Normalmente, quando um atleta decide terminar a carreira, o futuro divide-se entre dois caminhos: ou permanecer ligado ao desporto; ou cortar definitivamente com o desporto e seguir um percurso alternativo. Quando a opção escolhida é a primeira, o cenário quase garantido é que esse mesmo atleta vai ficar ligado ao desporto, ao mundo e à indústria que representou. Existem exceções, como a passagem de Michael Jordan pelo basebol antes de voltar à NBA, mas são ínfimas. E Andy Murray, ao que parece, quer fazer parte dessa reduzida percentagem.
O tenista de 33 anos, que em 2019 chegou a colocar a hipótese de terminar a carreira devido aos graves problemas na zona da anca mas conseguiu voltar à competição, deu uma entrevista à revista Gentleman’s Journal e falou sobre o próprio futuro. “Gosto muito de golfe, por isso, ser um caddie no Tour seria algo muito entusiasmante. Ser próximo dos golfistas de topo e aprender sobre outro desporto. E talvez pudesse existir algum tipo de cruzamento entre os dois desportos, do lado mental, e poderia ajudar um golfista a partir daí. Ou tirar o curso de treinador de futebol. Seria algo muito divertido”, revelou Murray, que ficou recentemente afastado do Miami Open depois de uma lesão na virilha.
Na entrevista, o britânico falou ainda sobre algo que considera ter sido um dos grandes erros que cometeu — ter assinado com uma empresa de gestão de imagem e carreira quando ainda era criança. “Eu e o meu irmão assinámos um contrato com uma empresa dessas quando tínhamos 12 ou 13 anos. A maioria dos pais nunca tiveram a experiência de ter um filho que pode tornar-se num atleta de classe mundial, por isso confiam nos especialistas para os ajudarem a guiar a carreira, mas não acho que essas empresas tenham sempre em conta os melhores interesses dos atletas. Assinar com atletas de 12 ou 13 anos sugere logo que não têm: será que um miúdo precisa mesmo da pressão de ter uma das maiores empresas de gestão de imagem do mundo a olhar para ele quando tem 12 ou 13 anos? Não sei se é a melhor mensagem que podem transmitir”, disse Andy Murray, que fundou a 77 Sports Management para “ajudar os atletas a evitar os erros” que ele próprio cometeu quando era criança.
O tenista, que tem no palmarés duas vitórias em Wimbledon e outra no US Open, falou ainda sobre o futuro do ténis no próprio país. “É um ótimo desporto social que as pessoas podem jogar até terem 70 anos. É algo que podem jogar durante toda a vida. E é isso que o Reino Unido tem de capitalizar, é a cultura do clube de ténis. Existem muitos desses clubes em França e em Espanha, onde as pessoas podem ir e estar juntas no clube de ténis — jogar um pouco e almoçar por lá. Isso não acontece no Reino Unido. Gostava de que isso fosse um pouco diferente”, concluiu Andy Murray.