O Teatro Nacional D. Maria II vai ser alvo de obras de recuperação num valor estimado de 9,8 milhões de euros, ao longo do ano de 2023, período durante o qual a programação vai percorrer todo o país.

O anúncio foi feito esta segunda-feira numa conferência de imprensa para apresentação do projeto de obras que serão realizadas no edifício deste teatro situado no Rossio, em Lisboa, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do investimento destinado à valorização, salvaguarda e dinamização do património cultural.

De acordo com a presidente do conselho de administração do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), Cláudia Belchior, durante o próximo ano será lançado o concurso público e o teatro será esvaziado, para iniciar as obras em 2023. A previsão é que o teatro reabra no início de 2024.

Durante o período de intervenção, todo o material e espólio do TNDM será guardado em armazéns. No que respeita à programação, está desenhada para percorrer todo o território nacional, começando no Norte e descendo para o Sul, com passagem pelas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, conforme explicou o diretor artístico do teatro, Pedro Penim.

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Esta itinerância dá continuidade à política que o TNDM tem desenvolvido de promoção do contacto do público com as obras, tornando-o acessível a todos, de acordo com os responsáveis.

Além da apresentação de clássicos, estão previstos espetáculos experimentais, produções nacionais e propostas internacionais, espetáculos para famílias e de mediação de públicos, entre outros, disse Pedro Penin, considerando tratar-se de um “projeto ambicioso e desafiante”.

O diretor artístico não quis adiantar para já que peças clássicas pretende apresentar.

Durante o encerramento do TNDM, os espetáculos serão articulados com a Direção Geral das Artes e a recém-criada Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses.

As obras estruturais previstas para o edifício vão “mudar o paradigma dentro da instituição”, considerou Cláudia Belchior, destacando tratar-se de uma “obra muito ambiciosa”, que não se faz desde que o teatro reabriu em 1978 — depois de 14 anos de reconstrução, na sequência do incêndio que em 1964 destruiu todo o seu interior — e que não se voltará a fazer tão cedo.

O projeto está a cargo do arquiteto Francisco Pólvora, da BJF Arquitectos, gabinete de arquitetura responsável pelo desenho e desenvolvimento do projeto, que está há dois anos a trabalhar com uma vasta equipa de mais de 15 especialidades.

De acordo com Francisco Pólvora, o projeto de reconstrução manterá os traços originais, mas com grandes inovações, que passam por centralizar num único espaço vários serviços dispersos pelo teatro.

Esta área é a antiga sala de cenografia, localizada por cima da sala principal, a sala Garrett, que, devido ao elevado pé direito, terá uma mezzanine (com escadas laterais de acesso), onde vão estar quase todas as estruturas do teatro, e um jardim de inverno.

“A nossa preocupação foi tirar partido do pé direito e da estrutura elegante”, mantendo essa espacialidade, e a “oportunidade de criar um jardim de inverno, que estabeleça uma interface entre o interior e o exterior”.

Será, então, criada uma zona de trabalho à volta do novo jardim de inverno, que será forrado a pedra lioz, “como se a fachada do edifício entrasse no jardim”, explicou.

A zona da sala de costura vai ser completamente aberta e terá lanternins, que farão a iluminação e ventilação do espaço, sendo visíveis do exterior, a partir do largo da Igreja de São Domingos.

A abertura de janelas é, de resto, uma das apostas deste projeto que pretende trazer ao teatro não só mais luz natural e ventilação, como transparência.

Essa intenção está patente, por exemplo, na ideia de transformar as “zonas de arrumação” de adereços e figurinos, existentes nos caminhos de acesso à antiga sala de cenografia, em “vitrinas expositórias”, para serem visíveis por quem passa pelo teatro.

Além do sistema de iluminação cénica e de som, vão também ser intervencionados os sistemas de climatização, nomeadamente para melhor conservar o espólio guardado no arquivo e na biblioteca.

Um protocolo assinado com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa permitiu fazer um rastreamento a laser e um levantamento cromático da sala e de outros espaços do teatro, com o objetivo de valorizar os elementos decorativos, designadamente na Sala Garrett.

A livraria vai passar a integrar a bilheteira e será criado um módulo em madeira que vai forrar as paredes e o teto, permitindo assim arrumar e manter mais acessível maior quantidade de stock.

Francisco Pólvora destacou ainda a recuperação que será feita da fachada do edifício e uma nova intervenção na iluminação com vista a uma maior eficiência energética.

Presente na conferência de imprensa, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, lembrou o passado recente de “dificuldades” que se refletem ainda na atualidade, sublinhando a importância de “assumir este tempo como de mudança positiva”.

Segundo a governante, “o Plano de Resolução e Resiliência é o maior estímulo para a cultura e um pilar fundamental” para o desenvolvimento do país.

As verbas serão aplicadas na promoção da transição digital e da digitalização, assim como na salvaguarda e dinamização do património, estando previstas, neste âmbito, intervenções em 46 museus e monumentos e em outros dois teatros nacionais.