A Viagem de Pedro

Não há registos sobre o que terá acontecido durante a viagem de barco do Brasil independente para a Europa, que D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal fez, com os seus acompanhantes, entre Abril e Junho de 1831, para vir combater o seu irmão D. Miguel na guerra civil. Este filme de Laís Bodanzky, uma co-produção luso-brasileira, especula sobre o acontecimento, mas fá-lo de forma muito mais fantasiosa e alegórica do que realista e plausível, aplicando à história itens do caderno de encargos  da esquerda “woke”, como a obsessão com a escravatura, a “masculinidade tóxica” e a ideologia de género, para já não falar nos anacronismos mais absurdos (a fragata inglesa tem entre a tripulação um contra-almirante negro com um nome nórdico). Interpretado por  Cauã Reymond, D. Pedro é apresentado pela realizadora como um homem atormentado por memórias familiares e sentimentais, delirando e sofrendo de impotência (logo ele…) e desconsiderado pelos escravos e pela criadagem. Para esquecer depressa.

Paris 13

Jacques Audiard, autor de policiais como “Nos Meus Lábios” ou “De Tanto Bater o meu Coração Parou”, e de dramas em carne viva como “Ferrugem e Osso” e “Dheepan”, aparenta estar fora do seu território em “Paris 13”, que escreveu em colaboração as realizadoras Céline Sciamma e Léa Mysius, com base em bandas desenhadas do americano Adrian Tomine. Rodado num preto e branco que remete para as atmosferas do cinema francês dos anos 60, a fita segue as andanças e os problemas familiares, profissionais e sobretudo sentimentais e sexuais de um quarteto de “millenials” (três mulheres e um homem) que moram e trabalham no bairro parisiense das Olympiades. Tirando o episódio de Nora, a estudante tardia de Direito com vocação para o imobiliário, que se vê confundida com uma “cam girl” parecida com ela e começa a ser gozada pelos colegas e bombardeada com mensagens pornográficas, “Paris 13” deixa uma permanente e enfadonha sensação de “déjà vu”, das situações às personagens.

Eiffel

Realizado por Martin Bourboulon, esta foi a produção francesa mais cara de 2020 (custou mais de 20 milhões de euros), sobre a construção da Torre Eiffel por Gustave Eiffel e a sua equipa (a partir de um projecto de dois engenheiros da sua empresa, Maurice Koechlin e Émile Nouguier), por ocasião da Exposição Universal de Paris de 1889. O filme mistura a história da edificação do monumento com todos os problemas que o homem que lhe deu o nome enfrentou, e uma intriga amorosa fictícia, na qual Eiffel (Romain Duris), já casado e com filhos, reencontra uma mulher, também ela casada (e com um amigo seu), Adrienne Bourgès (Emma Mackey), com a qual tinha tido um romance 30 anos antes, em Bordéus, onde estava a construir uma ponte. “Eiffel” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.

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