Tudo começou ainda antes da pandemia, quando o Clube Fenianos Portuenses (CFP), uma associação cultural e recreativa com 118 anos de uma vida ligada a áreas como a música, a dança, o teatro, a leitura ou as artes plásticas, decidiu juntar-se a outras entidades da cidade para criar um projeto que juntasse a cultura e a coesão social.

A intenção é fazer da criação artística uma ferramenta de intervenção e de combate à exclusão de grupos em situação de risco, em especial jovens entre os 8 e os 26 anos, mas também os maiores de 65. “Os destinatários não serão meros espetadores, vão estar em cima do palco, contando as suas histórias de vida, vão ser também artistas”, sublinha Vítor Tito, presidente do CFP.

A ideia foi ganhando forma e, depois de alguns avanços e recuos, apresenta-se agora numa programação com mais de 60 atividades agendadas até dezembro, completamente gratuitas e abertas a toda a comunidade, contando com o apoio e a parceria do Teatro Experimental do Porto (TEP), a Apuro – Associação Cultural e Filantrópica e a Associação de Solidariedade e Ação Social Asas de Ramalde.

Financiado pelo Programa Norte 2020, o “INCukTurar-te” não quer ficar por aqui e fará parte de um projeto global, o Cultura Para Todos, que nasceu dentro do Ministério da Coesão Territorial para ser posto em prática em vários concelhos do país. “A intenção é que o evento continue no próximo ano e se torne sustentável. Queremos fazer um mini CCB no centro histórico do Porto, um clube que seja capaz de acolher residências e estruturas artísticas, que recupere uma sala de cinema com dois mil metros quadrados e, assim, mantenha a identidade cultural da cidade.”, sustenta o presidente, Vítor Tito.

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Uma academia de teatro sénior, uma conversa sobre restauro e ilusionismo

O TEP, cuja ligação ao clube é “umbilical” e faz parte da sua fundação, em 1953, será responsável pela Academia de Teatro Sénior, pensada para maiores de 65 anos, onde os atores da companhia João Miguel Mota e Joana Mesquita irão trabalhar semanalmente com um grupo de 15 pessoas, cujo trabalho final será apresentado a 18 de dezembro.

“Através de jogos teatrais, a ideia será estimular a autoestima e a espontaneidade, desenvolvendo a comunicação, a imaginação e a interpretação, derrubando preconceitos e promovendo o envelhecimento ativo. Seria interessante termos também antigos atores profissionais neste grupo de amadores”, explica Gonçalo Amorim, diretor artístico do TEP.

Gonçalo Amorim, diretor artístico do Teatro Experimental do Porto: “Quem acha que é possível fazer teatro sozinho está enganado”

“Conversas Restauro” é outra iniciativa promovida pela companhia de teatro mais antiga da cidade e aqui o seu arquivo será protagonista. Os encontros serão orientados pela arquivista Catarina Ventura e vão partir de objetos que fazem parte do património do TEP, como figurinos, desenhos, jornais, fotografias, coleções ou cartazes, que servirão de mote para exposições práticas e teóricas de histórias, peças e momentos que têm marcado o percurso do coletivo artístico.

Rui Spranger, diretor artístico da Apuro – Associação Cultural e Filantrópica, outro parceiro do projeto “INCukTurar-te”, tem também dedicado grande parte da sua vida ao teatro, sendo ator, encenador, dramaturgo e, desde 2003, responsável pelas famosas noites de poesia do Pinguim Café, no Porto. O coletivo que representa estará envolvido na oficina Ensaio Falado, uma viagem pelo texto dramatúrgico e pela experimentação da leitura teatral.

“As sessões serão gravadas e utilizadas para a produção de audiolivros a disponibilizar nas bibliotecas e online”, afirma o também responsável pelos Ateliês de Criação, onde a intenção é montar um espetáculo em apenas sete horas e mostrá-lo ao público. “Os 40 a 50 participantes podem vir de bairros sociais, albergues noturnos ou lares de terceira idade”, adianta, acrescentando que os ateliês se dividem em artes como dança, teatro, música, artes plásticas ou ilusionismo.

Ampliar os conhecimentos de reportório musical, de diferentes estilos e épocas, é o mote da atividade À Volta do Piano. Ao longo de seis sessões o público será convidado a interpretar músicas tocadas ao piano por um profissional e a participar em tertúlias. O ilusionismo é uma das bandeiras do CFP desde a sua fundação, por isso mesmo não poderia estar excluído do programa. Pensada para jovens a partir dos 12 anos, esta ação dará a conhecer a história da magia, explorando as suas diferentes áreas, regras, equipamentos e efeitos, havendo ainda um primeiro passo para aprender esta arte.

Também o cinema fará parte do calendário da iniciativa, com um ateliê destinado ao público juvenil (maiores de 8 anos), que terá a oportunidade de formar uma equipa autónoma de conceção de programas, seleção de filmes, programação, produção de folhas de sala e projeção de filmes. O resultado do trabalho desenvolvido será apresentado mensalmente em sessões abertas ao público, entre os meses de outubro e dezembro.