Ano novo, a mesma vida. Para o FC Porto, o início de uma nova temporada estava longe de ser um corte disruptivo com o passado. Bem pelo contrário: para o FC Porto, o início de uma nova temporada era precisamente mais uma oportunidade para prolongar uma evolução na continuidade que começou em 2017, com Sérgio Conceição, e que já leva três Campeonatos e duas Taças de Portugal.

Ora, este sábado, na Supertaça Cândido de Oliveira, o FC Porto dava mais um passo nesse caminho de consistência. Contra o Tondela, que venceram há dois meses no Jamor na final da Taça de Portugal, os dragões tinham o primeiro teste da temporada e começavam a mostrar tudo o que, já a partir do próximo fim de semana, terão de mostrar em cada jornada da Primeira Liga para revalidar o título. Ainda assim, mais do que isso, a equipa de Sérgio Conceição procurava deixar a ideia de que as saídas de Mbemba, Vitinha, Fábio Vieira e Francisco Conceição, embora importantes, não eram determinantes. 

Ficha de jogo

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FC Porto-Tondela, 3-0

Supertaça Cândido de Oliveira

Estádio Municipal de Aveiro, em Aveiro

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

FC Porto: Marchesín, João Mário, Pepe, Marcano, Zaidu, Uribe, Grujic (Stephen Eustáquio, 70′), Pepê (Bruno Costa, 87′), Danny Loader (Galeno, 70′), Taremi (Gabriel Veron, 87′), Evanilson (Toni Martínez, 45′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Wendell, João Marcelo, Gonçalo Borges

Treinador: Sérgio Conceição

Tondela: Niasse, Jota (Lacava, 80′), Marcelo, Manu Hernando, Tiago Almeida, Iker Undabarrena (Alcobia, 86′), Pedro Augusto, Khacef (Rafael Barbosa, 45′), Bebeto, Telmo Arcanjo (Cascavel, 90′), Daniel dos Anjos

Suplentes não utilizados: Tear, Rúben, Cuba, Fajardo, Betel

Treinador: Tozé Marreco

Golos: Taremi (30′ e 82′), Evanilson (33′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Khacef (37′), a Uribe (60′), a Rafael Barbosa (63′), a Grujic (65′), a Taremi (87′)

“Uma final é uma final. Tudo pode acontecer. Penso que o Tondela vai iniciar o jogo com um onze muito semelhante ao da Taça. É verdade que as opções ficaram mais reduzidas para eles mas há miúdos da formação que subiram e que têm qualidade. Na teoria, nós somos a equipa que tem a obrigação de ganhar o jogo, pela história. Mas é preciso provar isso em campo. Tenho um grande respeito por todas as equipas e não espero um jogo fácil. A nossa concentração está no jogo. Durante estas semanas, a minha energia foi toda para aquilo que posso controlar, que é o balneário e os jogadores. Não sou dirigente para saber se foram bons ou maus negócios. Há gente neste clube há mais de 40 anos, nomeadamente o presidente, que trata desses assuntos”, disse o treinador, que ao longo deste verão recebeu o central David Carmo e o avançado Gabriel Veron, vindos do Sp. Braga e do Palmeiras.

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Ora, no Estádio Municipal de Aveiro e para ir atrás do primeiro troféu da temporada, Sérgio Conceição não podia contar com os castigados David Carmo, Otávio, Diogo Costa, Manafá e Fábio Cardoso e lançava Danny Loader, jovem avançado de 21 anos, como principal surpresa num lugar onde era expectável que surgisse Galeno. Evanilson, Taremi e Pepê eram titulares, Uribe e Grujic faziam dupla no meio-campo, Marcano aparecia ao lado de Pepe no eixo defensivo e Marchesín era naturalmente o dono da baliza. Do lado do Tondela, que desceu à Segunda Liga na época passada, o novo treinador Tozé Marreco colocava Telmo Arcanjo, Daniel dos Anjos e Bebeto no ataque, sendo que os beirões perderam jogadores como Boselli, Salvador Agra, Neto Borges e Tiago Dantas neste mercado.

Os instantes iniciais trouxeram desde logo a dinâmica expectável: o FC Porto totalmente inserido no meio-campo adversário, com a linha defensiva no meio-campo, e o Tondela a procurar resguardar-se para depois explorar as saídas rápidas em transição. Danny Loader teve a primeira situação de perigo, com um cabeceamento para uma defesa atenta de Niasse (6′), e o duelo entre o avançado inglês e o guarda-redes nascido no Senegal acabaria por ser uma das principais características da primeira parte.

Niasse voltou a ser crucial em dois lances de ataque dos dragões, evitando o golo de Evanilson (10′) e depois antecipando-se também ao avançado brasileiro após um grande trabalho de Taremi (26′), e tornou-se definitivamente o elemento em evidência do Tondela ao negar novamente a felicidade a Loader, que surgiu na área a rematar já em esforço (29′). O FC Porto ia insistindo, somando ataques, situações de perigo, oportunidades e aproximações à baliza adversária — e só pecava mesmo numa aparente escassez de largura que afunilava o fluxo ofensivo no corredor central e não permitia explorar as alas através de Zaidu e João Mário. À passagem da meia-hora, porém, o inevitável aconteceu.

Canto batido na esquerda, Evanilson desvia de cabeça ao primeiro poste e Taremi, totalmente sozinho e no poste contrário, só precisou de encostar para abrir o marcador (30′). Três minutos depois, a história inverteu-se: o iraniano tirou três adversários da frente e rematou fraco e ao poste à saída de Niasse e o brasileiro, mais rápido e mais oportuno do que Khacef, fez a recarga para aumentar a vantagem (33′). Em dois lances, os dragões colocavam-se a vencer de forma confortável e confirmavam uma superioridade efetivada pela dupla Taremi/Evanilson, que mostra estar a acelerar para mais uma temporada de uma parceria frutífera.

Até ao intervalo, Niasse ainda voltou a negar o golo a Danny Loader, que surgiu novamente na grande área a rematar à baliza (44′). No fim da primeira parte da Supertaça, o FC Porto estava a vencer o Tondela e tinha mão e meia no primeiro troféu da temporada — até porque a equipa de Tozé Marreco não demonstrava capacidade para reagir ou ter algum tipo de resposta, limitando-se apenas a manter a organização defensiva para evitar um potencial desmoronamento.

No início da segunda parte, ambos os treinadores mexeram: Sérgio Conceição tirou Evanilson, que demonstrou algumas limitações físicas no primeiro tempo, e lançou Toni Martínez, sendo que Tozé Marreco trocou Khacef, que já tinha cartão amarelo, por Rafael Barbosa. Bebeto teve um dos primeiros remates da segunda parte, com um pontapé na esquerda que Marchesín encaixou (51′), e a entrada de Barbosa associada a algum relaxamento do FC Porto levou o Tondela a conseguir equilibrar a partida, aproximando-se mais da baliza adversária e potenciando até um lance em que Pepe roubou um desvio decisivo a Jota (56′).

Ainda que com poucas consequências, os beirões iam conseguindo empurrar os dragões mais para trás e desenhavam, a espaços e quase sempre através da criatividade de Pedro Augusto, lances de ataque interessantes. O jogo foi caindo em qualidade, intensidade e níveis de concentração à medida que o relógio foi avançando e Sérgio Conceição, antecipando uma quebra exibicional semelhante à do Jamor que permitisse um golo do Tondela, tirou Danny Loader e Grujic e lançou Galeno e Stephen Eustáquio para injetar energia e frescura na equipa.

No último quarto de hora, o Tondela pagou a fatura do esforço físico do início da segunda parte e caiu completamente, limitando-se a defender as investidas pouco sérias de um FC Porto claramente ainda em início de temporada e com a noção de que o jogo estava decidido. Tozé Marreco ainda lançou Matías Lacava, Alcobia e Arcanjo, Sérgio Conceição ainda colocou Bruno Costa e proporcionou a estreia do reforço Gabriel Veron, e Taremi fechou as contas já dentro dos últimos 10 minutos ao bisar com um pontapé certeiro depois de deixar vários adversários para trás (82′).

Dois meses depois, o FC Porto voltou a vencer o Tondela e conquistou a Supertaça Cândido de Oliveira pela 23.ª vez, engrossando o registo de recordista absoluto de vitórias na competição e começando a nova temporada da melhor forma e com um título. A época mudou, o ano pode mudar e o disco também: mas continua a ser o mesmo Taremi, que fez dois golos e criou o lance do de Evanilson, a tocar a sinfonia dos dragões.