“O Professor Bachmann e a Sua Turma”

Realizado por Maria Speth e vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim, este documentário paciente, atento e imersivo (e, com três horas e meia, um pouco longo demais) segue, durante meio ano, uma turma de uma escola de uma cidade industrial alemã composta apenas por filhos de imigrantes de 12 países, rapazes e raparigas entre os 12 e os 14 anos. E que o professor Bachmann do título, à beira da reforma aos 64 anos mas com aspeto de “rocker” impenitente e um passado político radical nunca especificado, procura preparar para a sua integração na sociedade germânica. Isto apesar de, quando interrogados se se sentem alemães, os alunos que levantam o braço para responder dizem que não, mas sim do país de onde vieram, ou do dos pais, mesmo tendo nascido já na Alemanha. Além do seu cuidado cinematográfico e valor documental, o filme é um claro testemunho (talvez involuntário por parte da realizadora) do irrealismo que preside à ideia do multiculturalismo.

“Arthur Rambo”

Karim D., jovem e afável escritor francês de origem argelina, anda ao colo do mundo editorial, cultural, mediático e da Paris “cool” por causa do seu primeiro livro. Mas o paraíso transforma-se em inferno quando é revelado que Karim é também Arthur Rambo, uma personagem que criou no mundo digital e que debita “tweets” homofóbicos, xenófobos, sexistas, anti-semitas e de apoio ao terrorismo islâmico. Inspirado em factos reais ocorridos em 2017, este filme de Laurent Cantet tinha tudo para ser um drama inflamado e de total atualidade, indo desde a radicalização da juventude árabe na Europa até às redes sociais e aos media que num dia erguem ídolos para no dia seguinte os derrubarem e estilhaçarem.  Só que o realizador de “A Turma” fica-se por uma passividade insubstancial e inconsequente, e depois de pôr a a personagem principal a andar em círculos e quase a auto-vitimizar-se, abandona-a num final abrupto e em irritante ponto de interrogação.

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“A Filha Perdida”

A atriz Maggie Gyllenhaal estreia-se na realização com esta adaptação americanizada do romance homónimo de Elena Ferrante, apesar da história continuar a passar-se na Grécia. Olivia Colman interpreta Leda, uma professora de Literatura Comparada à beira dos 50 anos, nascida em Inglaterra mas que vive e trabalha há muito nos EUA e que foi de férias sozinha para uma praia de uma ilha grega. A chegada de uma numerosa, barulhenta e conflituosa família americana de origem grega vem perturbar o seu sossego. Ao mesmo tempo, Nina (Dakota Johnson), uma jovem mãe pertencente a este clã, e Elena, a sua filha pequena, fazem com que Leda seja de súbito assombrada por acontecimentos do seu passado de jovem e assoberbada mãe de duas meninas que procura construir uma carreira universitária. “A Filha Perdida” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.