A disseminação das duas plantas nativas da Antártida foi maior de 2009 a 20018 do que nos 49 anos anteriores a 2009, consequência do rápido aumento da temperatura do ar e da redução do número de focas. É a conclusão do estudo publicado no Current Biology, o mais extenso até hoje sobre a vegetação na Antártida.
Os ecossistemas terrestres antártidos respondem rapidamente a estímulos climáticos”, vinca a líder da investigação, Nicoletta Cannone da Universidade de Insubria, em Como (Itália). “Eu esperava um crescimento destas plantas, mas não com esta magnitude. Estamos a receber múltiplas evidências que uma grande mudança está a ocorrer na Antártida”, cita-a o The Guardian.
O foco da investigação incidiu nas populações de hairgrass antártica (de nome científico Deschampsiaantarctica) e pearlwort antártica (de nome científico Colobanthus quitensis) nas ilha Signy, no arquipélago Órcades do Sul. De acordo com os dados, a hairgrass espalhou-se cinco vezes mais depressa entre 2009 e 2018 do que entre 1960 e 2009. Em relação à pearlwort, o aumento foi quase dez vezes superior.
O aquecimento do ar é a principal causa para este fenómeno e, como motivo secundário, está o menor número de focas a habitar a ilha, que pisavam as plantas. A falta de alimentos e as condições do mar poderão ter provocado a diminuição do animal, contudo as razões são incertas. O estudo salienta que as focas influenciaram as mudanças ocorridas de 1960 a 2009, enquanto o principal impulsionador entre 2009 e 2018 foi o aumento da temperatura.
Dado isso, Cannonne deixa o alerta para a perda irreversível da vida selvagem, já que as mudanças podem atrair plantas não nativas e competir com as nativas, que não têm capacidade de resposta.
A invasão de espécies exóticas pode levar a uma perda dramática da biodiversidade nativa da Antártida, que exigiu milhões de anos de evolução e sobrevivência. Além disso, a mudança na vegetação implicará um efeito dominó em toda a flora dos ecossistemas terrestres”, sublinha.
Durante a época do Plioceno (era cenozóica), houve migrações de espécies da América do Sul para a Antártida e vice-versa, também devido às condições climáticas. Os níveis atuais de aquecimento podem já ter desencadeado essas migrações, tais como de musgos, líquens e invertebrados, favorecidas pela atividade humana – ou seja, níveis crescentes de turismo – na Antártida.
O degelo não vai abrandar nas próximas décadas e, acreditam os cientistas, os resultados da ilha Signy são o reflexo das mudanças futuras que acontecerão em toda a região, que passarão desde a acidez do solo e no impacto nas bactérias e os fungos que aí proliferam até à forma como a matéria orgânica se decompõe.