Os responsáveis pela Stellantis, grupo que resultou da fusão entre os franceses da PSA e os italo-americanos da FCA, possuindo cerca de 45.000 trabalhadores em França e 50.800 em Itália, pretendem diminuir o número de funcionários, que globalmente totalizam 300.000 trabalhadores. Segundo a Automotive News, a empresa está a ser acusada de ser algo “criativa” na tentativa de reduzir a quantidade de efectivos, uma vez que têm sido enviados aos empregados, com uma regularidade dita “suspeita”, alertas para oportunidades de trabalho fora da empresa, bem como informações sobre a melhor forma de preencher currículos.
Como segundo maior grupo europeu na produção de automóveis, logo atrás da Volkswagen, a Stellantis tem pela frente alguns desafios importantes, que se prendem com a diminuição contínua da produção de veículos convencionais com motores de combustão e a consequente substituição por modelos com motores eléctricos alimentados por bateria, fruto das limitações às emissões impostas pela União Europeia. Uma vez que os veículos eléctricos são mais simples e rápidos de produzir, por necessitarem de menos peças – os motores e as caixas de velocidade desaparecem, sendo substituídos pelos pequenos motores eléctricos e redutores com apenas dois carretos –, a conclusão dos responsáveis pela Stellantis, corroborada pelos sindicatos, é que vão ser necessários menos operários. Especialmente na situação actual, em que os packs de baterias são adquiridos a fornecedores chineses, reduzindo ainda mais a necessidade de trabalhadores próprios.
Se tivermos em conta que um motor eléctrico tem cerca de 20 peças móveis, contra cerca de 2000 num motor a combustão, é fácil perceber que não só a necessidade de manutenção será inferior, como as fábricas que se dedicam à produção de unidades motrizes serão mais rápidas a fabricar, figurando potencialmente entre as mais afectadas na futura redução de postos de trabalho.
No entanto, se a Stellantis se dedicar a desenvolver a química das suas células e se responsabilizar directamente pela sua fabricação – ainda que isto obrigue a investimentos adicionais –, a perda de postos de trabalho será consideravelmente diminuída. Tanto mais que também será necessário reforçar outras áreas, como o número de técnicos dedicados ao desenvolvimento de software.
Os sindicatos estimam que a Stellantis pretende cortar cerca de 10.000 postos de trabalho em França, até 2025. Já os responsáveis pela empresa dizem que esta estimativa é exagerada, mas a realidade é que os prometidos 5000 milhões de euros em poupança resultante das sinergias, quando a fusão foi anunciada, têm de ser alcançados de alguma forma. E os analistas acreditam que os 300.000 trabalhadores que as 14 marcas da Stellantis empregam globalmente vão ter de contribuir para a redução dos custos.