A startup portuguesa Smartext, de António Rocha, foi a vencedora do concurso Pitch, da Web Summit. Havia 75 empresas a concorrer a este prémio. O anúncio foi feito esta quinta-feira, último dia da cimeira tecnológica.

A Smartex, sediada no parque empresarial da Universidade do Porto (UPTEC), desenvolve sensores e câmaras que detetam, através de um software de inteligência artificial, defeitos nos tecidos desde o momento da tecelagem. A empresa foi segunda no voto do público (com 42%, atrás dos 46% da Okra Solar). Mas foi a preferido do júri, o que acabou por a levar à vitória.

António Rocha tinha estado em cima do palco no final da manhã a defender a empresa portuense num pitch, com os outros dois finalistas, a Okra Solar e a LiSA. A startup portuguesa está presente no Porto, em Shenzen (China) e em São Francisco (EUA). Com a solução criada, a empresa garante conseguir reduzir o desperdício a quase 0%.

Hanna Henig, diretora de Informação da Simens, que entregou o prémio, apelidou a empresa como “intrigante” e “atrativa” por combinar a “internet of things [internet das coisas]”, com inteligência artificial, “endereçando um dos maiores problemas, a sustentabilidade”. Henig destacou também como a empresa “evita o desperdício”. “Acho que estão no caminho certo”, frisou, acrescentando que o modelo da empresa está bem desenhado e focado “no mercado certo”. “Estão na posição certa para expandir. Acreditamos que merecem este prémio”, concluiu.

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Já num curto discurso, António Rocha agradeceu o feedback e o reconhecimento, lembrando o esforço “incansável” da equipa. A empresa tem recebido atenção do setor têxtil. Por exemplo, já em fevereiro de 2019, recebeu um investimento de 250 mil dólares (cerca de 221 mil euros), depois de entrar num dos maiores programas de aceleração de hardware, o HAX.

Esta é a segunda vez que uma startup portuguesa vence o Pitch final da Web Summit, depois da Codacy, em 2014 (ainda era a cimeira realizada em Dublin, na Irlanda).

“É como comprar algo na Amazon sem saber o que é”

No pitch da manhã desta quinta-feira, António Rocha explicou que o desperdício têxtil representa 10% da produção total, sendo aquela indústria a segunda maior poluente do mundo. Atualmente, a inspeção dos tecidos está dependente da ação humana, um processo que “falha muito”, que não cobre toda a produção e que implica colocar pessoas a olhar para os tecidos para detetar “defeitos minúsculos que o olho humano dificilmente vê”. Há ainda, defendeu, uma “falta de rastreabilidade”: “os fabricantes compram e vendem materiais sem saberem qual a sua qualidade. É como comprar algo na Amazon sem saber o que é”.

Com recurso a câmaras e sensores, António Rocha diz que é possível reduzir o desperdício a quase 0%. “É o sonho de todos os fabricantes têxteis no mundo”, observou. Em 2021, segundo informação projetada no ecrã da Web Summit, a solução encontrada pela startup conseguiu poupar 7,5 milhões de litros de água e 67 mil kg de tecido. A ideia é expandir para outras indústrias com problemas semelhantes, como a do papel e do plástico.

A solução, explicou o empreendedor, implica uma intervenção nas máquinas que evite os defeitos nos tecidos, mas sem toque, através de câmaras. “A intervenção não é óbvia nem forte”, referiu. A empresa já assegurou contratos de três milhões de dólares (cerca de 2,6 milhões de euros). “Só estamos a começar”, rematou.