O estilo de jogo de Rafael Nadal desde muito cedo colocou dúvidas nos especialistas e nos adeptos. A maneira e a intensidade com que colocava o corpo no jogo e as lesões crónicas levantavam muitas sobrancelhas. Cerca de 20 anos e duas dezenas de vitórias em torneios do Grand Slam, as notícias da sua queda foram manifestamente exageradas.

Contudo, ninguém foge à idade e muito menos tanto tempo a situações sem fim à vista. Na manhã desta segunda-feira (em Portugal, com um horário completamente díspar na Austrália), Nadal venceu o seu encontro da segunda ronda do Open da Austrália, frente a Yannick Hanfmann, número 126 do ranking mundial, e chegou à terceira ronda pela 16.ª vez em 17 participações. No final do jogo, no entanto, não escondeu que tem “um problema que não tem solução”: a lesão no pé.

Apesar da vitória por 3-0, com parciais de 6-2, 6-3 e 6-4, Nadal referiu à imprensa que este encontro era uma “pequena armadilha”. Segundo a Marca, o maiorquino referiu que “todos os encontros são difíceis e apesar do ranking de Hanfmann dizer que não, o jogo disse que sim”.

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“São jogos incómodos que é necessário ganhar. Claro que tenho de fazer as coisas melhor se quero aspirar a fazer algo aqui. Não vou enlouquecer com a exigência, não acredito que as coisas saiam perfeitas, o que quero é ser competitivo“, afirmou o tenista de 35 anos que, pela primeira vez sem um dos seus grandes rivais num torneio do Grand Slam (Federer ou Djokovic), pode destacar-se deles e chegar às 21 vitórias nos majors, tornando-se, pelo menos em termos de números, o melhor de sempre. Parece uma long shot, mas com jogadores deste calibre nunca se sabe.

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Na terceira ronda segue-se o gigante russo Karen Khachanov, um rival com “muita identidade”, mas Rafa foca-se no facto de estar “a competir mais ou menos bem”. “Sei que não estou perto do meu máximo, mas espero a pouco e pouco mover-me melhor e encontrar as minhas posições e automatismos em campo. Perceber quando tenho de fazer umas pancadas e quando tenho de bater outras”, acrescentou.

Acabado de vencer o ATP 250 de Melbourne, o espanhol referiu que “ter um título sempre dá tranquilidade”. Mas há coisas que não consegue esconder, como, recorda o Guardian, o Síndrome de Muller-Weiss, que o atormenta desde miúdo e, neste caso, causa uma lesão crónica no pé esquerdo.

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“Com o escafóide [társico] partido ao meio é difícil esquecer a lesão. Isto é a verdade e não será esquecido o resto da minha vida. Outra coisa é enganar toda a gente e a mim. Tenho um problema que não tem solução. Outra coisa é que me deixe competir com mais ou menos garantias e é o que estamos a tentar“, disse o tenista, com uma esperança pragmática..

“Não espero que as condições para o resto da minha carreira sejam perfeitas, mas confio que me deixem continuar com a minha atividade profissional. O que não vou fazer é jogar sem ter opções nenhumas ou com sofrimento extremos. Sofrimento com objetivos vale a pena”, garantiu.

Sublinhando que joga  porque isso o faz feliz, avisou: “Se chegar a um momento em que a dor supera tudo e falta o sonho de conseguir objetivos, então é o momento de pensar em outras coisas”.

Ainda não está nessa linha de pensamento, assegurou. “Volto com muita ilusión [sic] depois de muitos meses sem poder fazer o que fazia. Não sou negativo, sou uma pessoa no geral muito positiva e tento ver as coisas pensando que vão melhorar”, explicou o tenista, que falou ainda em ver o “copo meio cheio”.

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Chegou a não ser claro, depois de um 2021 em que só foi a um torneio e de um caso de Covid-19 que o deixou “muito doente e com febre”, de cama durante alguns dias, que Nadal estivesse no Open da Austrália. Mas está, e os fãs do desporto em geral e do ténis em particular só podem ficar contentes com isso. Veremos onde chega um dos três homens que tem 20 vitórias em torneios do Grand Slam e que traz consigo a fúria espanhola.