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Guiné-Bissau. "Queriam matar o Presidente da República, o primeiro-ministro e os ministros”

Este artigo tem mais de 2 anos

Mais que um golpe de Estado, os que atacaram o Palácio do Governo da Guiné-Bissau queriam "matar o Presidente da República, o primeiro-ministro e os ministros”, garante o chefe de Estado do país.

Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló
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Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló

CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA

Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló

CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA

O chefe de Estado da Guiné-Bissau afirmou esta terça-feira que as pessoas que atacaram o Palácio do Governo, enquanto decorria a reunião de Conselho de Ministros, queriam pretendiam mais do que derrubar o Executivo: “Eles não queriam apenas dar um golpe de Estado, queriam matar o Presidente da República, o primeiro-ministro e os ministros”.

Umaro Sissoco Embaló disse ainda que o país está de luto porque “alguns valentes filhos” tombaram “por causa da ambição de duas ou três pessoas, que entendem que o país não tem direito de viver em paz”.

Pelo menos seis pessoas morreram no tiroteio ocorrido no Palácio do Governo, disseram à Lusa fontes militares. O Presidente já tinha indicado que o ataque tinha causado vítimas mortais, mas não disse quantas.

Embaló falou na Presidência da República, em Bissau, depois de uma declaração à imprensa, seguida de perguntas. “Custava-me acreditar que um dia poderíamos chegar a este ponto. Ou que os filhos da Guiné poderiam voltar a perpetrar outro ato de violência. Nem podem imaginar este ato de violência. Preferiria que as pessoas me atacassem pessoalmente”, lamentou.

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Nas declarações aos jornalistas, o chefe de Estado, que se fez acompanhar do primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam, do vice-primeiro-ministro, Soares Sambu, salientou que não nasceu para ser “eternamente Presidente” e que está no lugar pela “confiança da maioria do povo guineense”. “Apelo à comunidade internacional a continuar a apoiar a Guiné-Bissau porque este povo precisa”, sublinhou.

Embaló agradeceu às forças de segurança do país por terem conseguido “impedir este atentado à democracia”, que classificou como um “ato bem preparado e organizado e que poderá também estar relacionado com pessoas relacionadas com o tráfico de droga”.

O ataque ao palácio do Governo, onde decorria o Conselho de Ministros teve fogo cruzado durante cinco horas, explicou o Presidente. “A Guiné-Bissau não merece isto”, disse Embaló, rejeitando qualquer responsabilidade: “Sou um homem de paz, contra a violência”.

O chefe de Estado disse ainda que já falou com o secretário-geral da ONU e pediu calma aos guineenses, assegurando que a situação está controlada. “Peço à população para estar serena”, apelou.

Minutos antes destas declarações no Palácio da Justiça, o Presidente guineense tinha já assegurado estar bem e afirmado que a situação estava “sob controlo governamental”. Numa mensagem publicada no Twitter, Embaló agradeceu “ao povo da Guiné-Bissau e a todas as pessoas, além do nosso país, que estavam preocupadas com o meu governo e comigo”. A mensagem termina com uma saudação: “Viva a República e que Deus proteja a Guiné Bissau”.

Após horas de tensão e desconhecimento sobre o que se passava no interior do Palácio do Governo, o cenário amenizou-se quando, pelas 17h20, os militares entraram no edifício e ordenaram a saída dos governantes. O Presidente já foi, nessa altura, levado para o Palácio Presidencial e foi convocada uma conferência de imprensa.

O Presidente da República de Portugal falou ao telefone com Embaló, “a quem transmitiu a sua condenação veemente, que é a mesma do Governo português e da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], a estes atentados à ordem constitucional na Guiné-Bissau”, pode ler-se numa nota divulgada no portal da presidência.

Quando começou o ataque, no decurso do Conselho de Ministros, alguns membros do governo conseguiram fugir por um muro de vedação nas traseiras do palácio e confirmaram à Lusa que estavam em segurança.

LUSA

O desfecho foi saudado pela Presidência da CPLP, que elogiou, em comunicado, “a firme resposta das autoridades nacionais encabeçadas pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló que levou ao restabelecimento da ordem e apela a acalmia e tranquilidade”. No mesmo comunicado, Angola, que lidera atualmente a CPLP, condena a tentativa de “tomada do poder pela força na Guiné-Bissau”.

A entrada dos militares no palácio acontece depois de horas de tiros de bazuca e rajadas de metralhadora junto ao Palácio do Governo, onde estavam o Presidente da República e do primeiro-ministro guineenses. Militares à paisana tomaram de assalto uma sala onde estavam os dois líderes e outros ministros. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas.

Fonte do Hospital Simão Mendes, em Bissau, disse à Lusa que todos os feridos foram transportados do Palácio do Governo para aquele hospital, sendo que três são ligeiros e um está em estado grave.

Num perímetro de cerca de 500 metros à volta do edifício, os militares colocaram barreiras para impedir o acesso da população à zona, onde também não circulam carros. A DW avançou que a ordem geral era para que a população se recolhesse às suas casa.

Segundo testemunhas contactadas pela Lusa, também perto do Palácio da Justiça esteve uma brigada de intervenção e vários militares e elementos das forças de segurança, que impediram o acesso à zona.

Os disparos começaram por volta das 13h30 da tarde e, a meio da tarde, a maior parte das lojas na capital guineense estavam já encerradas e circulavam poucos carros.

A embaixada de Portugal na Guiné-Bissau apelou aos portugueses no país para que não saíssem à rua. Num comunicado publicado esta terça-feira, a representação portuguesa “recomenda a todos os cidadãos portugueses residentes na Guiné-Bissau que, em virtude dos recentes acontecimentos, permaneçam em casa e aguardem novas informações”. A instituição, que tem como embaixador José Rui Velez Caroço, avisou os cidadãos nacionais para que contactem a embaixada, “em caso de emergência”, pelos seguintes números: +245 966990029 e +245 956802828.

O ministro dos Negócios Estrangeiros português condenou as “movimentações armadas” em Bissau, mas garantiu que não há notícia de qualquer problema entre os portugueses no país.

“Há movimentações armadas em Bissau que se dirigem contra as autoridades legítimas da Guiné-Bissau, o Presidente e o Governo, e Portugal condena qualquer tentativa de, pela violência, impedir o normal funcionamento dos órgãos de soberania da Guiné-Bissau, nos termos da Constituição”, disse Augusto Santos Silva em declarações à Lusa, ainda antes de a situação ter sido dada como controlada.

O governante mostrou “grande preocupação com o que se está a passar”, mas disse que entre os portugueses na capital guineense não há registo de qualquer problema e acrescentou que o avião que saiu de Bissau na manhã de terça-feira descolou em segurança e sem qualquer incidente.

Portugal mostra “repúdio e condenação destas ações contra autoridades legítimas da Guiné-Bissau, e apela a que cessem de imediato, porque a violência contra o Governo e o Presidente é sempre absolutamente condenável”, concluiu.

Também o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, apelou ao “fim imediato” dos “combates violentos” em Bissau e ao “pleno respeito pelas instituições democráticas do país”. Num comunicado distribuído pelo seu porta-voz, Guterres disse estar “profundamente preocupado com a notícia de combates violentos em Bissau”.

Já a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) condenou, em comunicado, a “tentativa de golpe de Estado” na Guiné-Bissau e responsabilizou os “militares responsáveis” pela “segurança do Presidente Umaro Sissoco Embaló e membros do seu gabinete”. “A CEDEAO acompanha com grande preocupação a evolução da situação na Guiné-Bissau, caracterizada por tiros de militares junto ao Palácio do Governo”, pode ler-se.

Tiros ouvidos junto ao palácio do governo na Guiné-Bissau

Exército estabeleceu um perímetro de segurança em torno do Palácio do Governo

ANTÓNIO AMARAL/LUSA

Estes incidentes junto ao palácio governamental acontecem dias depois de uma remodelação do executivo, decidida pelo Presidente da República, que foi contestada inicialmente pelo partido liderado pelo primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam. Posteriormente, o líder do Governo disse que concordava com a remodelação feita.

As relações entre o chefe de Estado e do executivo têm sido marcadas nos últimos meses por um clima de tensão, agravada nos últimos meses de 2021 por causa de um avião Airbus A340, que o Governo mandou reter no aeroporto de Bissau, onde aterrou vindo da Gâmbia, com autorização presidencial.

Entre os governantes afastados na remodelação está o ex-secretário de Estado da Ordem Pública guineense Alfredo Malu, que disse que a sua saída está relacionada com a sua atuação no caso do avião retido no aeroporto de Bissau.

Nas declarações aos jornalistas, o ex-secretário de Estado sublinhou que o Presidente da República considerou que foi da sua autoria a ordem de inspeção ao aparelho por parte de uma equipa de peritos norte-americanos.

O primeiro-ministro começou por dizer que o aparelho tinha entrado no país de forma ilegal e que trazia a bordo carga suspeita, mas dias depois afirmou, perante os deputados no parlamento, que uma peritagem internacional, por si solicitada, concluiu que não se tratava disso, mas sem mais detalhes.

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