O estudo da história de Lisboa, designado de olisipografia, quer tornar-se mais acessível ao público em geral, através do projeto “Olisipógrafos”, com o lançamento de um ‘site’, reedição de obras em ‘e-books’ e edição de biografias de especialistas.

“Vamos pôr à disposição de um público alargado, aos lisboetas, mas não só necessariamente lisboetas, uma produção que é uma produção de história literária, às vezes de lendas e mitos de história de arte das personagens, que ajudam a compreendermos melhor a cidade onde vivemos”, afirmou a coordenadora científica do projeto, Raquel Henriques da Silva, em declarações à agência Lusa.

Apresentado esta quarta-feira num evento no Museu de Lisboa — Palácio Pimenta, o projeto “Olisipógrafos. Os Cronistas de Lisboa” é uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal e do Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA, com o apoio da Torre do Tombo, da Biblioteca Nacional e do Gabinete de Estudos Olisiponenses.

Na terça-feira, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, anunciou a presença na apresentação do projeto, mas acabou por faltar ao evento, “por motivos pessoais”, segundo fonte do município.

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Em representação da autarquia, esteve a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, que disse que “é com muita pena” que Fernando Medina falhou a apresentação, indicando que “o presidente, sendo um economista é um grande apaixonado por história e, sendo um homem do Porto, também é um apaixonado pela história de Lisboa”.

Segundo a coordenadora científica do projeto, Lisboa é a única cidade na Europa que tem uma disciplina própria, a olisipografia, em que os especialistas em estudos sobre a história da capital portuguesa são designados de olisipógrafos, existindo “uma produção muito importante de livros”, desde o século XIX ao século XXI.

Considerado o pai da olisipografia, Júlio de Castilho é um dos olisipógrafos que vão integrar o projeto, com a obra “Lisboa Antiga”, destacando-se ainda Gustavo de Matos Sequeira, autor de “O Carmo e a Trindade”, e Augusto Vieira da Silva, com “As Muralhas da Ribeira de Lisboa”, assim como os investigadores olisiponenses Luís Pastor de Macedo e José Sarmento de Matos.

“São livros muito importantes, mas pouco acessíveis para o leitor que não seja especialista. São livros que estão um pouco antiquados, que não têm imagens, que nos falam de nomes de ruas que às vezes já mudaram de nome, de coisas que já não estão num sítio onde é dito que está”, apontou Raquel Henriques da Silva, explicando que o projeto vai reeditar essas obras em ‘e-books’, que serão feitos pela Imprensa Nacional, “com mapas atualizados, com fotografias e com notas que esclareçam algumas coisas que são mais difíceis de entender”.

Para a historiadora, com investigação na área de História de Lisboa, conhecer o passado ajuda a tomar melhores decisões para o presente.

“Esse conhecimento do passado, quer do ponto de vista do conhecimento, quer de sensibilidade, forma-nos. Nós entendemos melhor a cidade se a conhecermos melhor e estas obras dos olisipógrafos são fundamentais para conhecer melhor a cidade e, depois, às vezes o que se conhece trata-se melhor e projeta-se melhor”, declarou.

Relativamente ao ‘site’ do projeto “Olisipógrafos. Os Cronistas de Lisboa”, a coordenadora científica prevê que seja disponibilizado “dentro de seis meses”, através da Câmara Municipal de Lisboa.

No ‘site’ vai ser possível “encontrar quem são os olisipógrafos, que obras fizeram, com informação diversificada, quer sobre o que estudaram, como estudaram e resultados dessas obras”, acrescentou.

Além disso, a iniciativa inclui a edição em papel das biografias de alguns dos olisipógrafos, adiantou Raquel Henriques da Silva, referindo que o trabalho incide em “cinco ou seis que são figuras fortes”, desde o mais antigo – Júlio de Castilho, do século de XIX – ao mais recente – José Sarmento de Matos, do século XXI, que morreu em 2018 -.

Questionada sobre quantos olisipógrafos existem, a estudiosa de Lisboa informou que a investigação tem “uma lista de dezenas de nomes”, entre o século XIX e o século XXI.

Em curso desde abril deste ano, o projeto tem a duração prevista de dois anos, pelo que deve terminar em abril de 2023, de acordo com a coordenadora científica.

A vereadora da Cultura da Câmara Municipal, Catarina Vaz Pinto, realçou a missão de “trazer a história de Lisboa, a memória de Lisboa, nas suas várias dimensões, para o grande público”, considerando que a história da cidade “desperta uma curiosidade enorme não só num público especializado como nos lisboetas em geral”.

Defendendo que é preciso “ajudar também a construir e a preservar essa memória”, Catarina Vaz Pinto afirmou que o projeto “Olisipógrafos. Os Cronistas de Lisboa” vai “dessacralizar algo que muitas pessoas pensam que é só para alguns”, democratizando o acesso à cultura junto dos cidadãos em geral.