“A Pior Pessoa do Mundo”

Acabadinha de ser nomeado aos Óscares de Melhor Filme Internacional e Argumento Original, esta fita de Joachim Trier é a última de uma trilogia “não-oficial” passada em Oslo (as outras são “Reprise”, de 2006, e “Oslo, 31 de Agosto”, de 2011), que estabelece o realizador dinamarquês como o cronista cinematográfico das dores, esperanças, ansiedades e desejos da chamada geração dos Millenials no seu país. A heroína de “A Pior Pessoa do Mundo” é Julie (Renate Reinsve, Prémio de Interpretação Feminina em Cannes), que acompanhamos ao longo de quatro anos e em 12 tempos, está à beira dos 30 anos, ainda não conseguiu atingir a estabilidade social, sentimental e profissional, e sente-se cada vez mais ansiosa por causa disso. As personagens, as situações, os sentimentos e os ambientes de “A Pior Pessoa do Mundo” são-nos familiares das comédias românticas, dos filmes “indie” americanos e de um certo cinema francês, mas Trier (que também escreveu o argumento com o seu velho amigo e colaborador Eskil Vogt) maneja muito bem o formato, seguindo as suas convenções e ao mesmo tempo brincando com elas ou mesmo virando-as de pernas para o ar, introduzindo na história, em tom satírico, temas da atualidade como o feminismo #MeToo ou a obsessão do catastrofismo climático, e saindo-se com um par de grandes ideia visuais (por exemplo, a sequência em que Oslo fica “paralisada” enquanto Julie atravessa a cidade a correr para ir ver o amante). Renate Reinsve leva o filme a reboque e é magnífica na inquieta e ansiosa Julie, tanto que não conseguimos deixar de nos interessar pelo destino da personagem, mesmo quando estamos irritados com o seu comportamento e a pedir que apareça alguém que lhe dê um par de gritos e uma chapada para ela atinar de uma vez por todas.

“A Criança”

Filme de estreia da dupla Margueritte de Hillerin e  Félix Dutilloy-Liégeois, esta produção luso-francesa adapta um conto de Heinrich von Kleist e passa-se no Portugal do século XVI, nos arredores de Lisboa, na propriedade de um rico casal de mercadores franco-português, que após perder um filho adotou um rapaz, Bela (João Arrais). Este apaixona-se por uma rapariga de condição social inferior, para grande desagrado do pai adotivo, que quer que ele herde o negócio da família. Rodado com meios limitados e quase nunca saindo do mesmo sítio, ora falado em francês ou em português, muito pouco convincente na recriação histórica e com interpretações desiguais e uma direção de atores indiferente, “A Criança” padece de astenia dramática e prostração narrativa, e parece menos cinema do que um daquelas impessoais e entediantes co-produções de época que se rodavam cá nos anos 80 e 90 para exibição na televisão francesa.

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“Morte no Nilo”

Depois de “Um Crime no Expresso do Oriente” (2017), esta é a segunda adaptação ao cinema feita por Kenneth Branagh a partir de uma obra de Agatha Christie, e em que volta também a desempenhar o papel do detetive Hercule Poirot. Contando ainda no elenco com nomes como Gal Gadot, Annette Bening, Russell Brand, Dawn French ou Jennifer Saunders, o filme, bem como a figura de Hercule Poirot tal como Branagh a compõe, têm muito pouco a ver com anteriores versões do livro feitas para o cinema e para a televisão, como a realizada por John Guillermin em 1978 com Peter Ustinov no papel de Poirot, ou a da série em que David Suchet personifica a imortal criação da “rainha do policial”. “Morte no Nilo” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.