Mais de 40% dos estudantes universitários portugueses apresentam níveis inadequados ou problemáticos de literacia em saúde, um défice de conhecimento que é agravado pelas condições económicas das famílias, conclui um estudo esta terça-feira divulgado.

Existem assimetrias nos níveis de literacia em saúde na população universitária, com os estudantes com menores rendimentos e com pais com escolaridade mais baixa – até ao 3.º ciclo – a reportarem mais níveis inadequados ou problemáticos de literacia em saúde, independentemente do género e da idade”, avança a investigação da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP-NOVA).

De acordo com a pesquisa, quase metade da população estudantil universitária (44% ) tem um “nível inadequado ou problemático de literacia em saúde e é na área da prevenção da doença que o panorama é mais preocupante”.

Os resultados do estudo “Literacia em Saúde no Ensino Superior: Desafios em Portugal” conclui também que a região onde o aluno completa o ensino secundário evidencia diferenças, com os Açores, a Madeira e o Centro interior a registarem uma “maior proporção de estudantes com níveis deficitários de literacia em saúde”.

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A literacia em saúde é a capacidade individual para obter, processar e interpretar informação básica em saúde e serviços de saúde, para poder tomar decisões autónomas e inteligentes para si e para a comunidade.

Estes dados evidenciam que o “contexto socioeconómico é um determinante fundamental da literacia em saúde na população universitária”, salientou a coordenadora do estudo, Ana Rita Pedro, avançando que os resultados dos estudantes universitários estão em linha com o observado na população portuguesa e europeia.

“Mesmo num contexto diferenciado, como o do ensino superior, a situação socioeconómica e o meio familiar dos estudantes faz a diferença”, assegurou a investigadora da ENSP-NOVA.

O estudo revela ainda que o nível de literacia em saúde é tendencialmente mais elevado entre os alunos de cursos de maior grau – pós-graduação, mestrado e doutoramento.

Além disso, quando analisados os determinantes de âmbito académico, os alunos dos cursos não relacionados com a área da Saúde apresentam níveis de literacia mais preocupantes, que se mantêm ao longo da sua formação.

Os dados para este estudo foram recolhidos por questionário online entre dezembro de 2020 e abril de 2021, sendo a amostra constituída por mais de 4.800 respostas, recolhidas através da Rede Académica de Literacia em Saúde, uma plataforma de investigação colaborativa constituída por 18 instituições de ensino superior e centros de investigação.

Segundo dados oficiais, o número de estudantes no ensino superior atingiu um recorde com quase 412 mil inscritos no ano letivo passado.