Miguel Oliveira tinha razões para sorrir. Porque foi muito consistente em todas as sessões de treinos livres em Mugello. Porque conseguiu pela primeira vez esta época dar continuidade a essas melhorias na Q2, chegando a rodar na terceira posição a um minuto do final antes de baixar ao sétimo posto. Porque alcançou aquela que foi a melhor qualificação da temporada. Porque mostrava argumentos para fazer no mínimo o primeiro top 10 ou até top 5 de 2021, afastando de vez o início complicado de Mundial. Tinha mas ninguém sorriu este domingo.

Prometeu e cumpriu: Miguel Oliveira faz sétimo registo na Q2 e consegue melhor qualificação do ano em Itália

“Foi uma queda um pouco assustadora. Não temos notícias de nada mas espero que corra tudo pelo melhor”, dizia o piloto português no sábado, na sequência do grave acidente de Jason Dupasquier no último minuto da qualificação do Moto3 após uma queda na curva 9 que alterou também todos os horários de Moto2 e MotoGP. “RIP Jason”, escreveu na manhã deste domingo, depois da confirmação que o luso-suíço não tinha resistido aos ferimentos da véspera. A notícia chegou quando os pilotos de Moto2 já estavam na grelha (e a prova terminou sem que soubessem da trágica informação) e os de MotoGP preparavam nas boxes a corrida. E tudo mudou.

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A pior notícia chegou esta manhã: morreu o piloto luso-suíço Jason Dupasquier. Tinha 19 anos

Antes do minuto de silêncio guardado em memória do jovem piloto de 19 anos, os pilotos foram multiplicando homenagens a alguém recordado pela boa disposição, pelo sorriso sempre aberto e pela simpatia. Nos capacetes, nas suas zonas das boxes, nas luvas. Como dizia de forma dura mas real a transmissão da SportTV, no momento em que todos os pilotos de MotoGP foram prestar os sentimentos aos elementos da Prüstel presentes perto da moto do luso-suíço durante a homenagem, era quase como passar de uma espécie de funeral para uma corrida, o que obrigava a uma capacidade mental redobrada para esquecer um momento negro e que irá marcar de forma inevitável este ano de 2021 e ganhar o foco numa das pistas mais exigentes do calendário.

E Miguel Oliveira partia com legítimas ambições reforçadas de juntar à melhor qualificação do ano o melhor resultado do ano em corrida. “Falhar a segunda linha por tão pouco [0,002s] é frustrante mas a moto portou-se bem e espero uma boa corrida. Se é para vencer ou ficar no top 5 só saberemos amanhã [domingo]. Um bom resultado seria terminar dentro do top 5. A velocidade extra é decisiva para ultrapassar e defender a posição nas retas. Corremos depois da prova de Moto2 e a pista tem menos borracha. Com o calor e os cones de ar, é mais fácil sobreaquecer os pneus”, comentara este sábado, sabendo das dificuldades extremas da concorrência.

O arranque dificilmente poderia ter sido melhor: quando a moto de Bastianini estava ainda no chão depois de uma queda ainda antes de chegar à grelha após a volta de aquecimento, o Falcão abriu asas e voou para terceiro, apenas atrás dos dois grandes candidatos à vitória, Pecco Bagnaia (que saiu melhor) e Fabio Quartararo. No final da primeira volta, Zarco tinha passado o português, Oliveira aguentava o quarto lugar sabendo que precisava de ter especial cuidado nas voltas iniciais para aquecer o pneu duro da frente. Mas a primeira grande surpresa não iria demorar: Marc Márquez caiu e abandonou, Franco Morbidelli atrasou-se no meio da confusão, Bagnaia sofreu também uma queda aparatosa e o português regressou à terceira posição.

Miguel Oliveira estava no melhor lugar possível: apesar de não ter a velocidade das Ducati e das Yamaha na reta da meta, beneficiava da luta entre Zarco e Quarataro para andar sempre próximo da dupla e ao mesmo tempo conseguia manter um ritmo de corrida que deixava Jack Miller sem possibilidade de se chegar à sua KTM, tendo ainda o condão de tapar as duas Suzuki de Álex Rins e Joan Mir que estavam com bom andamento. A 15 voltas do final, o português tinha já uma vantagem de quase 2.5 segundos em relação ao quarto classificado, que foi durante algumas voltas de Rins até Miller passar de forma inevitável na reta em velocidade de ponta até Brad Binder entrar também na luta e “empurrar” de vez o vencedor das últimas duas provas para sétimo.

Fabio Quartararo marcava volta mais rápida atrás de volta mais rápida, colocando também um fosse de dois segundos na frente sobre Johann Zarco, seguindo-se Miguel Oliveira e a partir daí Álex Rins numa diferença que ia começando a estabilizar nos dois segundos, até Joan Mir passar para a frente, forçar o andamento e reduzir para menos de um segundo à entrada para as últimas dez voltas. O português tentava perceber que tipo de estratégia poderia ter Zarco, que sendo muito rápido em alguns setores começava a apresentar dificuldades noutras zonas da pista, com a perceção de que ultrapassar o francês no início de volta para não dar margem de resposta deixaria o português muito próximo de uma presença no pódio porque seria complicado o piloto da Pramac com motor da Ducati reagir. Mais: até seria difícil aguentar a pressão seguinte das Suzuki.

A sete voltas do final, o Falcão atacou. E foi mais uma vez uma autêntica ave de rapina, não só passando Zarco como colocando de forma inteligente a moto para não dar margem para uma resposta na curva 1 após a reta da meta, o que garantiu a segunda posição no momento certo da corrida. A única parte das contas que falhou foi mesmo a pouca capacidade da Pramac do gaulês para “prender” Joan Mir, sendo ultrapassado logo na volta seguinte e, pouco depois, caindo para a quinta posição com uma curva mais larga à mistura aproveitada da melhor forma por Álex Rins, que voltou a falhar pouco depois com nova queda que levou ao abandono.

Apesar de toda a pressão de Joan Mir nas últimas voltas, Miguel Oliveira conseguiu aguentar o segundo lugar mas acabou por ser penalizado por ter passado por centímetros a linha divisória na última curva, caindo para a terceira posição ainda no pódio atrás do espanhol mas à frente de Johann Zarco, num final frustrante e que gerou muitas críticas tendo em conta a decisão dos comissários em relação a esse castigo. No entanto, e apenas alguns minutos depois quando os pilotos estavam a chegar à zona das entrevistas rápidas, tudo foi revertido, o Falcão manteve o segundo lugar atrás de Quartararo e Joan Mir falou na flash interview como terceiro… porque passou também os limites de pista, o que fez com que tudo voltasse à estaca inicial sem mudanças no pódio.

“Foi uma grande corrida, tivemos um dos melhores ritmos. No início não estava confiante para atacar os primeiros lugares, até porque tinha duros na frente. Tentei manter o Mir atrás, o que não foi nada fácil. Gostava de ter este pódio noutras circunstâncias, não estamos felizes. Os meus sentimentos e pensamentos estão com a família de Jason. Gostava que este desporto não fosse tão cruel”, comentou no final o piloto português.

Com este resultado, Miguel Oliveira subiu algumas posições no Mundial, ocupando ao fim de seis corridas o décimo lugar com 29 pontos, a quatro de Morbidelli e a seis do companheiro de equipa, Brad Binder. Na frente, Fabio Quartararo conseguiu um fim de semana muito importante, subindo para os 105 pontos, mais 26 do que Johann Zarco e mais 28 do que Pecco Bagnaia. Jack Miller leva 74 e o campeão em título, Joan Mir, 65.