E se? A pior pergunta de todos no desporto, e se?

Bota Lume: João Almeida faz novo segundo lugar, ganha tempo à concorrência e ainda pode sonhar com top 5

E se depois do fantástico quarto lugar no contrarrelógio inicial a Deceuninck Quick-Step não tivesse passado aquela imagem a João Almeida trabalhando para ser Remco Evenepoel a bonificar antes da chegada a Novara?

E se na chegada a Sestola, que fez o primeiro corte no grupo, João Almeida tivesse outro tipo de apoio que foi a 100% para Remco Evenepoel, evitando que acabasse a mais de quatro minutos das grandes figuras?

E se, nas etapas iniciais de montanha, João Almeida não tivesse sempre de abrandar o seu ritmo, abdicar de ir com os da frente e ficar para apoiar o companheiro Remco Evenepoel e manter o belga entre os primeiros?

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Problema: o “se” é um termo que não se aplica no desporto. E por isso é uma pergunta sem resposta.

Uma coisa é certa: João Almeida iria em condições normais terminar no top 10, dificilmente chegaria ao quarto lugar de 2020, seguramente chegou e sai melhor corredor desta segunda edição à Volta a Itália. Está melhor nas subidas mais longas, está menos dependente de uma equipa que lhe falhou em 2020, está mais maduro a ler as corridas e a saber como colocar-se. A Deceuninck Quick-Step, também pela mais do que provável saída no final da temporada do corredor português, arriscou inverter aquilo que levava como plano A, arriscou no regressado Remco Evenepoel e essa ideia alternativa saiu-lhe mal. No entanto, o português não desistiu.

Não desistiu quando, na subida a Cortina d’Ampezzo ganha por Egan Bernal, agarrou bem os corredores que iam na frente e conseguiu um importante segundo lugar. Não desistiu quando, a seguir ao segundo dia de descanso, foi lutar pela primeira vitória de etapa numa grande Volta e acabou em segundo apenas atrás de Dan Martin em Sega di Ala. Não desistiu quando, antes de uma etapa decisiva, fugiu atrás de Simon Yates e voltou a ser segundo só superado pelo britânico na chegada a Alpe di Mera. Com isso, chegou ao oitavo lugar da classificação geral, consolidou essa posição e abriu horizontes para poder sonhar com o top 5 entre o tempo que poderia ganhar no contrarrelógio. No entanto, e antes disso, havia 164km até Valle Spluga. E aí estava a etapa decisiva.

A ligação entre a DSM e a Bahrain acabou por dar outra espectacularidade a esta penúltima etapa, sobretudo quando Romain Bardet, Hamilton e Storer arriscaram na descida tendo o segundo classificado, Damiano Caruso, num ponto intermédio com o apoio de Pello Bilbao. João Almeida, sempre com Simon Yates por perto, andou no grupo do camisola rosa Egan Bernal, que tinha a seu lado Daniel Martínez. E até nesse grupo houve alguns ataques, como Vlasov que tentou aproveitar uma descida para descolar e ficar mais perto dos fugitivos e com o trabalho da Ineos a deixar algumas vezes o português cortado mas capaz de colar de novo no grupo.

Os últimos oito quilómetros da etapa e de montanha do Giro chegavam com 40 segundos de diferença entre as duplas da Bahrain (Caruso e Pello Bilbao) e da DSM (Bardet e Storer) e o grupo de Bernal, Yates, Vlasov, João Almeida e companhia logo de seguida sendo visível mais uma vez pela posição na subida que o português não estava nos seus melhores dias. Mais uma vez, o Pantera mostrou que, aos 22 anos, é um fenómeno: depois de dois momentos em que parecia perto de sair do grupo, aguentou sempre, viu Hugh Carthy e Vlasov ceder após um ataque de Martínez, ultrapassou os rivais, recolocou-se na roda de Simon Yates e superou também depois o britânico até ao último quilómetro, quando cedeu perante Martínez e Bernal. Lá na frente, Damiano Caruso conseguiu segurar a vitória seguido pelos dois corredores da Ineos, Romain Bardet e João Almeida.

Na classificação geral, Egan Bernal carimbou em definitivo a vitória virtual no Giro, tendo agora 1.59 de avanço sobre Damiano Caruso, ao passo que Simon Yates prejudicou e muito a ambição que tinha ainda de chegar ao segundo lugar ao ficar com 1.24 de atraso do transalpino. João Almeida consolidou ainda mais a oitava posição, tendo já mais de três minutos e meio de vantagem sobre Tobias Foss, tendo os seguintes tempos para bater no contrarrelógio plano de 30km este domingo em Milão: 28 segundos para Hugh Carthy (sétimo), 54 segundos para Daniel Martínez (sexto), 1.02 para Romain Bardet (quinto) e 1.43 para Aleksandr Vlasov (quarto).