A inflação na zona euro “está indesejavelmente elevada” e o banco central irá agir de “forma determinada e sustentada” contra a subida dos preços, garantiu esta terça-feira Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE). Em Sintra, para o Fórum anual do BCE, Lagarde diz que o banco central está disponível para “ir tão longe quanto for necessário” para baixar a taxa de inflação para níveis mais próximos do objetivo de médio prazo de 2%.
É um “grande desafio” que a taxa de inflação esteja em níveis elevados – mais de 8% –, sobretudo porque o BCE reconhece que o ritmo de subida dos preços vai continuar elevado “por algum tempo”. Christine Lagarde diz que o BCE irá avançar de forma “gradual” mas sempre “com a opção de agir de forma mais decisiva se houver alguma deterioração das expectativas de inflação no médio prazo, especialmente se houver sinais de uma desancoragem das expectativas de inflação“.
O BCE confirma que planeia aumentar as taxas de juro no próximo dia 21 de julho, o que será a primeira subida das taxas de juro na zona euro desde 2011 – deverá ser uma primeira subida de apenas 25 pontos base (um quarto de ponto percentual). Também se antecipa que em setembro poderá vir outro aumento e Christine Lagarde volta a admitir que “a dimensão do aumento de setembro poderá ser maior, se for necessário“.
Christine Lagarde diz, porém, que mesmo com a taxa de inflação elevada neste momento, “não estamos a enfrentar uma situação normal de procura excessiva generalizada ou sobreaquecimento”. O investimento continua “condicionado” e, “apesar do aumento dos gastos em serviços, o consumo privado na zona euro continua 2% abaixo do nível pré-pandémico”, sublinha Lagarde.
Ao mesmo tempo, contudo, “as pressões inflacionistas estão a intensificar-se e a generalizar-se” nas economias, com sinais de que as subidas de preços estão a enraizar-se sobretudo no setor dos serviços. Por outro lado, “não há fim à vista na guerra entre a Rússia e a Ucrânia” e, nesse contexto, “enfrentamos riscos de corte no fornecimento que podem contribuir para manter em níveis elevados os preços da energia”.
Ao mesmo tempo que promete lutar contra a inflação elevada, Christine Lagarde reconhece o perigo de que esta normalização da política monetária leve a divergências demasiado elevadas entre os custos da dívida dos vários países. Por isso, como já tinha sido anunciado, o BCE está a preparar um novo instrumento que, garante Lagarde, será “eficaz, ao mesmo tempo que será proporcional, e irá conter suficientes salvaguardas para preservar o incentivo dos Estados-membros para seguirem políticas orçamentais saudáveis”.
Esta é uma das principais dúvidas sobre o “novo instrumento” que está em preparação: de que forma é que o BCE pode comprar dívida dos países que estejam sob maior pressão nos mercados? O programa Outright Monetary Transactions (OMT), lançado por Mario Draghi em 2012, implicava que os países em causa tivessem um plano orçamental aprovado pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade. Neste novo instrumento, isso poderá não ser necessário, mas Lagarde garante que as compras serão feitas de uma forma que não irá criar incentivos a que os países não sigam políticas orçamentais sensatas.
Gás natural. “Europa tem de começar a pensar em racionamento”, diz diretor da ACER
“Mais do que pensar no preço [do gás natural], a Europa tem de começar a pensar em racionamento“, afirmou o diretor da ACER, a Agência para a Cooperação entre Reguladores de Energia na União Europeia, um dos intervenientes num debate em Sintra, durante o evento anual do Banco Central Europeu.
Christian Zinglersen reconheceu que “sem o gás natural russo, a Europa não conseguirá encher os reservatórios de gás natural – temos de reconhecer essa realidade”.
É neste contexto que o responsável acredita que, embora toda a discussão nos últimos tempos tenha sido em torno dos preços e de como suportar o encarecimento da energia, “temos de colocar mais a tónica no racionamento – em determinar quem recebe qual gás e em que momento“.
Também sobre o tema da energia, momentos antes foi apresentado um estudo que calculou que um aumento de 30% nos preços do petróleo pode reduzir o PIB na zona euro em 1,5%.
Esse é um trabalho levado a cabo por Hilde C. Bjørnland, que é professora na BI Norwegian Business School e calculou que, em média, um aumento de 10% nos preços do petróleo devido a tensões geopolíticas ou restrições de oferta pode baixar a produção de riqueza em 0,5% após dois anos. Mas o impacto pode ser ainda maior, diz o estudo, se a volatilidade do preço do petróleo for elevada.