Em 1977 o autor japonês Taro Gomi publicava aquele que seria o seu maior sucesso, o livro infantil Todos Fazemos Cocó. A obra é destinada à criançada que começa a saber usar a sanita e pretende passar a ideia de que ir ao WC é algo perfeitamente normal e que todos o fazemos — até Vladimir Putin, que não olha, de todo,  a despesas quando o assunto é a higienização dos seus sanitários.

Nos últimos tempos a Rússia tem assistido a uma onda de protestos anti-Putin e há um detalhe a destacar: a grande maioria dos manifestantes andam de piaçaba dourado em riste. Confusos? Tudo tem uma razão de ser, basta olhar para Alexei Navalny. O líder da oposição foi preso depois de regressar à sua Rússia natal vindo da Alemanha, país onde esteve a ser tratado depois de um alegado envenenamento com o químico Novichok, e é por causa dele que todos empunham esta escova sanitária.

Uma das últimas intervenções de Navalny antes de ser preso foi o lançamento de uma longa-metragem que se debruça sobre o mais recente escândalo que envolve o presidente russo, o megalómano palácio secreto que Putin mandou construir à beira do Mar Negro, perto da localidade de Gelendzhik e que terá custado cerca de mil milhões e trezentos mil dólares. Apesar do generalizado luxo — tem, por exemplo, uma ponte de 80 metros que une o edifício principal a uma sala de chá, um túnel que leva até à praia e até uma pista de hóquei no gelo subterrânea –, aquilo que Navalny mais destacou foi o piaçaba avaliado em 850 dólares, algo como 710€.

A TheEconomist destaca a inteligência de Navalny ao dar protagonismo a este pormenor das idas à casa de banho de Vladimir Putin, alegando que é uma forma de ilustrar a humanidade do líder estoico e misterioso através de pormenores menos favoráveis. Ainda assim, a relação de famosos líderes não muito democráticos com o quarto de banho foi sempre curiosa.

Kim Jong Un, por exemplo, trouxe um WC portátil para a cimeira que juntou a sua Coreia do Norte com os EUA, em 2018. Aparentemente, queria evitar que as suas fezes fossem recolhidas e analisadas por espiões rivais interessado em recolher informações sobre o seu estado de saúde. Nicolae Ceausescu, por exemplo, tinha na sua villa no bairro Primaverii, em Bucareste, uma casa de banho com torneiras, toalheiros e recipiente de papel higiénico em ouro e painéis de azulejos reminiscentes do Império Bizantino. Também o antigo presidente do Uganda, Idi Amin, se gabava de ter no palácio presidencial em Kampala um lavatório e um combinado de sanita e bidé totalmente em mármore, importado de França, que o governante dizia ser uma cópia exata do WC de Louis XVI em Versalhes, afirmação que era falsa.

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