Existe uma espécie de metamorfose quando um jogador passa para a pele de treinador. Em tudo. Na forma de pensar, no relacionamento com os jogadores, até no nome – sim, o nome é uma parte importante, porque se um jogador costuma ser tratado por um só nome, seja ele próprio, apelido ou alcunha, nos treinadores são sempre dois. No entanto, há exceções a esta “regra” nascida de forma quase inconsciente no mundo do futebol. E este Europeu é um bom exemplo disso mesmo e do porquê de, em alguns casos, falar de jogadores com dois nomes.

Quando só se ouve Bach, chama-se o maestro Chiesa (a crónica do Itália-Áustria)

Blind é Daley Blind e não apenas Blind. Porquê? Antes houve Danny Blind, o seu pai, que foi campeão europeu de clubes e de seleções numa carreira de sucesso pelo Ajax. Schmeichel é Kasper Schmeichel e não apenas Schmeichel. Porquê? Antes houve Peter Schmeichel, o seu pai, que foi campeão europeu de clubes e de seleções numa carreira de sucesso pelo Manchester United. No caso de Chiesa, Enrico e Federico, fica a ligação familiar. No entanto, sem que nenhum tenha sido campeão europeu, ambos entraram na história do Europeu.

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Comecemos por Chiesa, o antigo internacional hoje com 50 anos que passou por clubes como Sampdória, Fiorentina, Parma ou Lazio: na segunda jornada da fase de grupos frente à Rep. Checa, Enrico marcou o golo que deu então o empate à Itália num encontro que terminaria com a vitória dos checos por 2-1, que mais tarde seria determinante para a eliminação da squadra azzurra. Agora Chiesa, o internacional da Juventus que antes se destacou na Fiorentina: nos oitavos de final frente à Áustria, o avançado saiu do banco, marcou o primeiro golo no prolongamento e contribuiu para a passagem da equipa de Mancini aos quartos. Pela primeira vez na história dos Europeus, um pai e um filho conseguiram marcar em fases finais da competição (25 anos depois).

Ainda assim, o principal destaque foi para Gianluigi Donnarumma, guarda-redes que conseguiu também fazer história esta noite em Wembley, mesmo tendo visto quebrada no tempo extra a série sem sofrer golos.

Após ter sido o segundo guarda-redes mais novo de sempre a jogar na Serie A, com 16 anos e 242 dias, apenas superado pelo também antigo guardião do AC Milan Giuseppe Sacchi 73 anos antes, Donnarumma tornou-se uma autêntica referência na equipa rossoneri mesmo tendo ganho apenas uma Supertaça, cumprindo de 2015 até hoje um total de 251 encontros oficiais. Esta época, que marcou uma espécie de ressurgimento que culminou com o regresso à Champions, foi a mais complicada para o internacional, que chegou a ver a família ameaçada de morte depois de assumir que iria sair no final da temporada, a última com contrato, a custo zero.

Para já, ainda não existe qualquer confirmação oficial em relação ao próximo destino mas tudo aponta para que tinha chegado a acordo com o PSG, que assinou também com outro jogador livre entretanto apresentado: o médio, e capitão dos Países Baixos, Wijnaldum. Enquanto não existe qualquer novidade sobre o tema, Gigio Donnarumma continua a brilhar na baliza transalpina e conseguiu esta noite um feito histórico, superando a maior série consecutiva sem sofrer golos pela Itália que pertencia a Dino Zoff, nos anos 70.

“Superei uma lenda e estou muito emocionado, embora os recordes pessoais venham depois porque trabalho para que a equipa ganhe. Seguir em frente a sofrer tem muito mais valor porque podemos encarar os quartos com mais confiança e de forma mais madura”, comentou no final do jogo o guarda-redes, que terá na próxima fase pela frente a Bélgica ou Portugal. E é aí que tentará começar uma nova série sem sofrer, após um total de 1.168 minutos até consentir um golo, mais 25 minutos do que o ex-guardião de Nápoles e Juventus.