Foi em 2003, frente a Mark Philippoussis, que começou a ser escrita em letras douradas a melhor parte, até agora, da história de Roger Federer no ténis mundial. Pode discutir-se, de forma algo infértil provavelmente, se é o suíço o melhor tenista de sempre, mas um dos melhores será certamente, até porque os números corroboram esta ideia. Com 20 Grand Slams na vitrina, os mesmos que Rafa Nadal e Novak Djokovic, é desde 2018, no Open da Austrália, que Federer não conquista um major. Contudo, o ex-número 1 do mundo e medalhista olímpico, entre outros e variados títulos, tem passado por anos complicados, muito devido às lesões, o que não tem permitido que explane o seu ténis da melhor forma.

Pode ser pela idade, pode ser pelo crescimento qualitativo dos adversários e até pelo surgimento da nova geração, mas a verdade é que Roger não tem conseguido os mesmos resultados. As tais lesões não têm ajudado nada e o suíço está agora a recuperar de mais uma, após uma intervenção cirúrgica ao joelho direito. Ao jornal suíço Tages-Anzeiger, o tenista, que é um dos atletas mais conhecidos (e mais bem pagos) do mundo, admite as dificuldades, mas explicou que as prioridades são agora outras, apesar de o ténis ser ainda, claro, muito importante.

Com o mundo do ténis e do desporto expectante para que Federar volte ao seu torneio de Wimbledon, o suíço diz que ficaria “incrivelmente surpreendido” se conseguisse participar no Open inglês, no final do mês de julho. Posto isto, o Open da Austrália, já no início de 2022, está obviamente fora dos planos. Espera-o um “longo processo de reabilitação”, segundo o próprio, sendo que resolveu falar agora apenas após o primeiro “check up com os médicos”.

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“Os exames após a época de relva mostraram que o meu menisco direito estava lesionado outra vez. Teve de ser cosido, o que significa estar imobilizado, e os médios aproveitaram para tratar também a minha cartilagem. É para o meu bem estar a longo prazo. É mais importante do que as operações de 2020 [também ao joelho direito] que eram mais para aliviar sintomas. Este foi um processo de restaurativo”, explicou, acrescentando que a equipa médica lhe disse que podia fazer um jog ligeiro no início do ano e “chegar progressivamente ao court“. “Em março ou abril posso começar com movimentos mais complexos e a ver com o ténis. Espero voltar no verão de 2022, mas os próximos quatro ou cinco meses serão cruciais. Saberei mais claramente na primavera”, disse.

Roger Federer, questionado pelos timings e objetivos de regresso, fez questão de explicar que esta última operação foi feita para que conseguisse “esquiar e jogar ténis ou futebol” com os filhos durante “as próximas décadas”. “A minha principal motivação é ficar em forma para a vida normal, mas entrei neste processo de reabilitação com a mentalidade e corpo de uma atleta de topo”, frisou, admitindo que gostaria de ver “onde conseguiria chegar como tenista profissional” mais uma vez. “Desejo dizer adeus à minha maneira num court de ténis”, garantiu.

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Para Federer “não faz muita diferença voltar em 2022 ou 2023, com 40 ou 41 anos”. “Não interessa, a questão é se consigo torturar-me todos os dias para o meu regresso. O meu coração hoje diz que sim. Gostava de tentar jogar grandes encontros outra vez. Não será fácil, mas vou tentar”, explicou, falando ainda sobre a imagem que quer deixar aos fãs ou as recordações que estes terão dele e a do seu legado: “Que imagem vão ter? O meu último set em Wimbledon em julho (2021)? Ou os meus títulos do Grand Slam e o que os fez sentir quando me viram jogar? Acho que é a última opção. Seria fácil dizer ‘ok, já dei muito e já recebi muito, vou parar por aqui’. Mas estou a investir tudo para voltar também como maneira de agradecer aos meus fãs, que merecem melhor do que a imagem com a qual ficaram da minha última temporada de relva”.

“Voltou ao circuito mundial para uma pequena volta ou algo maior? Ninguém sabe, nem os médicos, nem eu. Mas luto por isso. Para ser claro, o meu mundo não vai colapsar se nunca mais jogar a final de um Grand Slam. Mas é o meu sonho voltar. Acredito nisso. Acredito nesse tipo de milagres e já os vi. A história do desporto às vezes escreve destes milagres. Sou realista, seria um grande milagre”, finalizou Roger Federer.