À chegada à cimeira da NATO, nesta segunda-feira de manhã, António Costa abordou o caso que envolve a Câmara Municipal de Lisboa e a entrega de dados de manifestantes anti-Putin aos Negócios Estrangeiros russos. “Ninguém me vai pedir explicações sobre processos administrativos, porque ninguém tem dúvidas sobre a posição de Portugal em relação à Rússia”, disse o primeiro-ministro aos jornalistas ali presentes, acrescentando que os Aliados “sempre souberam de que lado Portugal se colocou”, dando como exemplo o “tempo do PREC” e “em plena Guerra Fria”.
“Bom, ninguém me vai pedir seguramente explicações sobre processos administrativos, porque ninguém tem dúvidas sobre qual é o papel de Portugal relativamente à Rússia. Já ninguém teve dúvidas quando, durante o PREC, qual foi a posição que Portugal e a maioria dos portugueses tomaram, quando em plena ‘guerra fria’ estava em causa saber de que lado nos colocávamos. Essa é uma dúvida que felizmente não existe”, respondeu António Costa quando questionado sobre se estava preparado para dar explicações aos seus Aliados sobre a transmissão de informações sensíveis a Moscovo por parte da Câmara Municipal de Lisboa.
Ainda esta manhã, António Costa defendeu que a cimeira da NATO, a decorrer em Bruxelas, é “muito importante” porque vai permitir o “reencontro” entre a Europa e os Estados Unidos, o que é “particularmente importante” para Portugal.
Os chefes de Estado e de Governo da NATO reúnem-se hoje em Bruxelas para “reforçar o laço transatlântico”, abordar os desafios criados por China e Rússia, e projetar o futuro da Aliança num mundo de “competição global”, naquela que é a primeira cimeira com a participação do novo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Entre os temas que os Aliados abordarão estará o “comportamento agressivo da Rússia”, numa altura em que prossegue a polémica em Portugal em torno da transmissão, pela autarquia lisboeta às autoridades russas, dos dados pessoais – nomes, moradas e contactos – de três ativistas russos que organizaram em janeiro um protesto, em frente à embaixada russa em Lisboa, pela libertação de Alexey Navalny, opositor do governo russo.
O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, admitiu que foi feita a partilha de dados pessoais dos três ativistas, pediu “desculpas públicas”, assumiu que foi “um erro lamentável que não podia ter acontecido” e anunciou que pediu uma auditoria sobre a realização de manifestações no município nos últimos anos.
O caso originou uma onda de críticas e pedidos de esclarecimento da Amnistia Internacional e de partidos políticos, além de Carlos Moedas, candidato do PSD à Câmara de Lisboa, ter pedido a demissão de Fernando Medina.
O embaixador da Rússia em Portugal já assegurou que a embaixada eliminou os dados dos manifestantes do protesto contra o governo de Putin realizado em Lisboa, frisando que as informações não foram transmitidas a Moscovo.