Aníbal Cavaco Silva não irá participar nas comemorações do 25 de Abril no Parlamento e “já informou a Assembleia da República de que não estará presente”, confirmou ao Observador fonte do gabinete do antigo Presidente da República. Este é o segundo ano consecutivo em que Cavaco Silva não marca presença nestas comemorações e, tal como em 2020, o Gabinete do Sacramento não especifica a razão da ausência .
Cavaco Silva já tinha sido notícia na tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa para um segundo mandato, quando, no fim dos discursos, informou o protocolo que não se iria deslocar ao Salão Nobre para a sessão de cumprimentos ao atual chefe de Estado. O gabinete do antigo Presidente desvalorizou na altura a ausência, expicando que o ex-chefe de Estado “teve imensa honra em estar na cerimónia”, mas “teve de regressar a casa logo que terminou”. “Não há grande história”, disse na altura a mesma fonte.
Cavaco Silva não cumprimentou Marcelo porque “teve de regressar a casa”
Há um historial de conflito entre a Associação 25 de Abril (A25A), em particular do seu presidente Vasco Lourenço, e Cavaco Silva. Em 2009, Vasco Lourenço criticou Cavaco Silva por não ter aceitado o convite para a homenagem a Melo Antunes organizada por aquela organização na Fundação Calouste Gulbenkian. Nesse mesmo ano, quando o então Presidente se associou à cidade de Santarém no 10 de Junho para homenagear Salgueiro Maia — a quem como primeiro-ministro tinha recusado uma pensão — Vasco Lourenço não perdoou: “Há erros que não se corrigem”. A A25A
No ano anterior (2008), Vasco Lourenço tinha classificado como “triste” o facto de Cavaco Silva durante uma visita oficial à Madeira não ter contrariado a vontade de Alberto João Jardim, que sugeriu que o Presidente não fosse à Assembleia Legislativa da região autónoma porque aquilo era tudo “um bando de loucos”.
Em 2015, quando o Presidente falhou as comemorações do 5 de Outubro por estar a gerir a nova aritmética saída das legislativas, os ‘capitães de Abril’ — mais uma vez pela pena de Vasco Lourenço — diziam estar “estupefactos à negação por parte do mais alto magistrado da Nação Republicana da razão e causa da sua própria existência”. No mês seguinte, Vasco Lourenço era duro numa concentração no Largo do Carmo que exigia basicamente que Cavaco desse posse a um governo suportado pela geringonça: “Já venho a ter vergonha há muito tempo pelo Presidente da República que tenho e tive vergonha como cidadão português de ter um Presidente da República a proceder como este procedeu.”