O Partido dos Trabalhadores (PT) brasileiro, do ex-presidente Lula da Silva, retirou esta quarta-feira do seu site o comunicado em que qualificava as eleições na Nicarágua, em que Daniel Ortega foi reeleito Presidente, como “grande manifestação popular e democrática”.
Em causa estão as eleições presidenciais na Nicarágua do passado domingo, que foram consideradas uma “farsa” por grande parte da comunidade internacional, mas apoiadas pelo partido de Lula da Silva.
O PT, maior formação de esquerda da América Latina, que governou o Brasil entre 2003 e 2016, primeiro com Lula e depois com Dilma Rousseff, apagou o comunicado da sua página na internet sem dar explicações, após a avalanche de críticas que recebeu, inclusive de intelectuais nicaraguenses refugiados no Brasil, pelo apoio a Ortega.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, esclareceu numa mensagem na rede social Twitter que a nota do partido sobre as eleições de domingo na Nicarágua “não foi submetida à direção partidária”, mas também não reprovou ou desautorizou a publicação, nem quis expressar a posição do partido sobre a democracia na Nicarágua.
AVISO: a agenda de conversas do PT e do presidente Lula é do tamanho do Brasil, mas ñ estamos tratando c/ ninguém s/ candidato a vice. A formação de uma chapa será fruto do processo político e ñ será condicionada por disputas regionais em nenhum estado, por mais importante q seja
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) November 10, 2021
“A posição PT em relação a qualquer país é de defesa da autodeterminação dos povos, contra interferência externa e respeito à democracia, por parte de Governo e oposição. A nossa prioridade é debater o Brasil com o povo brasileiro”, escreveu Gleisi.
Na nota publicada no site do PT na terça-feira, assinada pelo secretário para as Relações Internacionais do partido, Romenio Pereira, a vitória de Ortega foi qualificada como “uma grande manifestação popular e democrática”, apesar de a legitimidade das eleições ser questionada pela maioria da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia.
Os críticos do processo eleitoral alegam que a participação democrática foi restringida pela prisão de sete candidatos à Presidência pela oposição, candidatos esses que despontavam como os principais adversários de Ortega, a dissolução de três partidos políticos e o controlo sandinista sobre o órgão eleitoral, entre outros.
“Os resultados preliminares, que sinalizam a reeleição de Daniel Ortega e Rosario Murillo, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), confirmam o apoio da população a um projeto político cujo objetivo principal é a construção de um país sociedade socialmente justo e igualitário”, indicou o PT na nota agora apagada.
No texto, o PT acrescentou que espera continuar junto com o FSLN no caminho da construção de uma América Latina livre e soberana, de uma região de paz e democracia social que possa servir de exemplo para o mundo.
Lula, a quem as sondagens apontam como favorito às eleições presidenciais de outubro de 2022 no Brasil, até ao momento não comentou o sufrágio na Nicarágua, mas nunca questionou a situação democrática ou de direitos humanos em países cujos líderes de esquerda têm sido aliados, como os de Cuba, Nicarágua e Venezuela.