A Assembleia da República aprovou esta sexta-feira um voto de pesar pela morte do militar Otelo Saraiva de Carvalho, numa votação dividida, em particular dentro da bancada do PSD. Entre os deputados sociais-democratas 12 votaram contra, 32 abstiveram-se e 16 votaram a favor, num voto que foi aprovado ainda com o PS, o Bloco, o PCP, o PAN, Os Verdes e as duas deputadas não inscritas. Ao Observador, os deputados do PSD — que tiveram liberdade de voto –, justificam a opção com a vida polémica do militar de Abril.
O ex-líder da JSD, Pedro Rodrigues foi um dos 32 deputados ‘laranjinhas’ que se absteve e justifica a opção de voto com a “circunstância de Otelo ter sido uma figura que teve um período no qual não me revejo e que o Parlamento não se pode congratular, que foi o período das FP25“, acrescentando ainda assim que “não esqueço o papel que teve no 25 de abril e a preponderância naquilo que acabou por ser a causa de uma democracia e da própria existência da Assembleia da República e desse ponto de vista, o Parlamento não pode deixar de o louvar e de o lembrar”.
Pedro Rodrigues diz ainda ao Observador que “o voto apresentado pelo presidente da Assembleia da República é relativamente equilibrado e essa foi uma das razões pela qual me abstive. Revejo-me, mas não posso esquecer um período marcante da vida de Otelo e é pela memória das vitimas das FP25 que não posso associar” ao texto de pesar aprovado.
Nesse texto, agora aprovado, a Assembleia da República diz que “não desconhecendo os vários momentos da vida de Otelo que o tornaram uma personagem contraditória, divisiva e não consensual, na altura do seu desaparecimento cumpre, sobretudo, prestar homenagem ao herói de Abril, ao corajoso capitão operacional do movimento militar de 25 de Abril de 1974″, não escapando à polémica vida do militar que morreu a 25 de julho aos 84 anos, no Hospital Militar, em Lisboa.
Jorge Paulo Oliveira segue praticamente a mesma bitola. “Um voto de pesar é sempre a expressão de lamento pela morte de alguém, pelo seu percurso de vida e por aquilo que nos deixa. É toda uma vida que é analisada, ora Otelo Saraiva de Carvalho tem um percurso que é conhecido de todos e se a ele estamos gratos pelo papel no 25 de Abril não podemos olvidar que está intimamente ligados a atos de terrorismo e isso não pode ser esquecido no momento em que se expressa o lamento”, diz o deputado social-democrata, que faz questão de vincar que “o voto contra não é uma insensibilidade à dor e sofrimento que passam familiares, amigos e camaradas“. E justifica a opção com o facto de “um voto de pesar ser a validação de um percurso de vida em toda a dimensão e Otelo Saraiva de Carvalho tem uma dimensão em que provocou dor e sofrimento físico e por isso não posso validar esse voto”.
Nesta votação, para além da divisão no PSD, votaram contra o CDS, o Chega e Iniciativa Liberal e ainda a deputada do PS, Lara Martinho. A favor votaram o PS, o Bloco, o PCP, o PAN, Os Verdes, as deputadas Cristina Rodrigues e Joacine Katar Moreira, para além de 16 deputados do PSD, entre eles André Coelho Lima, António Maló de Abreu, Margarida Balseiro Lopes ou Duarte Marques.