796kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

João Palhinha é mesmo um caso. Sério. Como o resto da equipa (a crónica do Sporting-P. Ferreira)

Este artigo tem mais de 3 anos

Num jogo com demasiadas faltas e cartões, Sporting saiu de fato de gala por ter vestido o fato macaco tendo Palhinha de novo como um herói (in)visível que desta vez até marcou ao P. Ferreira (2-0).

João Palhinha marcou o primeiro golo da temporada (um ano depois do último na Liga) após o penálti inaugural de João Mário
i

João Palhinha marcou o primeiro golo da temporada (um ano depois do último na Liga) após o penálti inaugural de João Mário

João Palhinha marcou o primeiro golo da temporada (um ano depois do último na Liga) após o penálti inaugural de João Mário

Nunca pensar que um jogo está ganho mesmo estando em vantagem, como aconteceu em Famalicão. Nunca considerar que não é possível chegar à vitória mesmo nos descontos, como nas receções ao Farense e ao Benfica. Nunca achar que um encontro se pode resolver sozinho com o tempo porque nem sempre há espaço para golos tardios, como na partida em Alvalade com o Rio Ave. Nunca facilitar nos compromissos que se seguiam a pontos perdidos pelos rivais diretos, como frente ao Marítimo. Nunca abdicar da forma de estar em campo sob pena de chegar ao intervalo a perder, como no último jogo com o Gil Vicente. As jornadas foram passando e, tanto ou mais do que pontos, aquilo que o Sporting mais ganhou foram lições. Do que deve fazer, do que não pode fazer.

Sporting vence P. Ferreira com golos de João Mário e João Palhinha e aumenta vantagem na frente para dez pontos

Foi desta forma, numa espécie de livro dos mandamentos que foi criando ao longo da temporada, que se colocou num patamar onde poderia aumentar a vantagem na liderança para dez pontos em relação ao FC Porto e 13 para o Benfica. Foi assim que passou também para o topo das probabilidades entre os candidatos ao título.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A projeção apresentada esta segunda-feira pelo Observatório do Futebol (CIES), amplamente divulgada por vários meios europeus mediante o país e a liga em causa, colocava os leões como campeões em 2020/21 com mais nove pontos no final do que o FC Porto, atendendo não só à pontuação que se verificava na 18.ª jornada (que ainda não contava com os empates dos dragões com o Boavista e do Benfica em Moreira de Cónegos) mas também a uma série de dados disponíveis entre os quais remates enquadrados, remates na área (tentados e consentidos), posse de bola, passes feitos ou concedidos no último terço do campo. No final, todos esses valores entravam num modelo estatístico e apuravam os resultados das projeções. Vale o que vale mas deixava ainda um outro ponto de interesse em relação à realidade nacional: o P. Ferreira acabaria na quinta posição de forma destacada. E esse era sobretudo o grande adversário verde e branco além da ansiedade e pressões crescentes – o P. Ferreira.

Sem ter ligações especiais nem com clubes, nem com agentes, o clube da Capital do Móvel demorou apenas uma temporada para regressar ao convívio dos grandes após descer de divisão em 2018 na última jornada. E isso só foi conseguido porque, de raiz, o P. Ferreira é um conjunto à parte de todos os outros no plano nacional: a cumprir a tempo e horas na parte salarial, a dar passos do tamanho da perna no reforço do plantel, a investir tendo em vista o médio e o longo prazo sem criar dívida (os nove milhões de euros na melhoria das infraestruturas está pago), a querer estar nos grupos de trabalho para melhorar e contribuir para o crescimento do futebol português. Agora, juntou um treinador da moda em constante evolução a um grupo com qualidade mas que, como se viu numa reportagem da SIC esta semana, distingue-se pela humildade, pelo trabalho, pela dedicação e pela entreajuda.

“O P. Ferreira é uma equipa muito boa, que está num momento fantástico, com um treinador que está a fazer um trabalho incrível. Nós conhecemos bem a equipa do Paços e o Paços também nos conhece bem. Temos de fazer o que temos vindo a fazer e depois precisamos da inspiração dos nossos jogadores. Jogo com o Gil Vicente? Fizemos uma avaliação, toda a gente faz sempre isso. Chamámos a atenção para aquilo que correu mal, também mostrámos algumas coisas boas. Eles perceberam ao intervalo o que se passava, senão não tinham tido o comportamento que tiveram na segunda parte. Foi uma preparação normal”, destacara Amorim antes do jogo.

A inspiração, essa, não foi muita. Pelo menos em termos individuais. Pedro Gonçalves teve movimentos que foram importantes sobretudo na primeira parte, Porro voltou a ser um motor sem fim na direita, os centrais mostraram a habitual segurança. Depois, houve João Palhinha. Mais uma vez, João Palhinha. Em mais uma semana em que foi falado por razões que nada têm a ver com o que se passa nas quatro linhas, o que levou a que existisse o cuidado por parte dos responsáveis verde e brancos em explicar ao jogador tudo o que estava a acontecer, o médio voltou a ser o elemento que ligou setores, que marcou zonas de pressão, que fez compensações nas subidas dos laterais, que correu mais de dez quilómetros para provar que o futebol também pode ter qualidade sem bola. Também ele é um caso sério nesta equipa de Rúben Amorim, que somou a sétima vitória consecutiva (quinta no Campeonato) por ser forte coletivamente e contar muito com quem aparece menos na fotografia – ou que de quando em vez também aparece, como aconteceu no segundo golo que sentenciou o triunfo frente ao P. Ferreira.

[Ouça aqui a análise do antigo árbitro Pedro Henriques no Sem Falta da Rádio Observador]

“Árbitro sem categoria para estar na I Liga”. Pior nota de sempre igualada em Alvalade

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Sporting-P. Ferreira, 2-0

19.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: André Narciso (AF Setúbal)

Sporting: Adán; Gonçalo Inácio, Coates, Feddal; Pedro Porro, Palhinha, João Mário (Matheus Nunes, 73′), Nuno Mendes (Matheus Reis, 84′); Tiago Tomás (Bruno Tabata, 73′), Pedro Gonçalves (Jovane Cabral, 73′) e Paulinho (Nuno Santos, 63′)

Suplentes não utilizados: Luís Maximiano, Luís Neto, João Pereira e Daniel Bragança

Treinador: Rúben Amorim

P. Ferreira: Jordi; Fernando Fonseca, Marco Baixinho (Marcelo, 63′), Maracás, Rebocho (Uilton, 63′); Eustáquio, Luiz Carlos (Dor Jan, 85′), Bruno Costa; Hélder Ferreira (João Amaral, 63′), Luther Singh e Douglas Tanque (João Pedro, 74′)

Suplentes não utilizados: Michael Fracaro, Martín, Adriano e Diaby

Treinador: Pepa

Golos: João Mário (20′) e João Palhinha (48′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Nuno Mendes (8’), Marco Baixinho (13’), Feddal (14’), Rebocho (19′), Douglas Tanque (22′), Pedro Porro (54′), Adán (74′) e Jovane Cabral (88′)

O encontro começou sem grande espetacularidade como se previa por mérito das abordagens táticas das equipas, sobretudo o P. Ferreira que soube ir condicionando o jogo entre linhas e foi forçando um número maior de passes errados dos leões sem ter medo de sair com bola controlada explorando não só as transições mas também o ataque organizado. Era aqui que entrava uma ideia já antes partilhada por Rúben Amorim: se os adversários conheciam melhor a forma de jogar do Sporting, a única maneira de contornar os obstáculos passava por criar dinâmicas e momentos diferentes. E foi assim que nasceu a primeira grande oportunidade do jogo, com João Mário a subir, a procurar Pedro Gonçalves mais por dentro mas o calcanhar de Paulinho a ser defendido por Jordi (10′). Ainda assim, e também por culpa do critério seguido pelo árbitro André Narciso, os primeiros 15 minutos iriam chegar com três vezes mais cartões amarelos do que remates (3-1), sem que o jogo assim o justificasse.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-P. Ferreira em vídeo]

Com as surpresas iniciais sem destaque, entre os poucos ataques pela direita onde estava Tiago Tomás e a falta de risco no passe longo a explorar a profundidade de Gonçalo Inácio perante o posicionamento pacense em campo, o Sporting encontrava dificuldades e voltou a ser mais uma movimentação de Pedro Gonçalves a criar desequilíbrio, aparecendo mais no lado direito do ataque para receber na área um passe longo na diagonal de Feddal e cair após toque por trás de Rebocho que valeu uma grande penalidade muito contestada pelos pacenses que João Mário transformou no 1-0 (20′). Os leões estavam em vantagem mas, pelo critério apertado, arriscaram ficar a jogar com dez pouco depois, com Feddal a pisar Luiz Carlos (23′) num lance que motivo também protestos dos visitantes (perto do intervalo seria Rebocho a pisar Tiago Tomás, também sem sanção). O encaixe tático tirava espaços para haver um melhor futebol mas a gestão de André Narciso em nada ajudou a que houvesse um jogo mais fluido.

Até ao intervalo, e ao longo de 20 minutos, as equipas conseguiriam apenas criar mais duas oportunidades para mudaram a vantagem mínima verde e branca. Do lado do P. Ferreira, que terminou a primeira parte com mais ações na área contrária do que o Sporting, Luther Singh recebeu bem um cruzamento de Rebocho na esquerda, rematou forte mas Adán fez uma boa defesa, havendo depois mais protestos dos pacenses pelo toque de Coates no avançado já na área após o disparo (42′). Do lado dos leões, Coates voltou a arriscar o golo na área contrária na sequência de um livre lateral mas o desvio de cabeça saiu ao lado (45′). Em vantagem na sequência de uma grande penalidade, valia ao líder do Campeonato a entrega semelhante à do adversário, como se viu num lance em que Douglas Tanque passou Coates mas Palhinha e Inácio apareceram de rompante a fazer a dobra (39′).

Nenhum dos treinadores mexeu ao intervalo mas seriam apenas necessários três minutos para que o jogo mudasse por completo em relação ao que se passara na primeira parte: canto no lado direito do ataque leonino marcado com o efeito para fora, desvio de Feddal ao primeiro poste e remate de primeira de João Palhinha a apanhar Jordi a fazer o movimento contrário e a aumentar a vantagem verde e branca. Se a margem mínima trazia alguma dose de incerteza, o 2-0 dava outro fôlego aos leões, que aproveitaram essa quebra momentânea dos pacenses para terem um período de maior qualidade ofensiva e em posse com mais um lance a motivar muitos protestos onde Nuno Mendes cruzou da esquerda na área e foi depois atingido no pé por Hélder Ferreira (59′).

Pepa ainda fez uma tripla alteração, trocando os jogadores com amarelo na defesa para não correr riscos e tendo João Amaral na direita em vez de Hélder Ferreira para explorar melhorar as subidas de Nuno Mendes pelo flanco esquerdo, mas não mais o P. Ferreira conseguiria entrar num jogo que tinha encontrado o Sporting na sua zona de conforto, ainda que sem capacidade para criar mais oportunidades entre a troca de todos os elementos que estavam mais avançados na equipa. Douglas Tanque a rematar e Eustáquio a jogar ainda tentaram remar contra uma maré que jogava a favor dos verde e brancos mas o resultado não voltaria a mexer, apesar das tentativas sem perigo para Adán, algumas vezes de meia distância. Contudo, e mesmo sem pontos, os pacenses mostraram que se recusam a pensar pequeno mesmo jogando contra grandes – e assim se tornaram maiores.

Pela primeira vez esta temporada, o Sporting conseguiu uma série de sete vitórias consecutivas, cinco a contar para a Primeira Liga (igualando o máximo da época) e mais duas na Final Four da Taça da Liga (marca que é também um recorde para o treinador, Rúben Amorim). Mais de 50 anos depois, e apenas pela terceira vez na história, o Sporting consegue ter uma vantagem de dez ou mais pontos no Campeonato em relação a FC Porto e Benfica quando estamos apenas na 19.ª jornada (1948/49 e 1969/70, convertendo a vitória em três pontos que surgiu apenas a partir de 1995/96). Ninguém do conjunto leonino fala em título ou se desvia do “jogo a jogo” mas não são precisas projeções para olhar para as contas e perceber uma realidade que é cada vez mais evidente: com dez pontos de avanço e a 15 jornadas do final, o Sporting é o principal favorito ao título em 2020/21.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos