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"Vamos ter saudades tuas, meu". Morreu Charlie Watts, a estrela rock discreta que marcou o ritmo dos Rolling Stones

Este artigo tem mais de 2 anos

O músico morreu aos 80 anos. É considerado um dos baterista mais influentes da história do rock. Discreto, apaixonado também pelo jazz, marcou o ritmo das canções dos Rolling Stones.

The Rolling Stones Perform At L'U Arena In Nanterre
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Redferns

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Morreu aos 80 anos Charlie Watts, o homem que, atrás dos pratos da bateria, ajudou a definir o som de uma das bandas mais incontornáveis da história da música popular: os The Rolling Stones.

A notícia foi dada por fontes como a Bloomberg, que citava um comunicado oficial e palavras do seu assessor de comunicação, Bernard Doherty. Este revelou que Watts “morreu em paz num hospital de Londres esta terça-feira, rodeado pela família”.

É com uma tristeza imensa que anunciamos a morte do nosso querido Charlie Watts. O Charlie era um marido, pai e avô muito estimado e provou ser, enquanto membro dos The Rolling Stones, um dos grandes bateristas da sua geração”, apontou ainda Doherty.

Na conta oficial dos The Rolling Stones nas redes sociais foi publicado o mesmo comunicado, que pedia ainda que “a privacidade dos membros da banda e dos seus amigos seja respeitada neste momento difícil”.

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O antigo baterista dos The Beatles (com quem os The Rolling Stones dividiram protagonismo na afirmação da popularidade do rock and roll), Ringo Starr, já reagiu à morte do amigo. Na rede social Twitter, escreveu: “Deus abençoe o Charlie Watts. Vamos ter tantas saudades tuas, meu. Paz e amor para a família. Ringo”.

Também o antigo membro dos chamados “Fab Four”, Paul McCartney, comentou a notícia através de um vídeo em que descreve Charlie Watts como “uma pedra basilar” para os Rolling Stones, “um fantástico baterista” e “um grande homem”.

“Um dos maiores bateristas de sempre do rock”. As reações à morte de Charlie Watts

Membro desde 1963 daquela que é considerada uma das bandas mais importantes da história da música popular e do rock and roll, Charlie Watts continuou a dar concertos quase até ao fim da vida.

O último espectáculo ao vivo em que Watts participou foi também o último concerto oficial do grupo que tem como vocalista Mick Jagger e como guitarrista Keith Richards: a 30 de agosto de 2019 (há dois anos) no Hard Rock Stadium, em Miami Gardens, na Flórida.

A banda tinha agendado o início da sua próxima digressão de concertos (nos Estados Unidos da América) para o mês de outubro. No início deste mês, o grupo comunicou que Charlie Watts não iria participar na digressão vindoura por ter passado por um “procedimento médico” — sobre o qual não foram dados mais pormenores.

Há poucas semanas, a mensagem oficial transmitida aos fãs da banda era de que esse procedimento médico tinha sido “completamente bem sucedido” mas que os médicos do músico tinham concluído que este precisava “de repouso significativo e de se recuperar”.

Charlie Watts Gimme Shelter, Gimme Shelter

Evening Standard/Hulton Archive/Getty Images

Charlie Watts era um dos membros da banda mais acarinhados pelos fãs, não apenas pela sua importância enquanto baterista na marcação do ritmo das canções dos The Rolling Stones (o swing que levava do jazz  foi o tempero certo para o rhythm and blues da banda) mas também pelo seu perfil discreto e calmo, invulgar numa estrela rock e que se diferenciava muito da postura mais excêntrica e espalhafatosa do frontman Mick Jagger e da assumidíssima vida de excessos de Keith Richards.

Ainda assim, apesar da sua discrição e elegância em público, nem sempre mantidas por Keith Richards e Mick Jagger (que chegaram a enfrentar processos judiciais por posse de droga), também Charlie Watts não passou incólume aos excessos do rock and roll.

Em meados dos anos 1980, curiosamente já depois dos anos loucos de Keith e Jagger, Watts começou a ficar viciado em álcool, anfetaminas e heroína. Chamou-lhe a sua “crise de meia idade”. Ao jornal britânico The Guardian chegaria a dizer, sobre esse período: “As drogas são uma coisa muito difícil de deixar. Nem sequer tomei muitas, não fui assim tão dependente e não era um drogado. Mas largar as drogas foi muito, muito difícil”.

Essas declarações foram proferidas em 2000 e, à data, Watts garantia não beber álcool, não fumar e não se drogar há 15 anos — ou seja, desde 1985. Poucos anos depois, em 2004, o músico foi diagnosticado com um cancro na garganta, tendo conseguido resistir. Os concertos agendados para outubro deste ano seriam os primeiros que Charlie Watts falharia em mais de meio século de existência dos The Rolling Stones.

Photo of ROLLING STONES

Fiona Adams/Redferns

A primeira paixão? O jazz

Nascido a 2 de junho de 1941 — tinha celebrado os 80 anos há menos de três meses —, em Londres, Charlie Watts começou a interessar-se por música muitos antes de pegar nas baquetas, colecionando desde muito cedo discos de músicos de jazz como Charlie Parker (uma das suas maiores referências) e Johnny Dodge.

Só mais tarde, já pré-adolescente (teria cerca de 13 anos), Charlie Watts começou a tocar, tentando acompanhar o som dos discos de jazz que tocavam em sua casa e inspirado também pelos movimentos que vira o baterista “Chico” Hamilton fazer.

Antes de enveredar em definitivo pela música, Charlie Watts ainda trabalhou brevemente como designer gráfico, conciliando isso com a atividade de baterista em grupos de jazz e rhythm and blues, como os Jo Jones All Stars e os Blues Incorporated. Mas a profissão paralela ficou para trás ainda no início dos seus “vintes”, quando — em meados de 1962 — conheceu Brian Jones, Ian “Stu” Stewart, Mick Jagger e Keith Richards nos bares e clubes musicais londrinos em que se tocava rhythm and blues.

Bastaram alguns meses para se deixar convencer a integrar uma nova banda, os The Rolling Stones. Alguns meses e, como lembra o jornal The New York Times, um esforço financeiro por parte dos restantes membros, que sabiam que Watts era já um baterista requisitado e bem pago pelos vários concertos que dava em clubes de música londrinos.

Uma estrela discreta, com o swing certo no pulso

Quando, embalados também pela Beatlemania e o sucesso retumbante dos conterrâneos britânicos (mas de Liverpool) The Beatles, os The Rolling Stones se tornaram uma banda de rock de estádio, Watts parecia quase uma figura dissonante, quase em território estranho.

Proveniente do mundo clássico e do jazz, mais austero até no estilo, habituado a uma certa discrição que — como chegou até a assumir publicamente — contrastava com a noção de espectáculo da pop e com a histeria de massas em estádios lotados, Charlie Watts não era o típico baterista expansivo e espalhafatoso, que movia as baquetas a força bruta e simplicidade.

Baquetas, gravatas e mais de 200 fatos no armário. O estilo de Charlie Watts, o dandy do rock

Era, ao invés, o porto seguro da banda (Keith chegou a dizê-lo com todas as letras), o homem que se encarregava de garantir que o groove estava sempre presente no ritmo, que o rhythm and blues com swing era uma constante, que a banda nunca descarrilava e que o combo rock and roll tinha sempre a base segura.

Oiça-se “Sympathy for the Devil” e aquela introdução inicial, atente-se em Charlie Watts a tornar o ritmo de uma canção dos The Rolling Stones eterno como tantas vezes o fez: em “(I Can’t Get No) Satisfaction”, em “Start Me Up”, em “Brown Sugar” e por aí fora.

Mais acelerado aqui (“Rip This Joint”, por exemplo), mais lento e subtil ali (“Torn and Frayed”), sempre certeiro, Charlie Watts podia ser sinónimo de classe. O segredo dos The Rolling Stones, da beleza das melodias de uma banda até na sua ferocidade rock, também esteve nele. E se a fama, o sucesso, os estádios cheios e a vida de estrelato nem sempre pareceram condizer com a sua personalidade, Watts não foi vítima: foi parte decisiva na criação de tudo isto. Só fez questão de, pontualmente, ir gravando e editando também os seus discos paralelos de jazz, dos anos 1980 e em especial 1990 em diante.

Charlie Watts também não foi sempre o mesmo homem que, atrás dos pratos, parecia impenetrável, a figura mais calada e sossegada no meio de um bando de diabos com sangue a ferver — e que discutiam ferozmente sobre o rumo a dar à banda, cada um puxando a corda para o seu lado, como tantas vezes Keith Richards e Mick Jagger (depois da morte do fundador Brian Jones, postumamente destratado) fizeram.

As biografias rezam — e as entrevistas corroboram — que Watts foi quase sempre espectador plácido (e mais interessado em ouvir do que falar) sempre que o verniz estalava. Mas apenas “quase”. Porque também aconteceram episódios como uma famosa madrugada em Amesterdão, em 1984, quando Mick Jagger, regressado de uma noitada a percorrer os bares da cidade acompanhado por Keith Richards, acordou Watts ao chegar ao hotel telefonando-lhe para o quarto e perguntando-lhe: “Onde está o meu baterista?”.

Redferns

Aprumado, barbeado, impecavelmente vestido de fato e gravata, Charlie apareceu-lhe no quarto 20 minutos depois. Depois de dizer ao seu cantor “nunca mais me voltes a chamar o meu baterista“, agarrou-o pelo colarinho e desferiu-lhe um gancho de direita. Até disso Mick Jagger já deverá ter saudades: Charlie Watts, o baterista que — entusiasmando tanta gente — não era de ninguém, morreu esta terça-feira, aos 80 anos.

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