Cerca de 140 refugiados ucranianos, maioritariamente mulheres, vão aprender português na Universidade de Lisboa, que começou com duas turmas em abril e têm em preparação uma quinta turma para dar resposta à procura.

A iniciativa foi do Centro de Cultura e Línguas Eslavas da Faculdade de Letras e conta com o voluntariado de professores que dominam ucraniano e russo, entre outros idiomas, disse à agência Lusa o diretor daquele organismo, Gueorgui Hristovsky.

O objetivo é capacitar os novos alunos para os primeiros contactos de integração na sociedade portuguesa, desde a apresentação pessoal, à compra de um bilhete nos transportes públicos ou uma ida ao hospital.

As aulas foram especificamente preparadas para dar resposta aos cidadãos ucranianos que estão a chegar a Portugal, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, que já provocou a fuga de milhões de pessoas do país desde que começou a ofensiva russa, a 24 de fevereiro.

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Os professores adaptaram materiais e recorreram a conteúdos anteriormente preparados pelo Ministério da Educação para refugiados, contou o académico, que deu já duas aulas.

Foi uma experiência completamente nova para mim, um curso de SOS para refugiados. Fiquei muito bem impressionado, têm muita vontade de aprender, são boas pessoas”, afirmou o docente, confessando que a reação dos alunos foi positiva, embora também tenha visto “algumas caras um pouco tristes”.

As turmas são constituídas essencialmente por mulheres, de várias faixas etárias. Em cada grupo há apenas três, quatro ou cinco homens, com mais de 70 anos. Os mais jovens ficam na Ucrânia, no âmbito do esforço de defesa do país.

“Chegaram também algumas crianças, mas já estão na escola”, referiu Gueorgui Hristovsky.

O curso tem a duração de quatro semanas e as aulas são presenciais: “Achei que ficariam mais tristes em casa a assistir às aulas via Zoom. Precisam de sair à rua e de ver pessoas vivas”.

A preparação das aulas e conteúdos contou também com o apoio do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa da Universidade.

Os materiais têm “muitas traduções em ucraniano”. Primeiro é preciso familiarizar os alunos com o alfabeto latino. Depois são introduzidas noções básicas de comunicação, como as saudações e a apresentação. Mas os alunos vão também aprender a elaborar um currículo, para poderem candidatar-se a um emprego.

No final do curso, devem estar capacitados para perguntar a alguém na rua onde fica o metro, para onde vai o autocarro e para descrever sintomas, caso necessitem de recorrer a um médico ou hospital.

Preencher o passe social e conhecer os bens de primeira necessidade fazem igualmente parte da aprendizagem. “A partir destes módulos ficam com algumas bases de língua portuguesa”, assegurou o professor.

Quem chega coloca questões práticas, como a possibilidade de os filhos, alguns ainda na Ucrânia, poderem estudar em Portugal.

Foram concedidos quase 28.581 pedidos de proteção temporária a ucranianos e a cidadãos estrangeiros residentes na Ucrânia desde o início da guerra, dos quais 10.126 são menores, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).