A seguir à derrota de Portugal nos oitavos do Mundial de 2018 frente ao Uruguai, em Sochi, a expressão que mais se ouvia quando se falava de determinados jogadores da Seleção era “não acredito”. E esse tal “não acredito” aplicava-se a vários jogadores em vários contextos. Poderia Manuel Fernandes voltar ao Campeonato Nacional? “Não acredito”. Poderia Bruno Fernandes mudar-se para o Benfica? “Não acredito”. Poderia Gelson Martins ir também para a Premier Legue? “Não acredito”. Poderia Ronaldo deixar o Real Madrid? Aí não havia esse “Não acredito”, era apenas “não”. Um rotundo “não”. Foi mesmo isso que acabou por acontecer umas semanas depois.
Numa fase em que está fora da competição mas pode na mesma consagrar-se como o melhor marcador da fase final do Europeu (algo que aconteceria pela primeira vez na carreira), o avançado vai agora ter um período de férias sem que ninguém se consiga atravessar a 100% sobre a continuidade do jogador em Turim. Aliás, depois da última temporada, seria complicado alguém falar com aquele rotundo “não” de 2018. E percebe-se porquê.
Num período entre a eliminação da Champions frente ao FC Porto e a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões, a saída parecia um dado adquirido e bem visto por ambas as partes: a Vecchia Signora ficaria livre do encargo de 60 milhões de euros do último ano de contrato do português (embora quisesse ainda receber algo pela transferência), o jogador poderia procurar um clube que lhe permitisse jogar a principal competição europeia de clubes e todos os problemas ficariam “resolvidos”. No entanto, todo o contexto mudou. Por um lado, os bianconeri conseguiram ainda entrar na Champions; por outro, Ronaldo percebeu que não tem a facilidade de 2018 em encontrar um novo clube com as condições que pretendia. Mas há mais questões em cima da mesa.
Ponto 1: o regresso de Massimiliano Allegri ao comando técnico da equipa. O treinador que foi campeão quatro vezes noutros tantos anos e que levou a Juventus à final da Liga dos Campeões perdida contra o Real de Ronaldo reencontra o jogador depois de informações do La Repubblica que davam conta de um conselho deixado ao presidente antes de sair, em 2019: “Livre-se de Ronaldo. Ele está a bloquear o crescimento da equipa e do clube”.
Ponto 2: a vontade existente de promover uma revolução no plantel. Depois de uma época que ficou aquém das expetativas, com o quarto lugar na Serie A após quase uma década como crónico campeão, a administração que é liderada por Andrea Agnelli, e que sabe que terá avultados prejuízos neste exercício de 2020/21 depois de fechar o primeiro semestre com mais de 110 milhões de euros negativos, estuda a melhor forma de abrir uma nova era no clube aproveitando para rever a questão dos custos sem perder competitividade.
Ponto 3: a possibilidade de surgir a “tal” proposta. Numa primeira sondagem feita por alguns dos principais clubes europeus, Jorge Mendes, agente de Ronaldo, percebeu que a possibilidade de voltar ao Real Madrid não existe, que o Manchester United nunca fecha por completo a porta ao regresso do português a Old Trafford e que o PSG estaria dependente do que acontecer no mercado. Enquanto os red devils continuam a tentar de forma insistente Jadon Sancho, do B. Dortmund, os parisienses têm como grande prioridade segurar Mbappé sabendo que uma possível saída do francês terá de ser compensada ao mais alto nível. Este é o contexto possível para uma troca de clube por parte do número 7, sendo certo que os valores atuais poderiam sofrer uma redução.
É neste contexto que Ronaldo voltará a Turim depois das férias. Tudo aponta para que possa cumprir contrato com o conjunto transalpino, fechando o quarto ano na Juventus na antecâmara de participar no Campeonato do Mundo de seleções no Qatar e projetar a parte final da carreira, mas também não existe uma certeza absoluta de que será isso a acontecer. E, como se percebeu no Mundial de 2018, tudo pode mudar de figura num ápice.