O esquema de tráfico de diamantes, ouro e drogas montado por militares portugueses em missões da Organização das Nações Unidas (ONU) envolvia mais de 40 empresas, algumas delas fachada, conta esta terça-feira o Público. O alerta para a operação ilícita terá sido dada por um intérprete da missão a quem o principal arguido do caso, Paulo Nazaré, terá prometido 20% dos lucros de um transportes de diamantes.
Segundo o Público, Paulo Nazaré já deixou as Forças Armadas e está a viver no continente africano, não tendo sido detido pela Polícia Judiciária no âmbito da Operação Miríade, que desmantelou a rede de tráfico esta segunda-feira. O esquema envolvia a participação de dois agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), um militar da Guarda Nacional Republicana (GNR), um advogado, um sargento e militares dos comandos. Quarenta pessoas foram constituídas arguidas, indica o Jornal de Notícias.
Entre os dez detidos esta segunda-feira na Operação Miríade não está nenhuma alta patente das Forças Armadas, indicou fonte judicial ao Expresso. Nem todos são militares ou ex-militares (alguns eram testas de ferro envolvidos no branqueamento de capitais), mas os que foram apanhados pela Polícia Judiciária são praças dos Comandos que recentemente deram entrada nos cursos de formação da GNR e da PSP.
Todos terão estado na República Centro Africana, origem dos produtos traficados, entre março e setembro de 2019. De acordo com o Diário de Notícias, fariam parte do 5ª Força Nacional Destacada mas, depois de substituídos pela 6ª, terão sido denunciados pelo comandante deste batalhão, o tenente-coronel paraquedista Victor Gomes, após ter sabido dos esquemas a partir de uma fonte local — o intérprete, segundo o Público.
Os primeiros relatos só falavam do tráfico de diamantes — não de ouro nem de droga — e do envolvimento de dois militares. Mas as escutas revelaram um esquema muito mais amplo de tráfico, com mais pessoas (militares e civis) na estrutura, com o transporte de mais produtos e com o prática de outros crimes além do próprio tráfico — nomeadamente branqueamento de capitais e burlas informáticas.
Numa das escutas, dois dos arguidos conversaram sobre um esquema que podia lucrar 500 milhões de euros. O plano era enviar os produtos da República Centro Africana para o aeroporto Figo Maduro, por via aérea, e daí para a Bélgica por via terrestre. Já em território belga, o branqueamento de capitais ocorria por aquisição de moedas virtuais: segundo o Jornal de Notícias, terão sido movimentados 1,5 milhões de euros.