A mossa já se antecipava. Com uma lista de convidados reduzida ao essencial e uma pandemia que, apesar da veloz campanha de vacinação, ainda não virou costas, deixando pouco espaço à exuberância própria de uma noite como esta, os Óscares esmoreceram e nem a passadeira vermelha, lugar de flashes e exclamações, escapou. A contenção orientou as escolhas da estrelas — sem, no entanto, retirar a uma mão cheia delas o benefício da surpresa. Sim, houve disso no desfile de alta-costura europeia do último domingo à noite, embora nem todas as opção inesperadas tenham chegado a bom porto.

À parte dos sucessos e fracassos da noite, foi a falta de entusiasmo — ou uma inércia no vestir — que predominou na red carpet. A audácia masculina foi digna de nota, embora vários dos protagonistas tenham sido mais bem sucedidos em galas passadas do que propriamente nesta (antigamente, os Óscares eram para dar tudo). O mesmo se pode dizer das convidadas, muitas delas irrepreensíveis ao longo de toda a temporada e vacilantes, chegado o derradeiro teste de estilo.

Terá sido este o resultado da sobriedade imposta pelas circunstâncias ou apenas um desfile de mornas decisões? Estarão as estrelas de Hollywood desleixadas, ao fim de mais de um ano sem pisar uma passadeira vermelha desta envergadura? Enquanto as respostas não chegam para justificar o todo, mais vale olhar para os protagonistas e tentar explicar, pelo menos, algumas partes.

O bom, o mau e o entediante: a red carpet dos Óscares em três atos

Há um antes e um depois da chegada de Carey Mulligan à red carpet dos Óscares. Ao mesmo tempo que acordou um evento que, até então, decorria sob uma espécie letargia, a atriz apresentou-se fora da sua zona de conforto. Depois de uma secessão de escolhas discretas e minimais, encheu o tapete vermelho com uma longa saia dourada, criação da maison Valentino. A parte de cima resumiu-se a uma tira no mesmo material. Ousada, marcante e, ainda assim, minimal, Mulligan reavivou a esperança de ver a noite descolar… O que não chegou a acontecer.

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93rd Annual Academy Awards - Arrivals

Carey Mulligan em Valentino © Getty Images

Várias outras escolhas podem considerar-se eficazes, a começar pelo Louis Vuitton de Regina King, confecionado ao longo dos últimos três meses e na linha das criações da marca que a atriz já tinha usado para outras cerimónias. O principal trunfo foi a cor, um azul suave que assentou que lhe assentou na perfeição.

H.E.R. voltou a confiar a Peter Dundas a tarefa de a vestir para tão ilustre ocasião. O resultado já era vencedor à partida, tal é a facilidade com que o designer vai ao encontro do estilo peculiar da cantora. Assim foi: uma peça única em azul cobalto, decorada com brilhos e transparências. O longo véu deu-lhe o toque místico de que precisava.

Laura Dern surpreendeu. A atriz de 54 anos começou por revelar a parte de cima do seu look nas redes sociais, deixando a parte mais extravagante para o momento em que pisou a passadeira vermelha, exibindo uma saia de plumas brancas, cortesia da Oscar de la Renta.

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Andra Day em Vera Wang © Getty Images

Houve, no entanto, quem se tivesse afastado das escolhas irrepreensíveis de outrora. Vanessa Kirby, que fez uma temporada praticamente imaculada no que à imagem diz respeito, mudou bruscamente de direção. Uma guinada no volante que rompeu com a imagem de diva imperturbável no seu vestido preto. Para este domingo, a atriz britânica escolheu um vestido rosa pálido Gucci. A candura do tom, bem como o design da peça, trouxe à memória o Ralph Lauren de Gwyneth Paltrow, em 1999, mas também o Calvin Klein de Saoirse Ronan, já em 2018.

Também Zendaya se mostrou pouco empenhada na escolha da indumentária. O detalhe que tornou o seu extremamente amarelo Valentino — a abertura na barriga — foi, na verdade, uma das tendências da noite, presente nos visuais de Mulligan, Kirby e Andra Day, nome impossível de ignorar. A cantora foi o visual mais arrojado da noite, um Vera Wang dourado com tanto de revelador como de ajustado às curvas de Day.

O que é que correu mal aqui?

Óscares não são Óscares sem que ninguém brinde o público com as famosas escolhas ao lado. Glenn Close, atriz cuja presença abrilhanta, por norma, qualquer evento da indústria, não esteve no seu melhor. Longe disso, até. A túnica assinada por Giorgio Armani, decorada com cristais sobre um azul berrante, não favoreceu a estatura de Close, com as calças em seda, as luvas e os saltos baixos a retirarem-lhe a silhueta esguia e altiva pela qual é conhecida.

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Halle Berry em Dolce & Gabbana © Getty Images

Quem também suscitou dúvidas foi foi Amanda Seyfried, também ela numa criação Armani. Além de restar muito pouca originalidade num vestido de baile vermelho com um decote profundo, a estatura baixa da atriz também não saiu favorecida, sobretudo dada a configuração do modelito acima da cintura. Amanda perdeu-se dentro do próprio vestido. Quem também sofreu com uma escolha menos acertada foi Viola Davis. Nada de errado com o vestido Alexander McQueen, muito menos com a atriz — os dois apenas se revelaram incompatíveis e o cabelo também não ajudou.

Noutros casos foi simplesmente impossível conter o bocejo. Maria Bakalova é uma clara fã de vestidos de princesa. A escolha de um exemplar branco, com uma saia em tule, mesmo sendo Louis Vuitton, este ao nível de um baile de finalistas, ou então de debutantes, embora o decote fosse, nesse caso, considerado indecoroso. O Christian Dior de Reese Witherspoon foi tão ou até menos marcante. Em Chanel, Margot Robbie voltou a cometer a proeza de semear a dúvida na audiência: saiu de casa para ir aos Óscares ou para ir a uma festa na praia?

Os Óscares no masculino

No relatório de estilo do último domingo também os homens escreveram o seu próprio capítulo. Cada vez mais arrojados — no sentido em que encontram alternativas dignas e inteligentes ao tradicional smoking –, procuram junto de marcas e designers reinventar o dress code masculino em noite de fala. Uns conseguem-no sem indício de grande esforço, ou nem por isso. Curiosamente, esta edição dos Óscares volta a não ser um bom exemplo.

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Riz Ahmed em Prada © Getty Images

Riz Ahmed apresentou-se elegante num fato Prada, ainda que com um toque subtil de informalidade. LaKeith Stanfield foi mais longe e vestiu uma peça única, um visual retro com assinatura Saint Laurent. Outros tentaram demasiado: Leslie Odom Jr podia ter doseado melhor a vontade de usar dourado, enquanto Colman Domingo exagerou no rosa choque (e nos cristais Swarovski).

Na fotogaleria, veja os looks das estrelas na passadeira vermelha da 93ª cerimónia dos Óscares.