O ministro do Ambiente disse que os fundos comunitários da “bazuca” não devem ser aplicados em novas Expo’98, defendendo que é tempo agora de investir na recuperação de ecossistemas e das paisagens. João Matos Fernandes falava durante a mesa redonda “As cidades em Portugal, entre a Expo’98 e o Plano de Recuperação para a Europa”, que abriu a conferência online “Projects, Urban Legacies of the late 20th century”, organizada pelo Dinâmia’Cet- Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território do ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa.

Até sexta-feira, os conferencistas debaterão a forma como a transição digital, o teletrabalho, a diminuição dos fluxos casa-emprego, as novas exigências logísticas e as futuras infraestruturas de transporte irão determinar a restruturação das cidades e o reordenamento do território na nova etapa da economia portuguesa após a pandemia, com o apoio da “bazuca” europeia.

Na sua intervenção, Matos Fernandes deixou claro que “a economia tem de continuar a crescer”, mas não existe atualmente “uma disponibilidade física de recursos para que se possa construir muito mais”, pelo que “os grandes projetos” no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “vão ser projetos de renovação”. Salientando que é “um entusiasta” de projetos com origem na Expo’98, como o programa Polis ou a Parque Escolar, Matos Fernandes considerou, contudo, não ter “grandes dúvidas de que este não é o tempo de fazer assim”.

As cidades têm sempre um papel essencial, mas, muito mais do que andarmos a explorar novos projetos urbanos de grande dimensão, acho que isto já não está para Brasília, para Chandigar, para a Expo’98”, disse, referindo-se a cidades arquitetadas de propósito para uma finalidade.

Não é o tempo de demolir, mas de reconstruir“, considerou, salientando que “o mais crítico dos problemas ambientais não são os problemas de poluição” nem os problemas da energia, mas o de “substituir matérias-primas que, quando acabarem, acabaram”. Para o ministro, os grandes projetos de que Portugal precisa atualmente são de restauro dos ecossistemas e de refazer a paisagem.

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É manifestamente a esta escala que nós temos de saber intervir em grande”, disse, defendendo que é preciso reconstruir aquele que era “o mosaico da atividade agro-silvo-pastoril num tempo em que os fogos rurais não existiam ou tinham muito menos impacto e muito menor dimensão”.

“Acho que os grandes projetos do território e o Plano de Recuperação e Resiliência contempla-os com a política para a paisagem são mesmo, cada vez mais, no espaço rural, no restauro dos ecossistemas”, sublinhou. O ministro defendeu ainda que não é possível continuar com a lógica da construção de edifícios sem ter em conta o que se fará aos materiais quando eles deixarem de ser utilizados, nem continuar a projetar espaços que não sejam multifuncionais.

 Pode ser muito belo um auditório, mas é insuportável que ele seja utilizado três vezes por ano. Pode até ser utilíssima a cantina fabril, mas o facto da cantina fabril só ser utilizada durante duas horas do dia não é tolerável. Nós temos mesmo que projetar de outra forma. Viva a cantina fabril, mas não pode ser pensada como um espaço que é usado duas horas por dia. Não há materiais na Terra para fazer assim“, salientou.

Na mesa redonda participaram também o presidente da Ordem dos Arquitetos, Gonçalo Byrne, e o professor de economia do Iscte Ricardo Paes Mamede, com moderação de Nuno Grande, professor de arquitetura na Universidade de Coimbra.