Alguns rebeldes do norte de Moçambique estão a enviar familiares para zonas de reassentamento, como se fossem deslocados do conflito armado, para obterem alimentação e informações úteis para partilhar com o movimento insurgente, anunciou a polícia.

“Os terroristas, lá nas matas, que são chefes e com possibilidade de movimentar pessoas, estão a usar familiares para se fazerem passar por deslocados enquanto fogem da fome”, descreveu o comandante provincial de Cabo Delgado da Polícia da República de Moçambique (PRM), Vicente Chicote.

O líder policial falava na terça-feira após uma visita a deslocados que tentam começar uma nova vida em Chiúre, no sul da província, zona afastada dos ataques rebeldes.

“Quando chegam nos locais de reassentamento, mandam informações: aqui tem comida, podem atacar, não há polícia e nem soldado”, exemplificou.

Vicente Chicote revelou a informação sobre os bastidores da insurgência para deixar um alerta à população: “temos de ser vigilantes”, rematou.

“Aquele que notar um ambiente estranho deve alertar as estruturas” locais, continuou.

O comandante da polícia recordou que alguns terroristas “são filhos” das terras que atacam e que por vezes os familiares os escondem.

Mas considera necessária a denúncia: “muitas vezes temos receio de denunciar o nosso filho, porque irá preso”, mas mais vale visitá-lo na cadeia “do que ser apanhado” por “pessoas que o podem matar“, referiu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para reforçar o patrulhamento nas comunidades de Chiúre, a PRM apresentou à comunidade duas novas viaturas todo-o-terreno de caixa aberta adaptadas para transporte de agentes.

Só naquele distrito estão reassentados mais de 10 mil deslocados dos ataques armados, na maioria oriundos de Mueda, Muidumbe e Mocímboa da Praia.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas, aterrorizada desde 2017, por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 859 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda, a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques nalguns distritos usados como passagem ou refúgio temporário.