António Ramalho vai abandonar a liderança executiva do Novo Banco, confirmou o banco em comunicado emitido esta quinta-feira. O anúncio foi feito esta manhã na reunião do Conselho Geral e de Supervisão do banco e vai resultar na interrupção do mandato a meio – ainda há poucas semanas Ramalho dizia que estava “comprometido totalmente com o sucesso do banco até 2024. Até 2024 o meu compromisso é total – é assumido assim, e assim será”.

Mas não foi, por razões que ainda não são totalmente claras. Segundo o que foi transmitido pelo próprio Ramalho ao Conselho Geral e de Supervisão, o gestor explicou a decisão com motivos de estratégia pessoal e disse entender que este era o momento certo para abandonar o cargo e assegurar uma transição “tranquila” para a nova fase da vida da instituição.

Em comunicado oficial, divulgado pouco antes das 15h desta quinta-feira, o Novo Banco confirmou a informação. “António Ramalho acredita ser este o momento certo para anunciar o seu desejo de deixar o cargo que assumiu há cerca de seis anos“, pode ler-se no comunicado.

António Ramalho considera ser este o momento para passar a pasta a um novo CEO que lidere o banco no futuro”, acrescenta.

Ramalho sairá efetivamente durante o verão, depois da apresentação dos resultados do primeiro semestre “por forma a garantir uma transição tranquila e sem qualquer perturbação”.

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Lone Star agradece a Ramalho “contributo para a viabilidade” do NB

No mesmo comunicado, pode ler-se que Byron Haynes, presidente do Conselho Geral e de Supervisão, comentou: “Faço questão em agradecer a António Ramalho a sua liderança ímpar, a sua dedicação e o seu contributo para garantir a viabilidade de longo prazo do Novo Banco. António Ramalho foi o rosto da liderança de um processo de transformação do banco, que incluiu a concretização de todos os compromissos definidos no Plano de Reestruturação”.

A ele [Ramalho] se devem ainda a limpeza do balanço do legado do BES, investindo em e apoiando a nossa ação comercial, o lançamento de uma nova marca e a definição de um modelo inovador de distribuição omnicanal. Esta transformação permitiu ao Novo Banco realizar um crescimento rentável e sustentável, e garantir o apoio continuado aos nossos clientes e à Economia Portuguesa em 2021, assegurando o caminho para a concretização dos objetivos do Banco a médio prazo”, termina o comunicado.

Byron Haynes é o principal representante do Lone Star no banco, mas o próprio acionista também já emitiu um comunicado sobre a saída de António Ramalho:

O Lone Star reconhece a contribuição significativa de António Ramalho para restabelecer a marca do Novo Banco em Portugal e devolver o banco à rentabilidade sustentável.”

O fundo que tem 75% do Novo Banco também diz confiar que Ramalho irá contribuir para o “desenvolvimento bem sucedido do banco nos próximos meses” e “assegurar uma transição suave e ordeira no início de agosto de 2022“.

Por seu lado, António Ramalho sublinhou o “privilégio que constituiu a possibilidade de liderar uma vasta equipa num processo único e irrepetível, numa conjuntura adversa e em cujo sucesso poucos acreditavam, preservando um banco sistémico, milhares de postos de trabalho e um incontável número de empresas, e dessa forma o normal funcionamento da Economia Portuguesa”.

“Na sequência desta comunicação vão ser desencadeados pelo órgão competente, o Comité de Nomeações do CGS, os procedimentos com vista à sua sucessão, e as suas conclusões serão anunciadas oportunamente, logo que concluído o processo”, remata o comunicado oficial do Novo Banco.

Governador tinha dito que banco “teve tudo para não pedir mais” dinheiro

No dia 18 de março, em entrevista ao Observador, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, considerou que a gestão do Novo Banco “teve tudo para não pedir mais” dinheiro ao Estado, num ano em que teve quase 200 milhões em lucro.

Centeno em entrevista. Novo Banco “teve tudo para não pedir mais” dinheiro ao Estado, num ano em que teve quase 200 milhões em lucro

A decisão do banqueiro surge poucos dias depois de o mesmo conselho ter concluído que António Ramalho “agiu com total integridade“, à luz de uma análise feita pelo banco às notícias relacionadas com a Operação Cartão Vermelho, incluindo uma alegada proximidade com Luís Filipe Vieira – “não surgiram provas que comprometam a sua idoneidade” para continuar à frente do Novo Banco.

Novo Banco. António Ramalho agiu com “total integridade” na relação com Vieira, diz o fundo Lone Star

O fundo Lone Star domina este organismo de controlo do Novo Banco, o CGS, que é liderado por Byron Haynes. O organismo apreciou a auditoria interna (feita pelo departamento de compliance do banco) e concluiu que não há qualquer evidência de que António Ramalho tenha agido de forma irregular, designadamente em relação a Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Sport Lisboa e Benfica e rosto da Promovalor, um dos maiores devedores do Novo Banco que resultou em perdas suportadas pelo Fundo de Resolução.

Novo Banco. O que pode fazer cair António Ramalho

BCE continua a não querer fazer mais comentários sobre o caso

O caso do Novo Banco também estava a ser objeto de análise por parte do Banco Central Europeu (BCE), o que poderia (ou não) levar a um processo de reavaliação de idoneidade. Questionada pelo Observador a 23 de março, fonte oficial do supervisor europeu indicou que não tinha “comentários adicionais” a fazer sobre o andamento desse processo.

Questionada novamente esta quinta-feira, o BCE reitera que não quer fazer comentários.

António Ramalho deverá, assim, sair do banco após seis anos em que foi o rosto do processo de reestruturação que foi levado a cabo pelo Novo Banco, que envolveu uma sucessão de injeções públicas no âmbito do acordo com o fundo Lone Star – que nesta fase já se aproximam de 3.500 milhões de euros (face aos 3.900 milhões de euros).

Entrou para a instituição substituindo Eduardo Stock da Cunha em agosto de 2016, o banqueiro que veio do britânico Lloyds em comissão de serviço quando Vítor Bento (último presidente do BES e primeiro do Novo Banco) abandonou o cargo após poucas semanas.