Foram encontrados fortuitamente na Nova Zelândia três diários de bordo que relatam viagens exploratórias e de resgate feitas à Antártica há mais de 100 anos, noticia o jornal britânico The Guardian.
O local em que os diários estavam armazenados, provavelmente há décadas e sem que ninguém deles tivesse conhecimento, era uma arrecadação dos escritórios da empresa estatal de serviços meteorológicos da Nova Zelândia, a Met Service, equivalente ao IPMA em Portugal.
Trata-se de descobertas históricas, relacionadas com expedições àquele continente feitas por dois dos mais importantes exploradores do início do século XX: Robert F. Scott e Sir Ernest Shackleton.
Um dos diários de bordo, que remonta a 1916 e 1917, refere-se à viagem do navio SY Aurora e relata a operação de salvamento e resgate de uma expedição anterior à Antártida liderada por Ernest Shackleton, no navio Endurance. A operação de resgate culminou em janeiro de 1917.
Os restantes dois diários de bordo encontrados, datados de 1910 e 1911, foram escritos durante uma viagem histórica e trágica do navio Terra Nova — a última feita pelo explorador Robert Falcon Scott, que morreu juntamente com outras quatro pessoas na viagem de regresso dessa travessia.
Robert Falcon Scott, Henry Bowers, Edgar Evans, Lawrence Oates e Edward Wilson viajavam no Terra Nova com o intuito de se tornarem os primeiros homens a chegar ao Pólo Sul, mas acabaram por chegar depois (34 dias depois) de uma expedição liderada pelo explorador norueguês Roald Amundsem.
Foram ainda encontrados na já referida arrecadação da MetService inventários e cartas escritas por Sir Douglas Mawson, um famoso geólogo australiano e explorador da Antártida. Os documentos foram detetados na sequência do processo de alteração de morada da MetService, que se preparava para mudar-se para uma nova sede em Wellington.
O gestor dos serviços de informação da MetService, Kevin Alder, explicou (citado pelo The Guardian) os contornos das descobertas: “Ninguém fazia ideia alguma de que estes documentos sequer existiriam. Estão esquecidos há muito, provavelmente perdidos na mesma prateleira há 50 anos”.
Considerando os diários de bordo “um instantâneo das condições vividas naqueles dias”, Alder quis vincar ao The Guardian que os documentos incluem observações feitas sobre pinguins, orcas e o gelo marinho daquele tempo. Ou seja, que não se limitam a relatar a viagem mas também a região naquela época. E acrescentou:
É tão espantoso que isto tenha visto a luz do dia agora, 110 anos depois… fico bastante emocionado quando penso sobre isto e quando falo do assunto.”
Já o presidente executivo da empresa de serviços meteorológicos da Nova Zelândia, Stephen Hunt, considerou os documentos encontrados “artefactos históricos de valor incalculável” que retratam “uma era de tremenda coragem e de sacrifícios extremos”. Os relatos de expedições em causa contêm “descobertas e investigação científica, incluindo um registo meticuloso das condições geográficas, meteorológicas e oceânicas daquele tempo”, acrescentou ainda Hunt.