“Esquecemo-nos de que é suposto a educação ser uma coisa divertida”, diz ao Observador Ricardo Pereira, cofundador da Thorly Education, uma startup tecnológica que está incubada no habitat da Startup Lisboa. E é possível que tenha razão. O engenheiro civil e professor de 29 anos que foi cofundador da Lisbon Data Science Academy e fundador da consultora DareData Engineering e responsável pela introdução da cadeira de programação na Universidade Nova SBE, em Lisboa, acredita que, no geral, não é isso que acontece. “As pessoas deviam querer aprender para o resto da vida. E como [a educação] está pensada, não acontece“, diz Ricardo Pereira.
A urgência de uma resposta real no mercado do ensino tecnológico foi apenas um dos ganchos para que Ricardo, Nuno Reis e Luís Miguel Sousa, os restantes membros da Thorly Education, se reunissem. Mais do que tornar o processo educativo cativante era preciso garantir-lhe democracia, fazê-lo chegar a todos os que, mesmo sem saberem, precisavam de utilizar a tecnologia no dia a dia.
“Existem imensas coisas tecnológicas que podemos aprender e que melhoram o nosso quotidiano. Viemos para dar acesso a ferramentas que pareciam inalcançáveis”, conta ao Observador.
A Thorly Education nasceu assim de um objetivo transversal aos três, da intenção de personalizar a educação tecnológica, para que toda a gente a acompanhe, ou seja, para “ajudar as pessoas não técnicas com a tecnologia”. Pelo meio — e estando a crescer sem terem ainda captado investimento externo até à data –, aperfeiçoaram o conceito e repensaram a estratégia.
“A ideia de que a educação tem de ser personalizada não chega a toda a gente – empresas, por exemplo, universidades. Apesar de dizerem que o querem não é assim tão real. Porque é uma coisa que acarreta um custo elevado. Isto começou com uma missão de ajudar pessoas a aprender ciência de dados e seria para pessoas mais céticas. Neste momento, estamos focados em ajudar pessoas não técnicas a entrarem no mundo da tecnologia”, explicou o cofundador.
Para Ricardo Pereira, existem várias pessoas não técnicas – e técnicas neste sentido específico de tecnologia – que precisam de tecnologia no dia a dia. “Tens vários bootcamps caros, tens cursos curtos e, neste meio, parece que faltam soluções. Por exemplo, para quem trabalha em Marketing e precisa de olhar para dados, ou trabalha em finanças, não tem soluções. Ou vai para alguma coisa altamente técnica ou vai para um curso com mau acompanhamento e sem personalização. Queremos uma coisa baseada na comunidade, dar aulas em grupos pequenos, utilizar a mentoria”, diz.
Os temas desta escola são escolhidos pelos fundadores e, consoante a adesão, vão percebendo o interesse e necessidades do mercado.
“Com isso, construímos a base, cada curso leva-nos para uma área distinta. A ideia é lançar vários cursos e perceber de que forma são importantes na vida das pessoas. Pagas um valor baixo por mês e, de forma continuada, estás a aprender em comunidade”, acrescenta Ricardo. No site da Thorly, os fundadores informam que o curso de Phyton para não programadores custa, por exemplo, 99 euros, e que quem não gostar das duas primeiras aulas pode ser reembolsado.
Os cursos têm a duração de 12 semanas e, para já, a lista de espera conta quase com uma centena de pessoas. O sistema das aulas – Python para não programadores, Workshop de Python e Data Analytics e Workshop de Machine Learning são, para já, as disponíveis – inclui um módulo faseado à semana: “Na primeira semana tens uma aula ao vivo de uma hora e meia, na seguinte estás essa hora e meia a escrever código juntamente com um mentor entre eu, o Nuno e o Luís, na terceira voltas à aula ao vivo e assim sucessivamente”, explica Ricardo.
As turmas, com capacidade até 30 pessoas, “por uma questão de escalabilidade”, permitem um acompanhamento mais próximo da parte do mentor já que, com este número, “permite a cada mentor estar com um grupo durante meia hora. Pode escalar no futuro, obviamente, tudo depende do que estamos dispostos a comprometer. Mas a nível de mentores não estamos dispostos a muito. O rácio de mentor aluno deve ser sempre um para cada quatro, cinco grupos no máximo.”
Em abril, o plano é iniciar mais um conjunto de cursos simultâneos, incluindo um workshop “numa espécie de trabalho de equipa para pessoas que não são técnicas”, esclarece. “A democratização da tecnologia é uma coisa que tem de ser trabalhada e, utilizar comunidades para isso, é o caminho. Só o conseguimos se pararmos de praticar preços de cinco mil euros por pessoa. Se criarmos uma comunidade em que as pessoas pagam pouco, é a forma de democratizar,” conclui Ricardo Pereira.