Depois de uma derrota inesperada em Loures, Bernardino Soares volta a ter um papel de destaque na estrutura do PCP. Segundo apurou o Observador, Bernardino ficará responsável dentro do partido pelos assuntos da Saúde, uma área na qual soma anos de experiência.

O papel será assumido já esta sexta-feira, uma vez que o ex-autarca de Loures ficará já encarregue de ir à reunião que juntará peritos e políticos no Infarmed, para discutir as medidas que Portugal deverá adotar para conter a progressão da pandemia, que se tem vindo a agravar este outono.

Bernardino assumirá, assim, e em conjunto com a sua participação como comentador na CNN Portugal (canal que é lançado já na próxima segunda-feira), um papel de destaque na estrutura do partido. Isto depois de ter perdido a Câmara Municipal de Loures, que governou durante dois mandatos, em 2013 (através de um acordo com o PSD, o chamado “vodka-laranja”) e em 2017 (com a CDU sozinha). Em outubro, a sua derrota foi uma das surpresas da noite e juntou-se às outras cinco câmaras — saldo líquido — que os comunistas perderam.

Bernardino é uma cara bem conhecida fora do partido, por ter alguma presença mediática e sobretudo por ter sido eleito deputado em seis legislaturas seguidas, desde 1995, antes de assumir o papel de autarca em Loures. E tem experiência precisamente nos assuntos da Saúde.

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Em Loures, lidou com a pasta do hospital Beatriz Ângelo, que funcionou nove anos, desde a sua criação em 2012, em Parceria Público-Privada com o grupo Luz Saúde. O PCP opõe-se frontalmente a este tipo de contratos, tendo o então autarca mostrado satisfação quando o Governo anunciou, em 2020, que iria cessar o regime de PPP em Loures (na semana passada, confirmou que vai mesmo passar para gestão pública, não voltando assim a abrir concurso para os privados).

Na altura, Bernardino disse aos microfones da TSF que a “preferência” da autarquia era por uma gestão pública, mas avisou que seria preciso garantir que, num processo de “transição”, não haveria qualquer “situação de rutura”. E o ex-autarca nunca se mostrou inflexível, mesmo relativamente à gestão privada: na mesma altura, admitiria ter “uma boa relação institucional” com a gestão da Luz Saúde.

Em entrevista à revista Saúda, em 2018, apontaria também a “disponibilidade para colaborar com projetos” do grupo e a relação “sem nenhum sobressalto” com a autarquia, apesar de apontar “insatisfação” quanto a problemas nas urgências ou a lacunas em algumas especialidades que o privado não oferecia. Sem considerar a solução PPP “positiva”, assumia: “Não estou a dizer que uma gestão pública resolveria todos os problemas (…) O privado tem o seu espaço, não pode é viver à custa do público“.

PCP prepara listas e programa

A reorganização no interior do PCP surge numa altura em que o partido já prepara, em simultâneo, a sua lista de candidatos a deputados, que revelará em breve, como adianta fonte oficial do partido ao Observador.

“O processo de elaboração das listas e a divulgação de candidatos conhecerá desenvolvimentos ainda na segunda quinzena de novembro“, garante. “A intervenção eleitoral é assegurada por estruturas específicas – comissões e grupos de trabalho – que garantem questões como as da programação, materiais de divulgação e propaganda, e elaboração de conteúdos programáticos.”

Significa isto que até ao fim do mês se conhecerão, pelo menos em parte, os nomes que o PCP quer levar à Assembleia da República. O partido tem mostrado uma preocupação acentuada em renovar o grupo parlamentar, tendo em 2019 colocado a jovem Alma Rivera (então com 28 anos) em segundo lugar no círculo de Lisboa e candidatado também Duarte Alves, da mesma idade, que já em 2018 tinha entrado no Parlamento, mas para substituir o ex-deputado Miguel Tiago na central pasta das Finanças.

De notar será, também, a constituição das listas tendo em conta os lugares que o PCP considerar elegíveis: em 2019, perante um rombo considerável no tamanho da bancada (passou de 15 para 10 assentos), escassos dias depois da eleição o histórico Francisco Lopes abdicou do mandato que tinha conquistado em Setúbal para dar lugar ao deputado Bruno Dias. O partido justificou então que, face ao “menor número de deputados” com lugar na bancada e a necessidade de dar resposta a várias áreas, esta seria a solução mais eficaz. Resta saber se desta vez os comunistas farão as contas de forma mais ou menos ambiciosa.