmada pela família, com o antigo campeão — conhecido como “Neon Leon” — a despedir-se da vida, depois de uma batalha contra a doença que durou cinco anos, ao lado da mulher, Brenda Glur Spinks. Estava internado num hospital em Henderson, no estado do Nevada.

Natural de St. Louis, Spinks passara pela Marinha antes de conquistar uma medalha de ouro como peso leve nos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal, integrando a equipa mais vitoriosa da história do boxe americano em Olimpíadas. De origens bastante humildes, conciliou essa vida nos primeiros anos com alguns combates de boxe a nível amador — num desses momentos acabaria por perder os dentes da frente, uma cicatriz de guerra que exibiria com orgulho e uma das suas imagens mais fortes.

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E foi apenas 13 meses e oito combates depois de ter estreado a sua carreira enquanto profissional de boxe que pisou o ringue para surpreender o mundo, e ainda mais Ali, nesse 15 de fevereiro de 1978 em Las Vegas. Um autêntico underdog, que jamais tinha ido além do décimo round, farejou o campeão, já com 36 anos e na curva descendente da sua carreira, até à vitória final.

Leon Spinks Celebrates His Birthday Party At Sugar Factory

Em 2018, Spinks celebrou o seu aniversário em Las Vegas, cenário de boas memórias para o pugilista © Getty Images

Leon Spinks, então com apenas 24 anos e fôlego para aguentar um duelo em 15 rounds acabou por levar a melhor numa decisão dividida, tornando-se assim no único pugilista que conseguiu roubar o cobiçado título a Ali no ringue.

“Não é que Ali não estivesse no seu melhor, mas Leon chocou toda a gente ao mostrar quão bom era”, recorda o promotor Bod Arum, citado pela ESPN. E de repente, Spinks era o campeão do mundo de pesos pesados, passando à história a sua célebre frase: “I’m not The Greatest. Just the latest.”

A verdade é que aquele momento de glória haveria de ser o topo do trajeto de Spinks, que perderia o título WBC depois de o recusar defender contra Ken Norton, optando por um reencontro com Ali. Uma escolha que saiu cara a Leon uma vez que Muhammad haveria de reconquistar, por decisão unânime, o título da WBA em pleno Superdome em Nova Orleães, escassos sete meses depois desse embate inaugural.

[O famoso primeiro encontro, em 1978:]

O resto do curriculum de Spinks — que pendurou as luvas aos 42 anos, depois de uma derrota frente a Fred Houpe, em 1995, terminando a sua carreira com o modesto registo de 26-17-3, incluindo 14 KOs — é tudo menos ascendente. O homem que chegou a ter como guarda-costas o famoso ator Mr. T. teve apenas mais um combate para o título de pesos pesados, que perdeu por KO imposto por Larry Holmes, em junho de 1981.

Curiosamente, é desse ano que surge um episódio ainda mais bizarro envolvendo a sua dentição. Spinks, que usava dentes falsos desde aquele combate ainda jovem em que os perdeu, foi atacado em Detroit depois de uma noite de copos com os amigos, recordando-se apenas de ter acordado no dia seguinte num quarto de hotel. O atacante levou joias, casaco e a sua dentadura de ouro.

Retirado do circuito principal, seguir-se-ia uma escala no wrestling e MMA, numa fase muito marcada pelos problemas financeiros e complicações de saúde que afetaram um “tipo pobre que não tinha nada” até alcançar esse breve estrelato.

Foi em Las Vegas que escolheu passar os anos mais recentes e onde casou com a mulher, em 2011. Presença habitual em eventos de boxe, assistiram em 2017 a uma das últimas conquistas de Spinks: garantir um lugar no Nevada Boxing Hall of Fame.

Em 2020, uma reportagem do USA Today dava conta do confronto mais duro que Spinks tinha pela frente, o cancro.